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Artigos

  • Centenários

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, em 18/07/2002

    Não sei nem quero saber quem inventou a mania de comemorar os centenários. Mas já que eles existem, devemos comemorá-los com boa vontade, eles podem nos ensinar coisas inúteis, como por exemplo, numa certa tratoria de Nápoles, foi feita a primeira pizza marguerita.

  • Tudo tem seu tempo

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, em 14/07/2002

    Como diria Machado de Assis, "no meu tempo já havia velhos, mas poucos". Os evangelhos usaram outra forma. Mais antigos do que Machado, eles não falam "no meu tempo", mas "naquele tempo". Naquele tempo, disse Jesus, naquele tempo um homem vinha de Samaria, naquele tempo, o rei Heródes mandou degolar as criancinhas.

  • Perguntas sem respostas

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, em 11/07/2002

    Nos áureos tempos do cinema-novo, havia perplexidade entre as cultas gentes ligadas ao setor. Os mestres da câmara na mão e uma idéia na cabeça olimpicamente não entendiam como suas obras não alcançavam o grande público, que continuava preferindo filmes dos Trapalhões e Mazzaroppi.

  • Comidas eleitorais

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, em 09/07/2002

    Uma das coisas que me distraem, durante as campanhas eleitorais, é tomar conhecimento pelos jornais e TVs das comidas, petiscos e acepipes vários que os candidatos são obrigados a ingerir, metade por cortesia, metade por cálculo.

  • Inimigo provisório

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, em 02/07/2002

    Mal saído de uma gripe que colocou em risco minha condição de imortal da ABL, peguei um entupimento da trompa de Eustáquio que me causou vexames. Eu pensava que esta tal trompa desse tal Eustáquio fosse alguma coisa ligada ao aparelho genital feminino, daí minha surpresa quando o otorrino me garantiu que eu tinha uma, aliás duas, uma em cada ouvido.

  • Delenda Lula

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, em 30/06/2002

    Mais uma vez, os defensores do Governo na mídia e fora dela estão se esbofando para deletar a suspeita que ronda há tempos a vida nacional: a Polícia Federal está a serviço da nação ou do esquema interessado na eleição de Serra?

  • O bem amado das pulgas

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, em 15/06/2002

    Até que era asseado, tomava banho todos os dias, mas tinha o sangue que ele considerava "doce", daí que era perseguido desde a remota infância por pulgas - das quais se julgava alvo preferencial e inimigo irreconciliável.

  • O vento da história

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, em 27/04/2002

    A vitória de um extremista da direita nas eleições francesas está assustando quem já devia estar assustado. Embora não seja um quadro definitivo, uma vez que no segundo turno Chirac deverá herdar os votos de Jospin, o fato é que estamos diante de um ressurgimento do conservadorismo, e, em alguns casos, do reacionarismo.

  • A realidade do show

    Jornal do Comércio (Rio de Janeiro - RJ) em, em 06/04/2002

    Não me dei ao respeito de assistir a nenhum desses shows da realidade que entraram em moda na TV de alguns países, Brasil inclusive. Nada tenho contra eles, apenas as realidades que eles mostram não me interessam. Não me comovo com elas, nem me revolto pelo fato de um cara dormir de boca aberta ou fechada, de determinada mulher ser assim ou assado. A realidade deses programas é óbvia, e a interação que provocam, excitando o público a torcer por um ou por outro, é primária. Ou como se dizia antigamente, "de quem não tem nada que fazer".

  • Mártires e heróis

    Folha de São Paulo em, em 03/04/2002

    Guerra, qualquer guerra, é acima de tudo uma estupidez. Mas ela faz parte da civilização e, mais do que isso, faz parte da dinâmica histórica.

  • A cor da nossa febre

    Folha de São Paulo em, em 03/03/2002

    Na véspera do acidente que levou o "Titanic" para o fundo do oceano, houve uma reunião no salão nobre do navio a fim de que se escolhesse a cor que deveria predominar no baile que os passageiros estavam programando para a noite anterior à chegada a Nova York. Na antevéspera do naufrágio, a sociedade local, ou seja, os passageiros da primeira classe, estava dividida: havia um grupo a favor do amarelo, outro a favor do azul-turquesa. Os debates foram prolongados e registrou-se um empate técnico. Chamaram o comandante do navio para desempatar. Àquela hora, seguramente, o iceberg que arrebentaria o navio já estava em rota de colisão com o casco do "Titanic". Mas o velho lobo-do-mar adotou a posição que nós, brasileiros, muito conhecemos: ficou em cima do muro (embora estivesse em cima de águas geladas). Disse que, ouvidas as consciências de cada qual, os passageiros podiam vir de amarelo ou de azul - ali reinava a tradicional democracia, o decantado liberalismo do Império Britânico. Não é o caso de compararmos o Brasil a um navio condenado. Por mais pessimista que eu seja, não chegaria a tanto. Mas nosso ufanismo infanto-juvenil tem alguma coisa a ver com a confiança que depositamos num colosso insubmergível. Garantem que isso jamais acontecerá - o Brasil jamais cairá no abismo, porque é maior do que o abismo. Muito bonito. Folgo que assim o seja. E, se dependesse de mim, tudo faria para que continuasse assim, maior do que o abismo. Mas fico desconfiado quando constato a mediocridade de nosso debate político. Perdemos espaço e tempo discutindo a cor de nossas fantasias cívicas, se devemos eleger mulheres ou não, se os prefeitos do PT foram mortos por motivos políticos ou pessoais. Enquanto isso (ou "entrementes", como nas histórias em quadrinhos), um mosquito vagabundo com nome em latim nos remete ao tempo da febre, essa sim, amarela.

  • O cão e o homem

    Folha de São Paulo - São Paulo - SP,, em 12/06/2001

    Já vi a mesma cena, aqui e no exterior. E acredito que todos nós já vimos coisa igual em qualquer parte do mundo.

  • Ficção e história

    Folha de São Paulo - São Paulo - SP,, em 22/03/2001

    Todo mundo sabe o que é ficção científica. O gênero ficou na literatura e no cinema. Pergunta: existe uma ficção histórica? Pode parecer um paradoxo. Ou é história ou é ficção. Mas existe uma história que foi inicialmente produzida pela ficção.

  • A luz e o vento

    Na gruta abandonada pelos homens -diziam que era mal-assombrada- havia quatro velas acesas. As velas falavam. Ou pensavam alto - o que dava na mesma. A primeira vela dizia: "Sou a Paz. Sem mim, o mundo seria desgraçado, todos se matando por nada. Ilumino o caminho do trabalho, da concórdia, do progresso. Sem mim...". Nisso, o vento entrou por uma fresta e apagou a vela da Paz. A segunda vela também falou (ou pensou alto): "Sou a Fé. Sem mim, a humanidade não valeria nada, seria um animal desnorteado, sem saber onde está e para onde vai. Ilumino a alma do homem, levando-o para o caminho de Deus e dos anjos. Sem mim...". Novamente o vento entrou por uma fresta e apagou a vela da Fé. A terceira vela parecia a mais bonita, a que iluminava mais forte e mais longe: "Sou a Paixão, o amor em sua forma mais bela e intensa. Sem mim, os homens seriam vazios, não se compreenderiam, não saberiam o que fazer de si mesmos. Sem mim...". Mais uma vez o vento entrou e apagou a vela do Amor. Sobrou a última vela, que parecia a mais modesta ou inútil -embora nenhuma vela seja inútil: "Sou a Esperança. Não devo valer muita coisa, nada faço materialmente, mas aqui estou, com uma vantagem sobre as demais: nenhum vento me apaga. E tem mais: como continuo brilhando aqui no meu canto, escondidinha e humilde, faço sempre o meu trabalho. Sem mim, a escuridão seria total e eterna". E dizendo isso, a vela da Esperança, acendeu as outras velas, passando sua luz para a Paz, o Amor e a Fé.

  • A magra terça-feira

    Não me dei ao respeito de procurar saber por que a terça-feira de Carnaval é chamada de gorda. Poderia consultar o Google. Na última vez que o fiz, informaram-me que sou um pai-de-santo no Maranhão, famoso por unir casais separados e curar maridos embriagados.O sujeito tem o mesmo nome, Carlos Heitor. No princípio, como lá está no Gênesis, era o verbo, que, no caso dele, era Cury, mas houve um erro no registro civil e ele ficou com o meu nome completo. Consta que dá muito trabalho consertar nomes no Maranhão, é mais fácil inventá-los, como o Sarney e o Gullar. Mesmo porque ele deixou o Cury inicial e se incorporou num pai Domingos cujas façanhas já foram cantadas em versos de cordel.