Na gruta abandonada pelos homens -diziam que era mal-assombrada- havia quatro velas acesas. As velas falavam. Ou pensavam alto - o que dava na mesma. A primeira vela dizia: "Sou a Paz. Sem mim, o mundo seria desgraçado, todos se matando por nada. Ilumino o caminho do trabalho, da concórdia, do progresso. Sem mim...". Nisso, o vento entrou por uma fresta e apagou a vela da Paz. A segunda vela também falou (ou pensou alto): "Sou a Fé. Sem mim, a humanidade não valeria nada, seria um animal desnorteado, sem saber onde está e para onde vai. Ilumino a alma do homem, levando-o para o caminho de Deus e dos anjos. Sem mim...". Novamente o vento entrou por uma fresta e apagou a vela da Fé. A terceira vela parecia a mais bonita, a que iluminava mais forte e mais longe: "Sou a Paixão, o amor em sua forma mais bela e intensa. Sem mim, os homens seriam vazios, não se compreenderiam, não saberiam o que fazer de si mesmos. Sem mim...". Mais uma vez o vento entrou e apagou a vela do Amor. Sobrou a última vela, que parecia a mais modesta ou inútil -embora nenhuma vela seja inútil: "Sou a Esperança. Não devo valer muita coisa, nada faço materialmente, mas aqui estou, com uma vantagem sobre as demais: nenhum vento me apaga. E tem mais: como continuo brilhando aqui no meu canto, escondidinha e humilde, faço sempre o meu trabalho. Sem mim, a escuridão seria total e eterna". E dizendo isso, a vela da Esperança, acendeu as outras velas, passando sua luz para a Paz, o Amor e a Fé.