Uma das coisas que me distraem, durante as campanhas eleitorais, é tomar conhecimento pelos jornais e TVs das comidas, petiscos e acepipes vários que os candidatos são obrigados a ingerir, metade por cortesia, metade por cálculo.
Nunca fui candidato nem nunca tomei parte em campanha alguma, mas sei como as coisas se passam. Os condenados ao triunfo são obrigados a digerir coisas estranhas, ao sabor de circunstâncias imprevisíveis. FHC encarou uma buchada de bode e Juscelino, certa vez, chegou a uma cidadezinha e a mulher do prefeito ofereceu uma pasta amarelada, exigindo que o candidato provasse e adivinhasse o que era. JK provou mas não adivinhou: disse que eram ovos mexidos mas a mulher do prefeito garantiu que eram miolos de búfalo com açafrão.
Juarez Távora, precavido, levava com ele um kit de sobrevivência, uma galinha cozida na água e sal, ele sofria do estômago e se obrigava à dieta rígida e cadavérica.
Mas a peça de resistência de uma campanha que se preza é, desde remotos tempos, a maionese fatal, abundante, inacabável. Antes dela, houve a fase do macarrão com sardinha em lata, mas não se sabe por que foi desbancado pela maionese, que tem foros mais sofisticados e o mesmo teor entupitivo.
Vejo agora os candidatos presidenciáveis comendo pastéis de queijo, com ou sem o caldo de cana, que geralmente acompanha tal petisco popular, do qual, aliás, sou entusiasta antigo e jamais saciado.
Jânio Quadros atribuía o sucesso de suas campanhas não às idéias e planos que defendia, mas ao fato de que comia tudo o que lhe era oferecido, pedia mais, fazia uma espécie de quentinha para comer pelo caminho. Na primeira curva da estrada, jogava a quentinha fora mas ganhava os votos de comunidades inteiras.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 09/07/2002