Todo mundo sabe o que é ficção científica. O gênero ficou na literatura e no cinema. Pergunta: existe uma ficção histórica? Pode parecer um paradoxo. Ou é história ou é ficção. Mas existe uma história que foi inicialmente produzida pela ficção.
Outro dia, num documentário da TV, vi o presidente Roosevelt jurando por todos os deuses que os Estados Unidos jamais entrariam na guerra provocada pela Alemanha. Ano e meio depois, para responder ao ataque a Pearl Harbor, o mesmo presidente, com a mesma convicção, declarou guerra ao Eixo.
Na época, uma ou outra voz isolada levantou a hipóteses de o ataque japonês não ter sido surpresa. Fazia parte da estratégia de Roosevelt para motivar o americano médio, que vivia no Kansas, a ir morrer nas Filipinas ou nas praias da Normandia.
Hoje, está provado que o ataque àquela base naval era sabido e foi tolerado pelo governo norte-americano. O que parecia ficção, virou história.
Em tempos de paz, a guerra por mercados é tão cruel como a guerra comum. Vale tudo, a estratégia a curto e a longo prazos, a definição dos objetivos e as ações necessárias para alcançá-los.
De certa forma, o petróleo é mais importante que um território, que pode mudar de dono diversas vezes. Petróleo tem de render tudo o que pode, antes de acabar. A guerra pela sua exploração é truculenta, bem mais do que a sua comercialização.
Bem ou mal, a Petrobrás, com todos os erros de sua criação e operação, é uma gigante no setor. Perdeu o monopólio, mas continua estatal - o que aguça o apetite dos grupos que não encontram com facilidade uma presa tão valiosa para capturar.
Não sei se me fiz entender, lembrando o ataque a Pearl Harbor e o desastre da plataforma na bacia de Campos. A ficção de hoje pode ser a história de amanhã.
Folha de São Paulo - São Paulo - SP, 22/03/2001