A vitória de um extremista da direita nas eleições francesas está assustando quem já devia estar assustado. Embora não seja um quadro definitivo, uma vez que no segundo turno Chirac deverá herdar os votos de Jospin, o fato é que estamos diante de um ressurgimento do conservadorismo, e, em alguns casos, do reacionarismo.
Da metade para o final do século pasado, havia a convicção de que o vento da história soprava em direção contrária, rumo aos diversos socialismos existentes no mercado. Quanto mais não fosse, para a social democracia que aqui e ali deu sinais e vitalidade.
Ao iniciarmos o século, além de casos miúdos e isolados, constatamos que a direita radical passou a ocupar importantes espaços no tabuleiro internacional. Para citar apenas alguns: Estados Unidos com Bush, Itália com Berlusconi e Israel com Sharon. Um trio respeitável, cada qual com suas peculiaridades.
Enquanto isso, a esquerda parece fatigada de lutar - e tem motivos para esse cansaço. Além de brigar com a corrente adversária, briga consigo mesmo. Outro dia me perguntaram por que os líderes da direita radical são bem sucedidos nas eleições.
Seria eu a última pessoa do mundo a saber responder a questão, que me parece controversa. Mas vamos lá: disse que a vantagem dos radicais da direita é que eles não mentem, dizem o que pensam e, no poder, fazem exatamente aquilo que prometeram.
O exemplo mais notável seria Hitler. Antes de tomar o poder, por via democrática, ele revelou tudo o que pensava e queria fazer.
Até mesmo o holocausto dos judeus, o domínio da raça ariana, a necessidade da guerra para o espaço vital da Alemanha etc.
Na esquerda predomina o tipo de político falastrão que, uma vez no poder, a primeira coisa que faz é pedir que esqueçam o que ele pensava antes e prometeu.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 27/04/2002