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Artigos

  • O fim da história

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 16/01/2005

    Filme de Billy Wilder absorveu um fato real ocorrido há tempos, na época em que a Guerra Fria vivia momentos de tensão. Um alto funcionário do Departamento de Estado vai se hospedar num hotel italiano famoso. Honrado pela deferência, o gerente informa que Benjamim Franklin também ali se hospedara, seus aposentos foram transformados em museu. Convidou o importante hóspede a visitá-lo. O maioral do Departamento de Estado recusou o convite. E explicou: "Para os nossos padrões, Franklin não passou de um comuna desprezível".

  • Salão de Paris

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 15/01/2005

    Mais uma vez, o mundo se curvará diante do Brasil. O mundo é Paris, onde teremos um salão dedicado ao Brasil. Governo e particulares já estão se preparando para o evento, quando se realizarão shows, mostras e palestras da efervescente cultura nacional.

  • Converter os convertidos

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 13/01/2005

    Continuo achando sem sentido a campanha que está sendo feita aqui no Rio contra a violência, baseada numa palavra de ordem: "Basta" -no momento, não sei se colocaram um ponto de exclamação, mas, com exclamação ou sem ela, a cruzada deve ser louvada pela boa intenção, não por sua eficácia.

  • O tempo dos fármacos

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 12/01/2005

    Fiquei alarmado quando perguntaram a meu pai se ele era rico ou pobre. O pai respondeu: "Sou remediado". Achei que ele estava mentindo, pois nunca o vira tomar qualquer remédio. Quando tinha dor de cabeça, botava na testa rodelas de batata molhadas em vinagre, amarrava-as com um lenço de seda, ficava parecido com um condenado à cadeira elétrica, cheio de eletrodos mortais.

  • O grande culpado

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 11/01/2005

    Volta e meia me perguntam por que o Brasil não dá certo. Políticos, sociólogos, historiadores, economistas, filatelistas e columbófilos divergem nas causas, mas reconhecem os efeitos. Na realidade, tirante os otimistas e deslumbrados, todos admitem que, apesar de nossos avanços, de nosso progresso com ou sem ordem, alguma coisa atrapalha o Brasil.

  • Diferencial Lula

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 10/01/2005

    Político com estrada na vida pública, o mais experimentado na selva do poder, costuma dizer que nada resiste a uma foto, nenhum fato deve ser levado a sério se não for documentado por uma fotografia.

  • Rude e terrível

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 09/01/2005

    Desde Homero que o mar é cantado em prosa e verso. Dorival Caymmi, sem experiência própria no assunto, garantiu que é doce morrer no mar. Pulando de Homero e Caymmi para o tsunami que devastou terras e ilhas, matou sem doçura gente pobre e gente rica, lembremos a mais famosa crônica de Rubem Braga, "Ai de ti, Copacabana".

  • Excesso de dosagem

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 08/01/2005

    Num dia da semana que está acabando, contei as páginas que os jornais dedicaram ao futuro presidente da Câmara dos Deputados. Uns pelos outros, deram cerca de três páginas compactas ao emocionante evento, com fotos dos personagens envolvidos e do onipresente Zé Genoino coordenando os trabalhos, boxes, previsões de "cenários" e retrospectos explicativos, na base do "entenda melhor o caso".

  • Incenso, ouro e mirra

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 06/01/2005

    Hoje é dia dos Reis Magos - história ou lenda que foi absorvida no calendário cristão, mencionada nos textos evangélicos, mas comum a diversas culturas e tradições. Pelo que se sabe, não chegavam a ser reis de qualquer reino da Terra, mas reis de um território sem fronteiras nem donos, o da magia. Ao contrário dos sábios pagãos que olhavam as tripas de aves e répteis, eles olhavam o céu e viam sinais -tal como o Paulo Coelho, que também é mago e vê sinais nas areias de Copacabana.

  • Cidade fantansma

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 05/01/2005

    Semana passada, cheguei ao Galeão, vindo de Roma. Antes, havia enfrentado o Leonardo da Vinci, o aeroporto romano. Fizera escala em Frankfurt e São Paulo. A impressão que tive, ao olhar pela janelinha do MD-11, foi a de chegar a uma cidade fantasma. Nada parecia existir além da imensa estrutura de concreto armado. Nem mesmo uma vila, um aglomerado de casas e vidas.

  • O animal teimoso

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 04/01/2005

    A recente tragédia na Ásia causou um impacto mundial e, ao mesmo tempo, uma surpresa. O trauma foi terrível e atingiu a todos nós, que mais uma vez ficamos conscientes da fragilidade do nosso mundo e de nossas vidas.

  • Grandes esperanças

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 03/01/2005

    Entre as frases do ano que passou, os resenhistas destacaram uma confissão de Lula: "Não somos tão ruins quanto alguns nos acusam nem tão bons como pensamos que somos" (a frase exata pode não ser essa, mas o sentido é esse mesmo). Boa frase, mas que pode se aplicar não apenas ao governo atual mas a todos os governos passados e futuros. Mais: em escala individual, pode se aplicar a cada um de nós, que nunca somos tão ruins como os outros pensam nem tão bons como julgamos de nós mesmos.

  • Loucura e lucidez

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 02/01/2005

    O lugar-comum e a má informação generalizada colaram em cada ano que se inicia o adjetivo "próspero". Desejam a todos nós e nós desejamos a todos um próspero Ano Novo. Não nos custa nada formular este voto, e nada custa aos outros que nos desejam a mesma prosperidade.

  • O dilúvio e a pomba

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 01/01/2005

    O ano terminou bem, como se espera das coisas que acabam. Respeito os mortos e feridos pela onda que surgiu das profundezas e devastou ilhas e terras. Se dependesse de mim, não teria havido a tragédia, a do tsunami e as outras que andaram por aí e seguramente vão andar no próximo ano.

  • Os pinheiros de Roma

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 15/12/2004

    Leitores me perguntam o que eu penso sobre a abertura dos arquivos secretos ou sigilosos do Estado. Sou a favor da abertura, de todas as aberturas e de nenhuma fechadura, a não ser a própria, aquela que botamos nas portas e que fecha e dura. O acesso aos papéis higienicamente guardados pelos sucessivos governos servirão aos historiadores e a um ou outro interessado pessoal. Quando abriram os habeas-data nos Dops da vida, o que apareceu de besteira não foi mole. Um amigo ficou sabendo que havia deflorado a própria mãe. O agente que registrou o grave e assombroso incidente usou o verbo "deflorar", que significa tirar a virgindade de uma mulher. No caso dos arquivos, por motivos legais e afetivos, é urgente e necessário saber o destino dos mortos e desaparecidos, por que, quando e como morreram ou desapareceram. É uma crueldade do Estado manter esse sigilo. Já bastam os ossos de Dana de Teffé, que ninguém até hoje sabe onde estão. Um país decente não pode guardar sua história nos porões de qualquer Estado ou de qualquer regime. Quem faz a nação é o povo, e não o Estado, muito menos o regime.