Num dia da semana que está acabando, contei as páginas que os jornais dedicaram ao futuro presidente da Câmara dos Deputados. Uns pelos outros, deram cerca de três páginas compactas ao emocionante evento, com fotos dos personagens envolvidos e do onipresente Zé Genoino coordenando os trabalhos, boxes, previsões de "cenários" e retrospectos explicativos, na base do "entenda melhor o caso".
Não me dei ao respeito de ler nada dos textos, passei os olhos pelos títulos e, logicamente, fiquei sem entender o caso. Mesmo que lesse tudo, letrinha por letrinha, pouco entenderia. Nas TVs, os especialistas no complicado xadrez da política também deitaram e rolaram sobre o assunto.
O tsunami que devasta corações e mentes na seara específica se resume ao fato de haver dois candidatos do PT para a mesma cadeira, um do próprio partido, parece que lançado por si mesmo, outro do mesmo partido, mas ungido com as bênçãos do presidente da República.
Tudo nos conformes da missão e profissão dos políticos, que vivem e dependem de cadeiras, espaços, cenários e compensações. Estão lá para isso mesmo e não merecem ser criticados por exercerem o direito de serem como são.
O que me espanta é o entusiasmo da mídia ao cobrir um fato da rotina parlamentar, que não chega a trazer substancial auxílio ou prejuízo à vida nacional, aos desafios que deverão ser enfrentados, aos problemas que realmente preocupam o governo e a sociedade.
Sabemos que a mídia, principalmente a impressa, tem sofrido um êxodo progressivo de leitores e consumidores. Em linhas gerais, nunca os meios de comunicação se apresentaram tecnicamente tão bem aparelhados, tão sedutores na maneira de veicular notícias e comentários.
Lembro uma revista que dedicou oito páginas ao casamento de uma das filhas de um dos donos da empresa. Socialmente, um acontecimento. Mas o exagero da cobertura afastou leitores e publicidade.
Folha de São Paulo (São Paulo) 08/01/2005