Volta e meia me perguntam por que o Brasil não dá certo. Políticos, sociólogos, historiadores, economistas, filatelistas e columbófilos divergem nas causas, mas reconhecem os efeitos. Na realidade, tirante os otimistas e deslumbrados, todos admitem que, apesar de nossos avanços, de nosso progresso com ou sem ordem, alguma coisa atrapalha o Brasil.
Já disse mil vezes que sei a causa: não encontramos ainda os ossos de Dana de Teffé, que funcionam como sapo de macumba e entravam nossa marcha para um porvir grandioso.
Pessoas mais sérias, mais por dentro das coisas, atribuem a nossa urucubaca ao fato de todos os anos mudarem as regras do Imposto de Renda. Desde Cabral, não o Bernardo, mas o Pedro Álvares, não houve dois exercícios que tivessem as mesmas tabelas, os mesmos cálculos, os mesmos coeficientes. Seria essa uma causa técnica, que pessoalmente respeito, mas não acredito nela. O Brasil vive muito bem sem e acima de qualquer técnica.
Mas, pensando com seriedade, acho que além dos ossos não encontrados de Dana de Teffé, há um motivo que deve ser levando em consideração.
Foi há tempos, num dos elevadores do edifício Avenida Central, aqui no Rio. Hora do rush, todos querendo descer, o elevador pára, se não me engano, no 18º andar. Já vinha cheio desde o 33º, todos tinham pressa em chegar ao térreo. Num andar vazio, um único sujeito apertara o botão e fizera o elevador parar.
Bastava isso para todos terem raiva do sujeito, que piorou as coisas tentando entrar na cabine lotada. Espremeu-se e fez todos se espremerem. Pensou um pouco e saiu. Pensou melhor ainda e tentou entrar de novo na cabine. Saiu outra vez e tentou novamente embarcar no elevador lotado.
Numa das vezes em que estava do lado de fora, a porta se fechou e o elevador prosseguiu a descida. Foi então que uma voz se fez ouvir lá de trás: "É por causa disso que o Brasil não vai para a frente!".
Folha de São Paulo (São Paulo) 11/01/2005