Um peru em Bagdá
Peço ao leitor que me perdoe. Ando tão por conta com o que o George W. Bush está fazendo com o seu país e conosco, que não consigo deixar de repicar o tema.
Peço ao leitor que me perdoe. Ando tão por conta com o que o George W. Bush está fazendo com o seu país e conosco, que não consigo deixar de repicar o tema.
Quando visitei a finada União Soviética, Gorbatchev era o alvo da curiosidade mundial. Era o homem da Glasnost e da Perestroika. Convidou-me para um passeio pelos jardins do Kremlin. Numa pequena praça, ali estava, num modesto berço, um velho canhão da guerra de 1914, carcomido pelos anos e pela neve.
O debate sobre a maioridade penal faz parte da visão global da violência no país. Não se está discutindo uma alta indagação sobre a idade do domínio pleno da personalidade, da consciência do bem e do mal. A realidade dramática e cruel dos números revela que os jovens estão matando e sendo mortos. Cerca de 70% dos homicídios, nas duas pontas, acontecem nessa faixa etária.
Quando o Brasil começa, com a Independência, a idéia fundamental da construção do país foi a noção de que ele teria que nascer dentro de um Parlamento. O primeiro passo foi a convocação de uma Assembléia Constituinte. Era o ano de 1823. Concretizava-se a idéia da representação para legitimar a monarquia.
O Brasil está como o Criador o fez e a geografia o consagrou. Sua diversidade não é somente bio, mas política, cultural e surpreendente. Do futebol ao samba, somos todos naturais.
O Elio Gaspari popularizou a expressão ''o dinheiro da Viúva''. O Boris Casoy completou: ''Está saindo do nosso bolso, uma vergonha!'' A contabilidade desses trocados está no Orçamento da União, que todo ano é proposto pelo Executivo, votado no Legislativo e motivo de muita briga e celeumas.
A tragédia na Base de Lançamento de Foguetes de Alcântara, no Maranhão, foi frustração e comoção. Foram perdas tecnológicas, científicas, de dinheiro, tempo e trabalho. Mas as perdas humanas, impossíveis de repor, doem mais. Chorá-las é pouco. Há o lado humano, da morte e das famílias. Saí dilacerado da cerimônia fúnebre de São José dos Campos.
Não se cobre coerência ao terror. Esse exercício nos levaria a desmesurada confusão mental. Numa lógica linear, o último atentado a ser praticado pelos desesperados iraquianos seria à sede das Nações Unidas em Bagdá. A ONU resistiu a todas as pressões americanas para aceitar a invasão do Iraque como guerra justa. Seus inspetores esgotaram o extremo da paciência nas repetidas e infrutíferas viagens que fizeram em busca das armas de destruição em massa. As Nações Unidas recusaram-se a participar de uma farsa para descobrir os esconderijos dos artefatos que iriam levar as bombas biológicas e químicas tão desejadas por Condolezza Rice.
Não há como esconder a gravidade da depredação do edifício do Congresso Nacional e da tentativa de sua invasão. Mostra o episódio a vulnerabilidade das dependências da Casa e, conseqüentemente, do seu funcionamento.
Vamos falar do Iraque, fugindo aos temas aqui da nossa terra. Este será um assunto que vai permanecer na agenda internacional por muito tempo e pode transformar-se em referência do que não se deve fazer, como o Vietnam, que até hoje amargura o povo americano.
Há muitas nuvens. São formações pesadas que fazem a meteorologia ter previsão de chuvas, ventos e granizo.
Rui Barbosa criou a máxima de que ''fora da lei não há salvação''. Hoje, que outros temas e outras aspirações circulam na cabeça e na esperança de todos nós, a palavra desenvolvimento passou a ter status de magia. É que sem ela não só não existe salvação, como não existem emprego, renda, bem-estar, paz, segurança, tranqüilidade pública e futuro. Daí a necessidade de crescer. Enfim, desenvolvimento, progresso e crescimento são farinhas do mesmo saco.
O IBGE divulgou um índice novo que nos torna mais moços e mais duvidosos sobre a contagem da nossa idade. A coisa passou assim meio desapercebida, a não ser o tratamento que lhe deu a Folha de S. Paulo, que entendeu a coisa. É que, ao aferir o índice de expectativa de vida dos brasileiros, hoje na casa dos 68,6 anos, na febre de saber tudo que ocorre na sociedade, aprofundando pesquisas, surgiu um novo critério de ''viver sem qualidade''. Isto é, não basta viver que não é viver, é preciso, para contar, viver ''com qualidade''. O diabo é saber que qualidade é essa. O índice aferido pelo IBGE diz que o brasileiro vive 21,3% de sua vida com alguma incapacidade, e não conta. Assim, a expectativa de vida de 68,6, que temos, passou para 54 anos.
Leio em Sábato: “Todos os homens necessitam de um chão e de um lar. Não podem viver sem pátria.” Ou, como queria Unamuno, sem '''mátria', mãe e pátria, verdadeiro fundamento da existência.” Pelo que vi sobre os festejos dos 500 anos, estamos com uma grande dívida de civismo e de amor ao Brasil, agredido sem defesa. Mas eu tenho orgulho e gosto dele, fiquei chocado com tudo o que aconteceu, os insultos e os incidentes.
Morreu com Josué Montello o último escritor de uma geração que, na expressão de Oswald de Andrade, era os "búfalos do norte", que invadiram a Semana de Arte Moderna, deixando-a de lado para sustentar todo um período brilhante, talvez o mais fecundo, da ficção brasileira que se chamou o romance nordestino. Embora a sua temática fosse diferente daquela trabalhada por Franklin Távora, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, mais voltada para os problemas sociais e para a denúncia da seca e da miséria, Josué Montello seguiu a continuidade do romance citadino machadiano, e aqueles de seu tempo como Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida, Lima Barreto e tantos outros. Josué iria agregar uma temática nova, da reconstrução do tempo, vinculada à vida cotidiana do Maranhão, com livros extraordinários, o maior deles "Os Tambores de São Luís", que, com um século de atraso, é o magistral romance sobre a escravidão.