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Artigos

  • Se Zélia não existisse, precisaria ser inventada

    Para a Academia Brasileira de Letras, que hoje elegeu a sucessora de Jorge Amado, se Zélia Gattai não existisse, precisaria ser inventada. Jorge é de longe o escritor de maior visibilidade da história de nossa literatura - o advento de Paulo Coelho pode ser superior no detalhe da venda de livros mas atua numa faixa específica que não concorre com o autor de "Gabriela".

  • Do trágikos à tragédia - A atualidade do trágico

    Do ponto de vista histórico, o trágico sempre foi atual. Sua permanência na condição humana está e estará assegurada enquanto houver vida e morte na aventura de cada um de nós.Lembremos o conceito do cômico e do trágico na concepção da filosofia e do teatro dos gregos. Comédia é a história que termina bem. Tragédia é a história que termina mal. Foi assim que Dante deu o título à sua comédia, pois sua viagem começou no inferno, passou pelo purgatório e terminou no paraíso. Logo, terminou bem. Foi realmente uma comédia que ele adjetivou de divina.

  • Operação Condor

    Volta ao noticiário, de forma ainda esparsa, dando tiro em várias direções, a chamada “operação Condor”, uma rede político - policial que eliminou diversas pessoas que atentavam contra a paz totalitária vigente na América Latina, durante os anos 70.

  • Emocionante torcida por submarinos noturnos

    Os ingleses inventaram o futebol. Os americanos, o basquete. Os espanhóis, as touradas. E os romanos, as lutas livres. Tudo bem, cada coisa em seu lugar. O carioca inventou uma modalidade esportiva bem mais interessante, embora caída em desuso devido à violência urbana e ao medo de assaltos. Um esporte complicado, gostoso, que consistia em torcer por uma corrida imaginária de submarinos, à noite, ali no Arpoador, no Leme, mais tarde em toda a orla.

  • O equívoco

    O curador de resíduos marcara uma audiência coletiva, todos os herdeiros, com suas respectivas fêmeas, deveriam presenciar a assinatura de um termo, ele se atrasara em busca da certidão de casamento de um tio-avô morto havia tempos, correu pelas ruas para chegar à hora certa. Viu uma mulher caminhando na calçada oposta. Apesar da pressa e do cansaço, atravessou a rua e tentou acompanhar a mulher, lutando contra os transeuntes que o atropelavam. "Taí uma mulher gostosa! Com essa eu topava!" A mulher fazia o mesmo itinerário, e só quando chegou muito perto dela foi que a reconheceu: "Otávia!".

  • Lula é imbatível?

    A pulverização dos candidatos presidenciais está colocando Lula numa situação confortável e até certo ponto imbatível na sucessão de si mesmo. Não sou entendido em política o suficiente para entender as razões de cada partido e de cada candidato. Acho que está na cara que o nexo comum de todos (fora Lula, é claro) é bater forte no atual presidente pelo fato de ele ser também candidato.

  • Golpe de Estado

    Quincas, o general-de-brigada Joaquim Osório de Lima, herói de 1937, quando conseguiu tomar a cantina da Faculdade Nacional de Direito -onde dois estudantes, depois de uma passeata de rua, haviam se escondido-, estava ao telefone e comunicava que a coisa ia para as cabeceiras. Vestiu a farda e foi para o quartel botar a tropa na rua.

  • Opinião da vaca sobre a vida

    RIO DE JANEIRO - Era uma vez uma vaca. Como todas as vacas, parecia exatamente uma vaca: tinha rabo, úbere, patas, cheiro, design convencional e tudo o que normalmente se entende por uma vaca. Acontece que, ao contrário das vacas e de certos homens, essa tinha opiniões. Eis a questão: uma vaca com opinião podia ter razão, mas não inspirava confiança. Era um perigo e, certamente, uma ameaça.

  • Enfim, um discurso

    Sem ter nada o que fazer no primeiro dia do ano, procurei ouvir com atenção e respeito os dois discursos de Lula, um no congresso, outro no parlatório do Palácio da Alvorada.

  • Saddam e a forca

    Com exceção dos Estados Unidos e da Inglaterra, paladinos da civilização ocidental, parece que todos os outros países condenaram a execução de Saddam Hussein, no último dia do ano que passou.

  • A estátua e o gesto

    RIO DE JANEIRO - Não chega a ser um objeto de culto, não pertence a nenhuma religião específica, embora tenha o visual e o nome do fundador de uma delas. Na verdade, é um bloco de cimento rude revestido de pequenas escamas, como as naves espaciais. Um gigante de muitos metros de altura, com os braços abertos, incansavelmente abertos apesar do gesto, não lembra uma cruz, mas um abraço.

  • O exemplo de JK

    Ainda acho que a provável reeleição de Lula, já no primeiro turno, se deva mais à desorientação ou fraqueza dos demais candidatos. Falta-lhes uma idéia básica e aglutinadora, um programa de metas, como o de JK quando eleito, em 1956. Reuniu equipe de técnicos, elaborou um roteiro que sacudiria o Brasil e cujos resultados até hoje desfrutamos.

  • Edifício Babilônia

    Em sentido figurado, ela passou à história como cidade maldita, antro de fornicaçõesATÉ QUE chegou o dia da mudança -uma batalha que avançou milímetro a milímetro, segundo a segundo, os carregadores que botavam mãos suadas em cima dos estofados, a geladeira que enguiçou na porta e ficou sem sair nem entrar, o parafuso que armava a cama -velha e honesta cama de seus primeiros anos de casado e que agora seria rebaixada para o quarto dos objetos inúteis. Pois o parafuso quebrou dentro da madeira, e a cama teve de ser retirada pela janela, armada como um esquife, espantando a todos os vizinhos e desocupados que se fincaram o dia todo para acompanhar as operações. Ele viu a cama descendo, amarrada como um ovo de páscoa, os homens da mudança comandando aos berros, os trancos, as cautelas, sentiu-se profanado. A mulher, a seu lado, também sentiu coisa igual.- Olha a nossa cama! Nós não devíamos fazer isso com ela!- Fazer o quê? Queria que nós a jogássemos janela abaixo?- Não. Nós podíamos ter ficado com ela. Olha que fomos felizes.- Deixa disso! Vamos botar de lado as superstições. Além do mais, ela continuará conosco. Quando pudermos, vamos ter a nossa casa em Teresópolis ou em Miguel Pereira, ela vai servir outra vez.- "Felizmente não tinham piano" -foi a hipótese que a vizinhança levantou em clamor unânime. Explicaram que com piano a coisa era mais complicada ainda, e ele ouviu pacientemente os cuidados e as cautelas que costumam acompanhar a operação de mudar um piano de uma casa para outra.

  • Os caçadores de rolinha

    Vejo, por cima dos telhados, a cruz. Aponta para o céu. Que que há lá em cima para tanta coisa apontar assim? Ignoro o que esteja acima da cruz. Sei o que está abaixo: a igreja, o altar iluminado, as velas, os convidados, as flores, o órgão. E eu. Ainda não estou lá, mas é como se lá estivesse, inarredável, desde o início dos séculos, eterno.

  • Trivial variado

    O Brasil elimina Gana e classifica-se para as quartas-de-final. Lula diz que tudo o que há de bom no Brasil é obra dele, que o governo anterior não fez nada. FHC se defende dizendo que Lula só fez corrupção. A Varig continua sem solução, e Enéas raspou a barba e não aconteceu nada de importante no país e no mundo.