Volta ao noticiário, de forma ainda esparsa, dando tiro em várias direções, a chamada “operação Condor”, uma rede político - policial que eliminou diversas pessoas que atentavam contra a paz totalitária vigente na América Latina, durante os anos 70.
Que houve essa caçada, houve. Na raia miúda será difícil quantificar as vítimas e determinar os processos. Mas alguns casos provados e outros nebulosos dão para a suspeita de que a Condor foi mais eficiente do que se supunha.
Entre os casos provados, tivemos as mortes de Orlando Letelier e Pratts, dois chilenos que se opunham à ditadura de Pinochet. E Zuzu Angel, uma brasileira que botou a boca no trombone, pedindo justiça para o assassinato de seu filho.
Entre os casos nebulosos, estão as mortes de JK, Jango e Lacerda. De minha parte, incluiria um episódio espantoso: a morte do delegado Sérgio Fleury, contraponto da mesma operação, funcionando sua morte acidental como uma queima de arquivo, sem a qual o regime militar não poderia ser aberto de forma lenta, gradual e (principalmente) segura.
No caso de JK, Jango e Lacerda, tivemos a morte dos três líderes civis mais importantes do Brasil daquela época. Direita, esquerda e centro formando a opinião de 100% da sociedade civil.
Os três, na véspera da morte, estavam com saúde, sendo que Jango era cardíaco sob controle e Lacerda estava apenas gripado. O caso de Jango está mais nítido. No início dos anos 70, um juiz de Correntes pediu a exumação de seu corpo. O Brasil mandou um general negociar com o governo argentino a pá de cal sobre o assunto. Agora, o caso está sendo reaberto.
No caso JK, há provas provadas do acidente na Rio - São Paulo. Mas os indícios de um atentado são, por mais que pareçam um absurdo, maiores do que as provas.
Folha de São Paulo,17/05/00