A pulverização dos candidatos presidenciais está colocando Lula numa situação confortável e até certo ponto imbatível na sucessão de si mesmo. Não sou entendido em política o suficiente para entender as razões de cada partido e de cada candidato. Acho que está na cara que o nexo comum de todos (fora Lula, é claro) é bater forte no atual presidente pelo fato de ele ser também candidato.
É evidente que cada um tem seus programas, fazem pesquisas e promessas, têm um passado político que é do conhecimento de todos. Entretanto não encontraram ainda uma grande idéia que empolgue o eleitorado. Bater forte em Lula parece ser a tática e a estratégia de todos eles.
É óbvio que Lula dá motivos para isso: faz um mau governo, presidiu a avalanche de corrupção instalada na vida pública nacional e continua usando a máquina do governo para fins eleitorais.
Baseados nessas constatações, os demais candidatos se esganiçam em acentuar os podres de Lula. Não é um bom programa de governo, tampouco um chamariz eleitoral. É mesmo falta de uma idéia que centralize uma opção de governo. Prometer combate à corrupção não deixa de ser um programa primário.
Candidatos bem-sucedidos no passado traziam programas de metas, como JK, uma vassoura, como Jânio Quadros, a idéia de uma nova República, como Tancredo Neves, ou mesmo -um exemplo nefasto- o genocídio dos marajás, como Collor. O próprio Lula, depois de perder várias vezes, veio com seu lema de paz e amor temperando grandes reivindicações sociais.
Também de uma forma geral, todos eles tinham carisma que colou no eleitorado. É o que está faltando na atual sucessão presidencial. Com todos os seus defeitos e falhas de governo, Lula continua a ter esse carisma.
Folha de São Paulo (São Paulo) 25/06/2006