Sem ter nada o que fazer no primeiro dia do ano, procurei ouvir com atenção e respeito os dois discursos de Lula, um no congresso, outro no parlatório do Palácio da Alvorada.
O primeiro foi o blá-blá-blá de sempre, promessas de reforma política e tributária não muito diferentes daquelas que Collor e FHC fizeram no passado. No parlatório, falando de improviso, teve momentos brilhantes, principalmente na parte final, quando abordou o problema da violência no Rio de Janeiro. A primeira parte do improviso foi a do Lula que conhecemos, falando a linguagem do povo e procurando atingir o imaginário do povo, promessas disso e daquilo e, de forma recorrente, citando-se a si mesmo como exemplo.
Na segunda parte, contudo, ele revelou uma indignação que não era forjada nem estratégica. Não era um político falando, mas o presidente da Republica agindo a céu aberto, revelando que já entrara em entendimentos com o governador Sergio Cabral, considerando o banditismo carioca uma expressão do terrorismo mais bárbaro e comunicando que, a partir de agora, o combate a esse terrorismo será um problema do Estado brasileiro e não do Estado do Rio de Janeiro.
Um bom discurso de posse que não ficou em idéias genéricas e promessas vagas disso ou daquilo. Embalado pela circunstância (os recentes atos terroristas), deu a seu discurso a vitalidade que se espera do presidente da República e não se perde no conceitual e enfrenta a realidade com a sua ação.
O que foi dito na parte final de seu discurso será cobrado pela nação e sobretudo pelos cariocas que se sentem desamparados e desesperados diante da onda de terrorismo. Um terrorismo sem conotação ideológica que só pode ser combatido com as forças de toda a nação.
Folha de S. Paulo (SP) 3/1/2007