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O exemplo de JK

 

Ainda acho que a provável reeleição de Lula, já no primeiro turno, se deva mais à desorientação ou fraqueza dos demais candidatos. Falta-lhes uma idéia básica e aglutinadora, um programa de metas, como o de JK quando eleito, em 1956. Reuniu equipe de técnicos, elaborou um roteiro que sacudiria o Brasil e cujos resultados até hoje desfrutamos.




Ele não se preocupou em bater forte no presidente de plantão, que era João Goulart, cuja debilidade provocaria o golpe de 64. Antes disso, porém, acreditando no retorno ao poder em 1965, JK já estava elaborando um programa equivalente ao das metas anteriores, mas dedicado especificamente à agricultura. Não seria um plano demagógico como o Fome Zero. Ele não daria peixe para ninguém. Ensinaria todos a pescar.




O movimento militar impediu sua volta ao poder, mas o estilo de sua campanha já estava traçado. Esta determinação é que fazia dele um político fora de série. Deixou um exemplo que, infelizmente, não está sendo seguido pelos atuais candidatos da oposição.




Eles estão insistindo prioritariamente no combate à corrupção, o grande flanco do governo Lula, que, explorado por um Carlos Lacerda, poderia até resultar num impeachment. No mais, os programas apresentados ou a serem apresentados patinam no terreno das boas idéias e das boas intenções.




O candidato do PSDB dispõe teoricamente de uma equipe capaz de formular um grande programa de governo. Mas falta-lhe carisma e até certo ponto falta-lhe a indignação demonstrada por FHC na semana passada. Repetindo uma frase de ACM, palavras fazem pensar, a indignação faz votos.




O mesmo pode ser dito para os outros candidatos, gente boa que merece respeito, mas certamente não terá os votos que deveriam ter.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 02/07/2006