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Artigos

  • Uma escada

    Não alcançamos muito, embora sonhemos muito. E não há prejuízo algum em sonhar. Sempre tentamos buscar além, como se as estrelas estivessem debaixo de nós e o movimento fosse apenas de subir. Porque as ambições não são somente procuradas por nós, nutridas com o trabalho e o esforço, mas elas também nos procuram e se tornam uma espécie de segunda natureza. E ai de nós se não tivermos!

  • A banalidade

    A mídia televisiva, em regra, nos acostuma com a banalidade. E, por vezes, sem querermos, recebemos essa poeira de estrada em pleno rosto. Mal dissimulam a informação vazia que nos fornecem, sem qualquer significado cultural, a pobreza do pensamento se reveste de uma pobreza ainda maior e mais ostensiva, a da ignorância.

  • Epifania

    Não é um pôr de sol que muda a nossa vida, é a nossa vida que muda um pôr de sol e o torna inefável ou irrepetível. Ainda mais se for dia de amor, inocência ou arrebatamento. Ou nem isso, se antes o olhar da amada nos focar e o sol penetrar pela vidraça como através da alma. E o pôr do sol teria a magnitude da Nona Sinfonia de Beethoven, ou de alguma Cantata de Sebastião Bach, semelhante à epifania que decorre do ato de justiça, ou da criação, pois a beleza e a moral se atraem magneticamente.

  • A urgente necessidade de um Código Penal Econômico

    No ano em que Portugal entrou no Mercado Comum Europeu, a primeira iniciativa jurídica do governo lusitano, na época, foi a de criar um Código Penal Econômico, para acompanhar a evolução do Direito, já existente noutros países europeus, diante dos delitos contra o abuso do Poder Econômico, os crimes de "colarinho branco", e os prejuízos advindos dos privilégios de uma classe, mais abastada, sobre as demais.

  • Ferir a língua é ferir a alma

    Língua é alma. E nós começamos a perdê-la. No momento em que o Ministério de Educação permite a publicação de um livro, denominado 'Por uma vida melhor', da coleção 'Viver e aprender', em que tudo é permitido no que tange à concordância, considerando corretas orações como "nós pega o peixe" e "os menino pega o peixe", temos que registrar o protesto. Como diz o poeta, "podemos não saber o que desejamos. Mas sabemos o que não queremos".

  • A educação não floresce sem cultura

    A Educação não pode estar separada da visão da Cultura. Nem vice-versa. E falta na segunda, o que existe na primeira - uma Lei de Diretrizes e Bases da Cultura Brasileira. A atual Constituição move-se entre generalizações. E embora ressaltando a responsabilidade do Estado a respeito da cultura, nada de concreto apresenta concernentemente a ela. Num mundo de valores, esquecer tal dimensão é esquecer-se.

  • Os bombeiros

    O governador Sérgio Cabral é um político, conheço-o pessoalmente de eventuais encontros na Casa de Machado e já o tenho criticado, com a mesma liberdade da velha expressão de Gaspar Martins, de que "as ideias não são metais que se fundem". Mas o nobre governante do Rio é um velho marinheiro" -não na idade, na experiência. E é um político:aquele que procura resolver os impasses. Cabendo-lhe, como dizia o goleador Dario, ser mais "solucionático, do que problemático."

  • O governador do Rio Grande do Sul

    Quando recentemente viajei pelo interior do pampa, para cumprir o itinerário de lançamento em três Feiras do Livro -desde São Sepé (que lembra a grande figura do herói indígena, Sepé Tiaraju), Candelária e Porto Alegre, ao conversar com vários amigos, disseram-me: o governador Tarso Genro ganhou as eleições e mantém alto nível nas pesquisa , por um segredo. Quis saber qual era o segredo. Todos foram unânimes: a capacidade de escutar e discutir com as classes e o povo nos seus projetos. Soube até que recebeu homenagem nos redutos de sua terra - Santa Maria da Boca do Monte. Ora, venceu o que se tornou mais do que um provérbio, um destino: "Ninguém é profeta em sua terra". E ele está sendo. Eu o conheci há muitos anos. Ainda não era prefeito da capital, nem ministro da Educação ou de Justiça do governo federal. Era um poeta e advogado militante que prosperava com seu escritório nos assuntos'de Justiça do Trabalho. Encontrava-o, frequentemente, no foro entre audiências e clientes, com a fraternidade, a comunicante alegria, a imperiosa liderança, o respeito à diferença e o amor aos mais desvalidos. Nossa amizade cresceu no tempo como a flor no intervalo da pedra. Outro dia almoçamos juntos e senti no abraço a presença do irmão. Sim, hoje é o governador eleito de minha terra. Tem posto a educação, a cultura e a justa administração da coisa pública como metas fundamentais. Não é apenas um constitucionalista emérito, jurista provado em vários embates no exercício de cargos elevados, mostrando visão, conhecimento e integridade, coisas que raramente se aliam. E uma vocação de estadista que muito servirá a este País. Mas não se discute grandeza: basta reconhecê-la. Digo isso com serenidade, aquela mesma, a que Norberto Bobbio, nossa comum admiração, faz seu elogio, num de seus derradeiros livros. E não sou do partido do nobre governador e de nenhum partido, vivendo, honradamente, sob a bandeira auriverde desta pátria e do pampa. É que o único partido de um poeta, é o da condição humana. Mas não se discute grandeza: ela se impõe. Como o Minuano sopra.

  • A autoridade da morte

    Parece que um escritor para ser plenamente reconhecido, tem que morrer. Vejam os exemplos de Jorge L. Borges, Sábato ou Bioy Casares, na próxima Argentina. Suas obras se multiplicam por livrarias e até em bancas de jornais. E pela "autoridade da morte", usando a expressão feliz de Machado de Assis, que também pressentiu o que lhe sucederia, postumamente.Porque em vida não foi poupado nem por Sílvio Romero, nem por José do Patrocínio. De um lado, a morte é reveladora do que se mostrou grande, em qualquer arte. De outro, é caridosa com o medíocre. Faz com que tudo dele desapareça, como se nunca tivesse existido.

  • O pátio da língua

    Jorge Luis Borges flagrou o paradoxo de que os escritores mais representativos de cada país tinham poucas características do seu povo. E alude na Inglaterra a Shakespeare, por sinal espalhafatoso, mais italiano ou judeu no temperamento do que inglês. E o tolerante Goethe, com sua frieza, imensa racionalidade, no que tange ao conceito de pátria, anti-passional, nada tinha de alemão. E Victor Hugo com seu jogo metafórico e as avalanches de hipérboles nada possui do cartesianismo francês. Muito menos o satírico e sapiente Cervantes , contemporâneo da Inquisição , pouco guarda da Espanha. E para ampliar essa galeria, o nosso Machado de Assis, com sua contenção de estilo, sua mordaz ironia, filho de Sterne, parece ter mais nascido em alma na Inglaterra que no tropicalismo brasileiro.   

  • O papel dos advogados

    Infortunadamente , nem a Ordem da classe se dá conta disso, embora, aqui no Rio, o nobre presidente tenha lutado por melhor tratamento aos advogados, mas estão eles cada vez mais arredados do Poder Judiciário. Não falo do peticionar, que é constitucional, nem falo em contestar ou recorrer, muito menos de outras faculdades, que não são favores e que se aninham nos códigos.

  • O exagero humano

    Vivemos épocas de inevitáveis exageros. Alguns brotam do poder, outros da sociedade, outros de nossa própria vida cotidiana. Do poder quando credita à imprensa, certa ameaça à democracia, quando a maior das vezes a ameaça nasce do abuso da máquina governamental. Ou o exagero de segmentos da sociedade em acreditarem nos institutos de pesquisa - já que mais do que fonte, são eles que influem nos resultados. E o exagero de alguns, em ainda crer na política, dentro das raízes viciadas em que floresce.

  • Lembrando Rubem Braga

    Só o nome de Cachoeira de Itapemirim já lembra Rubem Braga, confirmando a relação afetuosa que detinha com sua terra. Como se já fosse a continuação dela. E Rubem se reconhecia homem com certa emoção do interior, dando a impressão de contemplar o mundo a partir de seu quintal ou de seu rio. Tinha curiosa consciência de nomadismo - ou a transitoriedade que caracteriza o cronista de jornal, onde as notícias se apagam com a mesma velocidade com que se enunciam. A comparação é dele: "o cigano toda a noite erguia a sua tenda e pela manhã a desmancha, e vai".