A Educação não pode estar separada da visão da Cultura. Nem vice-versa. E falta na segunda, o que existe na primeira - uma Lei de Diretrizes e Bases da Cultura Brasileira. A atual Constituição move-se entre generalizações. E embora ressaltando a responsabilidade do Estado a respeito da cultura, nada de concreto apresenta concernentemente a ela. Num mundo de valores, esquecer tal dimensão é esquecer-se.
Quanto mais genérico o enfoque legal, mais larga e abstrata a execução. Sendo direito cultural até o ar que respiramos, não individualizando as coisas, gira em torno da sombra das coisas. Assim, estende "ad infinitum" o campo dos bens culturais e o campo de sua execução.
Gerando uma ambiguidade, em que, nefastamente, nos encontramos. Onde tudo é cultura e nada vale o seu preço. Ou por ser tão alto, que é inalcançável. Ou por ser tão baixo, que é desprovido de interesse. Sim, estamos cansados de generalidades, como estamos cansados de palavras inócuas, sem atos de vontade política e de fazer cultura, de que o Brasil necessita.
Octavio Paz observa, com justeza, que "cada civilização é uma metáfora do tempo, uma versão de mudança". Mas essa mudança precisa começar na consciência e na vontade política desta geração. Pois a dificuldade maior é a mentalidade pequena, medíocre, adventicia, de certa parte da classe dirigente, que não consegue diferenciar cultura, que é qualidade, de educação, mais quantitativa. Devendo ambas andarem juntas e não separadas, como ocorre. A maçã não é a continuação da laranja, mas cada uma delas preserva a imutável identidade.
Com o achatamento da cultura, jamais nos distinguiremos no Concerto das Nações. Muito menos resguardaremos nossos valores com a deformação da linguagem.
E a economia, como asseverou Alfonso Reyes, ensaísta mexicano, não deixa de passar pela cultura. A economia é um problema de cultura. E nem apenas isso. No desenvolvimento cultural cada vez mais se impõe, por exemplo, a importância dos direitos autorais de que não cabe mais recuo. E mais valiosa e irretocável, uma liberdade não burocrática, sem o bolor da censura, seja do Estado ou de qualquer ministério, inaceitável neste momento da república. E tão grave num regime democrático,
O poeta Luis Cernuda afirmou que "estava condenado a ser espanhol". Nós estamos honrados em ser brasileiros.
Jornal do Commercio (RJ), 2/6/2011