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Artigos

  • Vamos lá, gente boa!

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 27/10/2005

    À margem do referendo sobre o comércio das armas, confesso minha preocupação com a gente boa deste país. O povo eleito, bacana, politicamente correto, transparente, saudavelmente pra frente, a turma que nos guia e ilumina com seus conselhos e seu comportamento ético, quebrou a cara com a derrota do "sim", mas o caso não é para o desespero e o ranger de dentes, que, aliás, não ficam bem em gente bem e tão boa.

  • Solução radical

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 26/10/2005

    Vamos e venhamos, foi uma temporada divertida, essa que passou, das opiniões sobre o referendo do último domingo. Besteiras de um lado e de outro foram proclamadas, mas nenhuma delas se equiparou a das feministas que aproveitaram a onda para tirar as casquinhas de sempre.

  • A turma do bem e do mal

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 25/10/2005

    Desta vez, a culpa não é nossa, é do próprio Criador, que, não tendo nada o que fazer, nos criou à sua imagem e semelhança e, de quebra, sem necessidade aparente, criou uma tal árvore do bem e do mal para dividir os bons dos maus, os certos dos errados. Resumindo: eu (que pertenço ao mal) e os outros, que formam o bem, no qual não acredito por ignorância ou cálculo.

  • O seis e o meia-dúzia

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 24/10/2005

    Pegaram-me desprevenido: li nos jornais, em letras enormes, que o Brasil finalmente chegara ao seu futuro, via referendo de ontem. Textualmente: "Brasil decide o seu futuro". Qualquer que seja o resultado da consulta popular, estamos afinal no futuro que sempre nos prometeram. Pensava que era mais difícil, ou, ao menos, mais problemático.

  • Referendo inútil

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 23/10/2005

    Na crônica de ontem, declarei que não votaria no plebiscito de hoje. É uma consulta escapista bolada pelo governo, além de hipócrita e sobretudo inútil. As alternativas, proibir ou não o comércio de armas, não resolverão o problema da violência que se alçou à "pole position" de nossas misérias: concentração de renda, juros escorchantes, corrupção em vários níveis da vida pública, desemprego etc.

  • Greve de voto

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 22/10/2005

    Se amanhã não for atingido por bala perdida nem sofrer um seqüestro-relâmpago, terei uma ditosa manhã, passeando pela Lagoa e vendo a plebe rude se esbofar nas zonas eleitorais para decidir se devemos abolir os termômetros para acabar com as febres -não, não é bem isso, o referendo é sobre outra coisa, se devemos aprovar ou condenar o comércio de armas.Já faz tempo que decidi não votar em nada e em ninguém. Não precisam de minha opinião, nem mesmo eu preciso dela. Deixei de votar até mesmo na Academia, as coisas miúdas de lá, prêmios, moções disso ou aquilo etc. Não me sinto em cima de um muro. Simplesmente não vejo nenhum muro a separar a miséria humana.

  • Prazo de validade vencido

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 21/10/2005

    Nunca é tarde para se aprender alguma coisa, ainda que inútil, uma coisa que de nada nos serve. Outro dia, num congresso sobre problemas do tráfego, fiquei sabendo que os capacetes protetores da cabeça dos motoqueiros têm prazo de validade; de nada valem, nada protegem, se estão vencidos. Há que os renovar ou os substituir por outros.

  • E elogio da mentira

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 20/10/2005

    Nunca havia pensado naquilo. Já trabalhava em jornal, sabia algumas coisas e julgava saber outras. Dico, grande amigo meu, mamando um "Ouro de Cuba" (entre outras coisas, ele me ensinou a fumar charutos), me fez uma pergunta que eu não soube responder: "Você já imaginou se no céu soasse um gongo gigantesco e, a partir daquele momento, pelo espaço de apenas dez minutos, só se pudesse dizer a verdade? Como seria o mundo, como seríamos nós mesmos após os dez minutos da verdade?".

  • A luta pela vida

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 19/10/2005

    Não lembro quem disse, deve ter sido algum filósofo pré-socrático ou letra de algum rock dos anos 60 que não fez sucesso: há poucas razões para viver em paz e muitas para viver em guerra. Nada a ver com a luta pela vida em si. O poeta maranhense afirmou que viver é lutar: a "struggle for life" que acompanha a humanidade desde a sua expulsão do Paraíso terrestre.Compreende-se que devemos ganhar o pão com o suor do nosso rosto, cumprindo a maldição que merecemos pela audácia de provar os frutos da árvore do Bem e do Mal. O problema é que, além da árvore em si, plantada à nossa frente para nos desafiar ("coma deste fruto e serás igual a Ele"), criamos outros desafios que nem chegam a ser árvores, mas capim rasteiro e estéril.

  • Vivas á vida

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 18/10/2005

    Acabo de sofrer duro golpe do destino. Sempre acreditei num mundo cada vez pior e num homem igualmente pior. Tinha motivos históricos e pessoais para tanto e tamanho pessimismo, mas eis que dou a mão à palmatória e o pescoço à guilhotina: estamos salvos.

  • Boleros e tangos

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 17/10/2005

    Semana passada, no canal espanhol da NET, assisti a nutrido documentário sobre a atual situação do Brasil, com numerosos depoimentos de nossos políticos, intelectuais, artistas e assemelhados. Excelente trabalho profissional da equipe que a TV espanhola nos mandou e, em linhas gerais, os depoentes deram conta do recado, uns mais, outros menos, com análises sinceras e, dentro do possível, patrioticamente possíveis.

  • Direita e esquerda

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 16/10/2005

    A muito custo, convenci um amigo a assistir a um filme de Jacques Tati, "Meu tio", que volta e meia passa em cineclubes espalhados por aí (tenho um vídeo dele, mas em mau estado). O sujeito foi, chegou a dar algumas risadas, no final achou o filme chato. E disse por que: "Não tem bandido".

  • Já no tempo dos barões

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 15/10/2005

    Miguel Gustavo foi o mestre dos mestres em matéria de jingles comerciais. Para um tipo de café em pó (não sei se ainda existe), ele fez uma obra-prima: "Já no tempo dos barões, era servido nos salões". Era marca citada em crônicas e romances do século 19, atravessou todo o Império, passou para a República e, nos anos 60 do século 20, mereceu o jingle antológico.São numerosas as práticas (consideradas novas, provocadas pelo nosso tempo e pelos nossos costumes) que já eram servidas nos salões no tempo dos barões. E bota barões nisso. Lembrei, em crônica recente, o suborno pago por Jacó a Esaú. Não eram barões nem tinham intimidade com parlamentares, banqueiros e doleiros, que não deviam existir naquela época. (É uma opinião pessoal, sujeita às chuvas e trovoadas dos desmentidos).

  • Memórias póstumas de um carioca assassinado

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 14/10/2005

    Evidente : é quase um plágio de título conhecido. Brás Cubas não morreu assassinado, viveu em outra época, embora no mesmo Rio. Teve delírios, pensou em inventar um emplastro que lhe desse fama e em ser ministro, o que lhe daria honras. Não deixou para ninguém o legado da miséria humana. O carioca que será personagem desta crônica era, em si mesmo, um exemplar da nossa miséria: acreditou nos outros, principalmente no governo e na opinião pública, que é mais ou menos a mesmíssima coisa.

  • Bonzos e bonzerias

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 13/10/2005

    Gosto de recorrer à ficção para comentar a realidade, sem explicá-la, é certo, mas para lembrar aquele trecho do Eclesiastes bastante citado, de que nada de novo existe sob o sol e que tudo é vaidade e aflição de espírito.