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Artigos

  • O passivo oculto do situacionismo

    As pesquisas mostram que a campanha eleitoral vem se fazendo ainda à margem do que é o maior trunfo do governo. Ou seja, do enorme lastro político dos que ganham até um salário-mínimo e que, em 34%, não sabem quem é o candidato de Lula e dizem que votarão, sem discutir, nesse nome. O que estaria em causa é a baixa mobilização deste eleitorado, ainda nos primórdios da ida à televisão, e do massifIcar-se a informação eleitoral. Estes números indicam também o quanto a nítida sensação de melhoria do antigo Brasil dos "sem-nada" presume uma continuidade natural, em que a eleição se transforma quase num formalismo, mais do que no exercício de uma vontade concreta de mudar ou permanecer neste situacionismo. o Ibope é categórico no mostrar, neste potencial que ainda não se definiu, que só 10% iriam à oposição e 46% seguirão o nome que o presidente indicar.

  • O diferente Brasil dos BRICs

    Não tivemos, nestas últimas décadas, situação idêntica à dessa maioria tranquila com que a candidatura Dilma vai às urnas.Mais do que vitória de partidos, ela representa a força de uma tomada de consciência nacional, que tem como seu protagonista o “povo de Lula”. Deparamos um Brasil consciente de um voto-opção, muito mais do que uma contradança clássica entre governo e oposição do velho país de sempre. A buscar, hoje, o Planalto vitórias do situacionismo no próprio coração de São Paulo, reflete a avalanche definida nos últimos dias por todas as sondagens eleitorais.

  • Voto e fatalismo cívico

    A fatalidade da vitória de Dilma não acarreta, apenas, um desinteresse crescente à campanha, implica uma completa deserção das temáticas do futuro governo, e leva a candidata até a descartá-los como fator de mobilização do voto para o 3 de outubro. De toda forma, é de se esperar uma manifestação clara sobre a negativa de qualquer Assembléia Constituinte para obter-se a decantada e utópica reforma política nacional.A consciência pública já se deu conta do novo escapismo que representaria a proposta suscitada por Marina, na contramão das prioridades do "que-fazer" brasileiro.

  • A vã e ingênua reforma política

    Fenômeno inédito depois do disparo de Dilma é a desaparição de Serra nos cartazes de candidatos de oposição. Aí estão imagens novinhas, despojadas do nome do presidenciável tucano. Mas esse quadro de abandono das esperanças ao Planalto não se acompanha de subida da onda petista capaz de abalar as duas candidaturas decisivas na composição do poder político após as eleições. Por mais que dobre o apoio a Mercadante, a vantagem final de Alckmin parece garantida, e Anastasia já se antecipa ao candidato petista em Minas. O efeito Aécio parece equilibrar a longo prazo uma hegemonia de Dilma no Planalto.

  • Maquiavel,Serra e a oposição

    A aguda crítica de Demétrio Magnoli à campanha de Serra é também antológica quanto ao equívoco que marca a próxima ida às urnas. Não se trata mais de uma escolha entre situação e oposição, em nome de um metafísico direito de voto. O “berro da realidade”, a que se refere o analista, é de uma tomada de consciência nacional quanto ao nosso rumo político: ratificar, ou não, a continuidade do que está aí, como o único e desejável caminho do desenvolvimento sustentado.

  • Monotonia temática e certezas óbvias

    O último debate dos presidenciáveis não demonstrou apenas a pobreza polêmica do entrevero mas, sobretudo, de que forma a temática de um programa de governo não sensibiliza a nova ida às urnas. Não é só o fato consumado da vitória de Dilma que vem à frente, mas esse quase consenso, do que há a fazer daqui para diante.

  • Construção da paz e realpolitik

    A pergunta sobre política externa dirigida por Serra a Dilma, no último debate televisivo, inquieta quanto à estreiteza da visão tucana do nosso País lá fora. Não há que extremar um repúdio a Lula pela retórica de aproximação com o Irã, frente aos objetivos, a largo prazo, do nosso horizonte internacional. Trata-se, sim, da mais clara realpolitik, e é dela que, por paradoxo, exatamente se alcança um novo conceito de paz para os nossos dias. Aliás, não foi em outra dimensão que Dilma respondeu a Serra, precisando o quanto superfra-ses, ou meias palavras, valem sempre para reabrir o clima de debate e diálogo, indispensáveis à quebra do mundo das hegemonias e seus preconceitos.  

  • O Papa do dissenso democrático

    O Papa acaba de realizar na Inglaterra viagem exemplar para dizer da sua lição sobre modernidade e secularização. Bento XVI, pouco dado a viagens, ao contrário de seu antecessor, tem buscado lugares canônicos para desenvolver esta visão contemporânea da Igreja, diante dos conflitos culturais emergentes da "guerra de religiões" ou, sobretudo, do confronto entre ciência e crença centrado na profunda discussão sobre o relativismo contemporâneo e os novos embates entre a fé e o conhecimento.

  • Política e má consciência religiosa

    O balanço do processo eleitoral e a iminente vitória de Dilma já levam a inevitáveis revanchismos, todos a escrutinar possíveis contradições na personalidade da candidata. Ou inquirir sobre a sua religião, como condição "sine qua non" para o programa de governo.

  • O perigo de um fundamentalismo ocidental

    O advento democrático no Oriente Médio não nos pode deixar de nos acautelarmos quanto ao perigo de que esses novos regimes atentem às condições de pluralismo, de que se faz o efetivo avanço das liberdades. O pior é que agora - e diante do risco do terrorismo islâmico e da guerra de religiões - a exclusão social se alastra no próprio Ocidente, sendo esse o perigo dos novos fundamentalismos que acossam os Estados Unidos e a Europa. Começa pela tomada de posição antiárabe da Alemanha e da Inglaterra e continua pelo novo perfil americano, nas políticas de reconhecimento social no seu território.

  • Para onde vão os países bálticos?

    O mundo báltico foi o do advento temporão, na Europa, dos Estados nacionais, de depois da queda do Muro. Estônia, Lituânia ou Letônia marcam identidades distintas, via de regra simplificada pelo regionalismo territorial. A continuidade litorânea não impediu notória diferença entre os influxos culturais, as tradições históricas e as ambições de poder destes países, ciosos dos seus limites, das suas línguas e de suas culturas, muitas vezes descartadas por uma parentela geográfica. Riga foi a terceira cidade do czarismo, e estuário marítimo do império de Pedro, o Grande. A língua russa continua matricial hoje na Letônia, e a parentela arquitetônica da capital é a dos palácios de São Petersburgo, as avenidas imensas, e os seus palácios de verde e azul desbotado. Mas o fim do século XIX emprestou-lhes um matiz cultural único, de art nouveau na riqueza de cariátides e atlantes, que ornam as fachadas dos edifícios gigantescos do centro da cidade. Vem da matriz de um só artista, de Eisenstadt, a proliferar, subseqüentemente, na vivacidade dos boulevards e do jogo de vista únicos em que se entrelaçam os balcões da metrópole.

  • O dilema e o fantasma de Marina

    A proposta eleitoral de Marina inquietou pela sua ambigüidade. Evidenciou o inconformismo com o que está aí, sem se dar conta dos reptos de um genuíno governo de mudança como o de Lula. E, mais ainda, levou à pregação ecológica, a substituir-se à prioridade da luta contra a injustiça social no País. O que mais repercute, entretanto, é o quanto a aceitação de seu apelo por uma nova geração põe em causa, ainda, uma sub-cultura da impaciência, frente ao realismo da mudança vivido pela nação saída da marginalidade. De toda forma, a onda Marina refugava, de saída, o voto em Serra, como ameaça de retorno ao País de sempre. E a votação na candidata verde foi tanto menos expressiva quanto foi menor pelos despossuídos em todo o País. A candidata conclamou no primeiro turno por um projeto, mas este nada elucida quanto às exigências de um desenvolvimento sustentado. E vai a três mistificações, diante do perigo da boa vontade ingênua, no reconhecer as prioridades do País de agora. Repete o pecado ancestral do "udeno-moralismo", ao clamar, de saída, por uma hipotética reforma política, que em nada modificará o que está aí, enquanto não se alterar o peso dos donos do poder; e tàl só se dará, de fato, pela mudança estrutural da economia brasileira.Esta, por sua vez, é inseparável do intervencionismo público e da aceleração da distribuição de renda, temas mudos na pregação da acreana. Marina é impermeável, por outro lado, aos problemas da federação brasileira, e do imperativo de passar-se à União o desenvolvimento social, espremido pelas limitações constitucionais, no que poderia ser o PAC, na ampliação dos recursos para educação, saúde, ou habitação. A verde isolou a ecologia, num confronto com o desenvolvimento, sem propostas concretas quanto ao controle da agroexportação, ao impacto ambiental profundo do investimento hidroelétrico ou aos reflexos da nova agricultura familiar, na imigração interna do país e na mudança de pressões sobre as nossas megalópoles. 

  • Dilma: os olhos de ver a vitória

    A vitória de Dilma leva já o País às visões dessa nova repartição de poder, no que a petista inclusive estende a mão aos seus adversários. De logo, vai o contraste com a posição de Serra, tartamudo no reconhecer a derrota, e ficando nos limites mínimos da correção política para felicitar a ganhadora.

  • Globalização e diferenças emergentes

    A primeira década deste novo século nos mostra o seu passivo de espantos: a queda das torres de Manhattan; a sobrevinda de um terrorismo exasperado, até o martírio, pelos testemunhos vingadores de um reconhecimento coletivo sufocado; o retorno das teocracias, trazendo de volta o político ao transcendente; o recuo da cidadania diante do desfraldar migratório e da possível irrupção de novas "guerras de religião". Uma nova arquitetura da globalização está sendo desenhada, voltando-se, no longo prazo, às coexistências internacionais não hegemônicas e questionando esta expansão do multiculturalismo, " cujo imperativo da diferença se junta ao da liberdade, modelada pelo imperativo contemporâneo da democracia.

  • De volta, o PT

    A reação partidária do começo do governo Dilma aí está. Se a popularidade de Lula é de 84%, a militância petista não passa dos 37%. As coligações aliadas do governo já começaram com o descarte e o isolamento do partido de Lula. Ledo engano, entretanto, o de pensar-se que é das frentes parlamentares comandadas pelo PMDB que vai depender a iniciativa do novo Executivo. Dilma não precisa, para levar adiante o que herdou, de nenhuma legislação básica, de imediato, e sabe que a reforma tributária ou a eleitoral vai ser obra da maturidade do seu governo, e do avanço do desenvolvimento sustentado, que só necessita do próprio Executivo, no reforço já assegurado do PAC. O que importa, sim, é desencalhar o partido histórico, e retemperá-lo, nas suas fontes de origem, dos movimentos sociais. Deparamos o avanço alarmante do corporativismo sindical na entrega, praticamente, de um Ministério a cada força trabalhadora, às vezes num clientelismo inquietante das retribuições do ganho eleitoral. E aí está a distância dos sem-terra, na interrogação que se dirige aos comandados de João Paulo Stédile, de saber se prosseguirão no sentido comunitário da reforma agrária, ou se se concentrarão no sucesso dos assentamentos, nesse empuxe social básico contra a marginalidade nacional.