O último debate dos presidenciáveis não demonstrou apenas a pobreza polêmica do entrevero mas, sobretudo, de que forma a temática de um programa de governo não sensibiliza a nova ida às urnas. Não é só o fato consumado da vitória de Dilma que vem à frente, mas esse quase consenso, do que há a fazer daqui para diante.
Perguntou-se, ainda, qual a força do debate ecológico, sem que Marina respondesse à questão fundamental. Qual a prioridade da preservação do meio ambiente perante o problema da justiça social?
Ou melhor, até onde a ênfase petista no preservacionismo virou escape à discussão dos problemas cruciais, e já, do desenvolvimento sustentado. Plínio deu-nos o epitáfio para o minueto de acordos que defrontamos. Os candidatos estão todos do mesmo lado. Mas o que discorda, do PSOL, não sabe para onde vai, na soma algébrica de todas as radicaUdades. Chegará até a dizer que a grande propriedade é um crime, sem entrar na questão básica do quanto a função social da terra não tem a ver com o seu tamanho, mas com a produtividade da sua exploração.
Na toada oposicionista vê-se, ao mesmo tempo, que não se exaure o solilóquio, à busca de um tema. Viram um mesmo zumbido os clamores da quebra de sigilo fiscal ou bancário, ou da compra presumida de quem trabalha no Planalto. Nesta genealogia filial os filhos implicam a responsabilidade da mãe e a certeza da culpa vai, até, ao completo descarte da exigência de prova. Mas o "no-show" do embate não deixa, também, de dar um recado sobre os candidatos, independentemente do seu discurso.
Dilma sabetransmitir a indignação, frente ao tatibitate do moralismo difuso da acusação à frente. Pode ter travada a possível onda de novas acusações, no tiroteio dos últimos dias, à busca da vã suspeita. E o peso da biografia de Serra só vai vincar mais, com seus olhos fundos, a seriedade do candidato e o papel das oposições.
Só que nesta campanha não se vai às urnas apenas pela pretendida rotação dos quadros no poder. O voto tem o sentido de uma opção e o povo de Lula, para além do PT, vive de uma melhoria única no seu bem-estar e, sobretudo, sabe o que não quer. Ao associar o retrato de Lula ao início da sua campanha na TV, Serra rendeu-se ao quanto os continuísmos podem ter sentido histórico, e o "sim" à Dilma tem a força de um plebiscito nacional.
Jornal do Commercio (RJ), 17/9/2010