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Artigos

  • Um botão e o mundo

    Nada entendo de foguetes espaciais, o que não chega a ser vantagem, pois nada entendo de tudo. Fiquei sabendo que entre as causas possíveis de um desastre, uma delas seria a invasão casual ou proposital nos computadores que monitoram os complicados lançamentos.

  • Penas da pena

    Deve ser ingratidão minha criticar a imprensa que ajudou meu pai a matar minha fome e hoje me ajuda a matar não apenas a minha fome, mas a fome dos meus. Acontece que sempre embirrei contra alguns lugares-comuns da mídia e, para ir diretamente à questão, podendo enumerar centenas de casos e exemplos, fico na mania de noticiar a pena dos condenados de maneira global.

  • O aprendiz de Quasímodo

    Foi no início de maio. Eu não me habituara a conviver com aqueles monstros que até então se limitavam às paredes do meu quarto. Eles agora me acompanhavam pelas ruas. Numa terça-feira, fui ao cinema no Boulevard des Capucines, saí no meio do filme que era uma droga -eu não me interessava por mais nada.

  • Laranjas de ontem e de hoje

    Quando ia de trem para o interior do antigo Estado do Rio, ao passar por Nova Iguaçu, logo à saída do ex-Distrito Federal, sentia o cheiro das laranjas que, de um lado e de outro da via férrea, invadia os vagões que perdiam o cheiro de fumaça das velhas locomotivas e ganhavam aquele perfume de sumo, de fruta fresca e encantada, dos imensos laranjais que nos acompanhavam por algum tempo.

  • Um homem

    Para falar a verdade, nem sei a que partido o vice-presidente José Alencar pertence. Apesar de possuir uma biografia de sucesso empresarial, só tomei conhecimento de Sua Excelência quando compôs chapa com Lula no primeiro mandato. Apreciei algumas de suas declarações, mas não cheguei ao ponto de admirá-lo.

  • A arte de fazer o mesmo filme

    Ao publicar "Fare un Film" (Ei-naudi Editore), Federico Fellini (1920-1993) não chegou a fazer um livro. Os outros é que fizeram por e para ele. Na verdade, é uma coletânea fragmentada de algumas reportagens já publicadas na Europa, trechos de gravações feitas com amigos, enfim, desabafos, gritos e confissões que seriam mais interessantes se, por trás das palavras, não estivesse um homem que, preferindo imagens, não gosta de palavras. 0 livro está longe de ser uma autobiografia, uma gramática do cinema, um ensaio estético.

  • Ponte aérea

    Os jornais não deram destaque, nenhum deles contou a história do servo-croata que passou horas detido no aeroporto do Galeão. Ele visitara o Corcovado, se esborrachara nas escadas que dão acesso ao Cristo, teve de colocar grampos metálicos na cabeça do fêmur, meses depois tentou voltar para casa. Ao passar pelo detector de metais, o servo-croata apitou por todos os poros. Sem falar português, foi levado para uma sala, despido e pesquisado. Convocaram uns cães que farejaram o cara de alto a baixo. Mais sofreria se um policial, que fizera um curso não sei onde, não entendesse o que ele tentava explicar. Viajo com alguma frequência e tenho motivos para não gostar desses detectores de metal, nem confiar neles. Alguns apitam contra mim, denunciando-me o isqueiro, as chaves, algumas moedas no bolso, coisas assim.

  • Homem: esse desconhecido

    Sentou-se ao meu lado, quase nos fundos do Airbus que me levaria a São Paulo. Tinha seus 50 anos. Levava uma sacola. O que me impressionou foi o bolso de sua camisa. O paletó aberto deixava ver tudo o que ali havia.

  • O homem que sabia demais

    Lobianco terminava a crônica internacional do dia. No mundo, tudo marchava bem, ou seja, tudo estava mal. Nos Estados Unidos e União Soviética evitavam o acordo sobre o uso de armas nucleares, o presidente Carter rompera a política de distensão e mandava brasa em cima do Kremlim, Brejnev não tomava conhecimento, continuava apelando para o Tratado de Helsinque e considerava uma intromissão indébita qualquer alusão aos direitos humanos, que estariam sendo violados nos países da Cortina de Ferro.

  • Salto sem rede

    Irritado com os meus comentários sobre a linguagem infantojuvenil que ainda predomina na mídia eletrônica, um sujeito me desancou num e-mail em que me aconselha a jogar dominó e buraco, deixando o universo virtual para o povo eleito no qual ele se inclui.

  • O tempo do tempo

    O herói da batalha de Maratona precisou correr 42 quilômetros para transmitir a notícia da vitória numa guerra. Morreu logo após ter cumprido a tarefa. A descoberta (ou o achamento) do Brasil levou mais de dois meses para chegar ao conhecimento do rei Manuel, dito o Venturoso. Hoje, com a internet em funcionamento, Manuel seria venturoso antes do tempo, ficaria sabendo da façanha de Cabral na hora.

  • O que fazer com a revolução

    Quatro de novembro de 1930 - O Brasil ganhara um novo governo, fruto de um movimento revolucionário não definido, mas atuante. As diferentes facções que chegaram ao poder ameaçavam engolfar o país numa anarquia institucionalizada, apesar de existir um chefe ostensivo, dono até de um poder que, no papel, era soberano.

  • Os plebiscitos

    O trauma provocado pela tragédia de Realengo fez o senador José Sarney pensar em propor um plebiscito (na verdade, um referendum) sobre o uso e a venda de armas.

  • Tasso da Silveira

    Um nome que apareceu na mídia de forma inesperada e dramática. Contudo não li uma única linha na imprensa escrita, nem ouvi, no rádio ou na TV, o mínimo comentário sobre Tasso da Silveira (1895-1968), cujo nome inocente e ilustre foi dado a uma escola em Realengo.

  • Um casamento que não deu certo

    Foi uma festa para inglês ver: muita pompa e circunstânría ao som de marcha homônima. Trinta anos atrás, lá estava eu, espremido num palanque reservado a imprensa em Ludgate Hill, vendo os 179 cavalos de Sua Majestade que puxavam as carruagens que pareciam ter saído de um filme da Romy Schneider.