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Artigos

  • Pecado Capital

    RIO DE JANEIRO - Na homenagem a Oscar Niemeyer, que está completando 100 anos, em sessão solene na Academia Brasileira de Letras, foi lido um texto do próprio Oscar em que ele conta o espanto de Darcy Ribeiro, antropólogo e acadêmico, que organizou um debate sobre o índio brasileiro. Darcy convidou um deles, que era seu amigo, e ficou admirado do silêncio mantido pelo índio durante as duas horas do encontro. Interpelou o amigo: "Você aí, não fala nada?". O índio respondeu: "Estou com preguiça".

  • O novo e o velho

    RIO DE JANEIRO - Mudam-se os ministros, mas o Brasil continua o mesmo. Um dos meus espantos é o da mídia dar importância ao fato de um cidadão substituir outro na escala do poder.

  • Desculpando a Abin

    RIO DE JANEIRO - Algum tempo atrás, em comentário feito na rádio CBN a respeito da Abin, citei como exemplo das falhas daquele serviço de informações oficiais do governo a certidão solicitada por uma aluna de curso de mestrado que fazia uma tese sobre minha obra de escritor.

  • Uma nova religião

    No Brasil e em outros países está se criando um novo tipo de religião, com seus dogmas, ritos e, conseqüentemente, com sua moral própria, mais ou menos desvinculada da moral de outros credos.

  • Tropa de choque

    RIO DE JANEIRO - Ninguém escondeu, nem mesmo o próprio presidente da República: o novo ministério, que é o velho ministério recauchutado, não é uma equipe executiva para levar o governo a algum desempenho específico. Evidente que os ministros despacharão, assinarão processos, farão declarações disso e daquilo, mas o critério que os escolheu, além de ser político (o que é natural), é sobretudo tático.

  • Tempo de sangue

    RIO DE JANEIRO - Havia um jornal no Rio cuja especialidade era cobrir assuntos policiais -numa época em que a violência não havia atingido os níveis de hoje. Era mais barato do que os concorrentes e vendia bem. O sujeito roubava uma galinha num quintal de Marechal Hermes e tinha foto na primeira página, era apontado à execração pública. Mas o que predominava eram os crimes de sangue, sobretudo os adultérios e pecados afins.

  • O centauro dos pampas

    RIO DE JANEIRO - No último domingo, a Folha divulgou o resultado de uma enquete para saber qual teria sido o maior brasileiro da história. Deu Getúlio Vargas em primeiro lugar, seguido por JK e Machado de Assis. Apesar de convidado a integrar a turma de votantes, um problema no computador me impediu de votar. Mas teria votado em Vargas e se tivesse direito a mais de um voto, também votaria em JK e Machado.

  • Fiéis e infiéis

    A fidelidade partidária parece que desta vez emplaca. Está sendo saudada como a panacéia para acabar com um dos males da política nacional, o troca-troca de partidos de acordo com os interesses pessoais de cada eleito.

  • Alucinação

    RIO DE JANEIRO - Na versão que Orson Welles fez de "O Processo", de Kafka, o personagem Joseph K. atravessa cenários vazios, corredores desertos, tentando entender a culpa pela qual está sendo processado. De repente, abre uma porta e dá com uma gigantesca repartição, com centenas de funcionários sentados em suas mesas, trabalhando histericamente.

  • Plebiscitos

    RIO DE JANEIRO - Nas antologias escolares de outros tempos, era obrigatória a presença de um conto do Arthur de Azevedo, "O Plebiscito", obra-prima de humor e estilo. Quando dele tomei conhecimento, tal como o personagem da sua história, eu não sabia o que era plebiscito. E jamais poderia imaginar que um dia fosse convocado a dar palpite sobre qualquer assunto de ordem institucional.

  • O sonho possível

    RIO DE JANEIRO - Sem contestar a canção do Homem de la Mancha, acho que os sonhos podem se tornar possíveis. O problema é maneirar, esperar um pouco -o afobado come cru ou nada come. Mesmo que o sonho não se realize, fica a esperança: "se tivesse mais tempo".

  • Nem tudo está perdido

    RIO DE JANEIRO - Semana passada foi inaugurada a estátua do poeta Manuel Bandeira, junto à Academia Brasileira de Letras, não muito longe do apartamento em que ele morava na avenida Beira-Mar. A maior parte das estátuas em todas as cidades é sempre a de um homem em cima de um cavalo. O poeta está sentado junto à mesa de trabalho, numa atitude muito sua, a de olhar o passado "intacto, suspenso no ar".