RIO DE JANEIRO - Ninguém escondeu, nem mesmo o próprio presidente da República: o novo ministério, que é o velho ministério recauchutado, não é uma equipe executiva para levar o governo a algum desempenho específico. Evidente que os ministros despacharão, assinarão processos, farão declarações disso e daquilo, mas o critério que os escolheu, além de ser político (o que é natural), é sobretudo tático.
Com a experiência do mandato anterior, Lula tentou garantir uma base aliada no Congresso, não só para votar projetos do governo mas para impedir a criação de CPIs. Cada ministro representa, em tese, determinado número de votos no plenário das duas Casas do Legislativo.
Não é nada, ele passou raspando pelo impeachment com as comissões anteriores -foi salvo porque a oposição parece que se contentou com a cassação de José Dirceu e com o terremoto que sacudiu o PT, degolando a cabeça de notáveis parceiros de Lula.
Não se sabe o que vem pela frente, e o governo precisa da maioria estável para não repetir o vexame do mensalão -dinheiro grosso que corria a cada votação de interesse do Planalto.
Além de medida preventiva, ao garantir a maioria, Lula terá espaço para articular a mudança na Constituição que lhe garanta um terceiro mandato. Tem tempo para isso e trunfos. Mudará os ministros que não lhe tragam votos concretos na hora adequada.
Em princípio, não há na nova equipe um candidato a superministro. Os dois anteriores (Dirceu e Palocci) foram ceifados, serviram de escudo para proteger a figura central do governo. Mesmo assim, houve momentos em que a coisa parecia balançar. Lula escapou porque, entre outras coisas, além de garantir que não sabia de nada, não se empenhou em defender os dois cabeças de seu governo anterior.
Folha de S. Paulo (SP) 29/3/2007