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O sonho possível

 

RIO DE JANEIRO - Sem contestar a canção do Homem de la Mancha, acho que os sonhos podem se tornar possíveis. O problema é maneirar, esperar um pouco -o afobado come cru ou nada come. Mesmo que o sonho não se realize, fica a esperança: "se tivesse mais tempo".


Passei parte de minha infância querendo ser invisível. Li o livro e vi o filme de Claude Rains e o sonho ficou recorrente. Se pudesse me tornar invisível, não precisaria ser por todo o tempo, bastavam algumas horas por dia. Faria grandes coisas que nunca fiz justamente por causa da minha visibilidade medíocre, mas suficiente para não poder apreciar uma vizinha nua na hora do banho, entrar na confeitaria Indiana e comer todas as empadinhas de camarão, penetrar no gabinete do chefe da Polícia Especial e obter provas das torturas ali praticadas.


Não soube esperar, e agora de pouco me vale a invisibilidade. O físico Vladimir Shakaev, da Universidade de Purdue, nos Estados Unidos, garante que em dois anos estará pronto o protótipo capaz de tornar pessoas e objetos invisíveis.


Minúsculas agulhas embebidas em vidro provocariam a dobradura dos raios de luz em torno da coisa ou do corpo protegidos, fazendo os observadores enxergarem o cenário por trás da capa.


Acho que a tal capa do físico Vladimir Shakaev já foi inventada e está em uso aqui no Brasil. Não por guris concupiscentes que querem ver (sem serem vistos) a vizinha nua. Basta dar uma olhada na lista de roubos e assassinatos que nunca são descobertos.


Repito: não custa esperar. O professor Susumu Tachi, da Universidade de Tóquio, está trabalhando num casaco com câmeras que captam a parte de trás e a projetam para a frente. O resultado é o mesmo: ninguém vê nada nem sabe de nada, como o presidente Lula.


Folha de S. Paulo (SP) 15/4/2007