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Artigos

  • Finalmente, o evangelismo político

    Os primeiros prognósticos das eleições municipais mostram a sua completa desvinculação com o futuro político do País. Depara-se  o esfacelamento das coligações em todo o território, e em verdadeira  soma algébrica, não deixando nenhum prenúncio sobre os somatórios políticos nacionais. Nesse mesmo quadro, o avanço evangélico, expresso no fator Russomano, em São Paulo, trabalha no vácuo das novas concentrações de força para o pleito de 2013. Mas o dado de fundo é o peso do presente situacionismo, levando aos adiamentos de cálculo sucessório de Aécio Neves, ou de Eduardo Campos, a evidenciar-se, ainda, como possível denominador ideológico e político partidário, a largo prazo, frente ao eixo petista, e da mantença de Dilma, com o apoio de 73% do eleitorado. Ao mesmo tempo, mais se alastra este contraponto entre a força direta de Lula e a do PT.

  • O "vale-tudo" eleitoral republicano

    Na aceleração da campanha presidencial americana, deparamos a radicalização de Mitt Romney, buscando, ineditamente, o apoio no exterior. Foi a fundo em Israel, emprestando-lhe um magro contaponto palestino. Aposta, no eco de sua ida ao Muro das Lamentações, em Wall Street, que é a força do seu financiamento eleitoral, bem mais amplo do que o de Obama. Não faltou, ainda, no périplo pela Europa, a ida à Polônia, na procura de simpatias de um eleitorado fortemente confessional e direitista dos Estados Unidos. 

  • Mensalão e consciência popular

    Em meio do julgamento do mensalão, pergunta-se até onde atingiu, de fato, a consciência popular. Diante das primeiras pesquisas, o impacto é de cinismo em relação ao Judiciário, acreditando mais de metade dos que seguem o pleito que não haverá condenação. O acompanhamento nacional, de toda forma, vem da verdadeira montagem de espetáculo, assegurado pela cobertura midiática, frente ao processo gigante. Confrontou por isso mesmo, a crença na clássica desmemória da coletividade, num quadro, hoje, já remoto do escândalo do mensalão. A sensação, inclusive, seria a de uma literal redescoberta do evento, muito mais do que a de seu impacto de há sete anos.

  • O Estado de Direito a perigo

    A entrada no século XXI vem acumulando sinais de uma regressão do Estado de Direito, e, às vezes, até, a partir dos estados mais avançados, no apoio à ampla e restrita cidadania. O confronto, pela Grã-Bretanha, do asilo diplomático e garantias oferecidas pelo Equador a Julian Assange agride a vigência indiscutível do instituto em nossos dias. Impressiona ainda mais, a arguição britânica de que o abrigo de Assange viola a finalidade diplomática no prédio onde se encontra a embaixada. A discussão da matéria, já, pela OEA, que ficou a favor do Equador, com a exceção dos EUA, relembra, de logo, a sua posição frente à exclusão do Paraguai pela UNASUL, face ao golpe contra o presidente Lugo, que invocou a cobertura da Constituição. Mas a ação afronta o Estado de Direito contemporâneo, enquanto não reconhece a garantia mínima da independência e autonomia das funções do poder. A Carta paraguaia, no seu art. 225, numa obsolescência espantosa, deixa o Executivo à mercê do Legislativo, na evolução de pretendidas condutas do presidente contra o bem público.

  • O Brasil indeciso e o povo de Lula

    À entrada da campanha mediática, as eleições municipais, no prognóstico crítico das capitais do Centro-sul, dividem-se entre a manutenção teimosa dos empates técnicos, ou, de vez, dos jogos feitos. Curitiba e São Paulo se contrapõem ao Rio de Janeiro. Mas, se as diferenças mínimas entre as três candidaturas em Curitiba nascem das competições dentro das máquinas de governo, São Paulo contrasta neste frente a frente de Serra com Russomano. Desponta aí a candidatura vista, de saída, como inteiramente marginal, confusa, inclusive, até agora, na sua identidade evangélica, vinda de vários afluentes. E o anseio pela busca do novo ou, simplesmente, a manifestação de um cansaço, indicando a recusa às candidaturas óbvias de todo o sempre?

  • E o governo não recuou

    As respostas de Dilma aos comitês grevistas indicam, de vez, a tomada de posição governamental sobre os rumos, a largo prazo, da redistribuição da renda brasileira. A prioridade é clara: vai à garantia da estabilidade do trabalho, e, sobretudo, da entrada definitiva no regime salarial dos nossos segmentos coletivos ainda marginalizados. Confronta-se, agora, o Planalto, às pressões, nascidas do funcionalismo público excessivo, já que não nos livramos, ainda, da herança da clientela colonial. Não são outros os atores, ora em cena, que superestimam a sua capacidade de alastrar o processo grevista, confiantes no profissionalismo manipulatório de todo o sempre.

  • O pleito americano e a opção apocalíptica

    Configura-se, até agora, um empate dramático na competição entre Obama e Romney  para o pleito presidente. É o que remete, de maneira crucial, à presença, ou  não, daqui para o futuro, do estado na vida política dos EUA. Deparamos, na candidatura republicana, a resposta de expectativa histórica da cultura do país. Apoiado no individualismo, na certeza da prosperidade, na plena assunção do modelo econômico capitalista, Barack Obama vai ao contraponto desses rumos.  Ampliou o New Deal rooseveltiano, na antecipação, mesmo, da crise de 68, que atingiu em cheio o seu mandato, de par com a consciência dos crescentes desequilíbrios do bem-estar social americano. O acesso aos serviços públicos,  através do programa de generalização da oferta da saúde, transformou-se no seu  carro-chefe, de par com a tentativa de redistribuição de renda pela imposição  fiscal, que ainda não avançou, e da melhoria da Previdência.

  • Eleições e cansaço político

    Russomano volta aos 35% das opções de voto, em São Paulo, apesar das limitações de seu tempo em televisão, frente aos demais competidores. Depara-se, aí, um alarmante cansaço eleitoral na cidade-ponta do país. Nem projeto especial, nem impacto concreto de um programa, por parte do candidato do PRB. E Russomano desponta, inclusive, para além da militância eleitoral de todos os pentecostalismo reunidos. Haveria de falar numa esperança bruta do novo, atentando-se ao pequeno percentual dos que não pretendem ir às urnas.

  • O Supremo e a veemência acusatória

    A dimensão pública do julgamento do mensalão levou à emergência de desempenhos inéditos de seus atores na Corte Suprema, como, por exemplo, a da possessão dos roles pelos seus protagonistas. Não é outro, a cada dia, o do perfil espetacular, assumido pelo ministro Joaquim Barbosa, na grande e melhor veemência acusatória, assentada na forra nacional contra a nossa sempiterna corrupção. Há que reconhecer a amplitude do desafogo, no reconhecimento, de vez, para valer, da lei. Vira-se a página do velho conformismo, e da visão quase cínica da inviabilidade dos processos contra os poderosos. Mas talvez seja por esse sentimento de purga nacional que o inquisitorialismo pode transbordar na sua mobilização crescente.  E o limite se rompe, exatamente, quando a acusação passa das certezas das provas à presunção das suas sequências. Transpõe-se aí toda a discussão dos entendimentos do que seja a concretude dos fatos para a avaliação dos seus indícios, como tem ilustrado o enorme debate do Supremo. Deparamos o alargamento de convicções. De par com a procura de seu freio, no que devemos ao ministro Lewandowski. O perigo está na passagem à suposição, já, absolutamente abstrata, movida pelo impulso acusatório. Não é outra a alegação, pelo ministro-relator, da permanência da prática do mensalão, em sua inércia presumida pela rapidez da aprovação das medidas do Congresso, em 2009, de disciplina emergencial do setor da eletricidade, então sob o ministério Dilma, de Minas e Energia.

  • Confronto cultural

    As explosões do mundo islâmico contra o filme e as caricaturas do profeta aguçam o seu conflito com o Ocidente, visto, hoje, como na iminência de uma guerra de religiões. Reptam o cerne da liberdade de expressão, mas a seu custo e à sua responsabilidade.

  • A ONU contra o futuro obsoleto

    A visita do primeiro-ministro Cameron ao Brasil permitiu, num eco preciso, a força do recado da nossa presidente na Assembleia Geral das Nações Unidas. Os pronunciamentos, aliás, em Nova Iorque, marcaram, este ano, a clara busca das diferenças nas atitudes nacionais, frente à superação, de vez, de uma globalização hegemônica.

  • O Sudeste Asiático e a democracia moderada

    A presença de Obama em Phnom Penh, capital do Camboja, para a reunião da Associação de Nações do Sudeste Asiático, sua primeira viagem após a vitória, indica os nortes emergentes da globalização não hegemônica. E é toda essa região que avulta num cenário suscetível, até, de criar uma diferença com os Brics, em área, hoje, consciente de seu novo protagonismo. Ali, a Malásia evidencia um paradoxo, quase vertiginoso, de transformações, no avanço da modernidade democrática. Combina a tradição política com uma monarquia rotativa, de mandato de cinco anos, outorgado a cada rei, de par com a mais intransigente federação de poderes, e é, talvez, o único caso deste regime político, dotado de primeiro-ministro parlamentarista.

  • Obama diante da tragédia

    O horror de Newtown parece ter chegadoao clímax da tolerância com a violênciaindiscriminada, lavrada noseio da mais rica nação do mundo.Repetiram-se os cenários de Columbine, Wiscosine Arkansas, a fazer das escolas infantis o alvodos repentes do agressor anônimo e delirantementedeterminado. Mais que, ainda, à revulsão, o que vimos foi a entrada de todo o país nomais fundo de sua religiosidade, entre a oração e a busca do consolo, e não há precedentes —acredita-se — do desfile das religiões e suas mensagens na cerimônia de adeus. Não faltaram, sequer, os Bahá'ís e liturgias onde avultavao comando dos luteranos, ao lado da nítida presençados católicos. Teor, por inteiro, ecumênico, o desse encontro da fé, e rematada pelo governadorde Connecticut, a preceder o chefe da Nação.