Na aceleração da campanha presidencial americana, deparamos a radicalização de Mitt Romney, buscando, ineditamente, o apoio no exterior. Foi a fundo em Israel, emprestando-lhe um magro contaponto palestino. Aposta, no eco de sua ida ao Muro das Lamentações, em Wall Street, que é a força do seu financiamento eleitoral, bem mais amplo do que o de Obama. Não faltou, ainda, no périplo pela Europa, a ida à Polônia, na procura de simpatias de um eleitorado fortemente confessional e direitista dos Estados Unidos.
A soma das gafes no exterior rima com o recado sumário e crescentemente fundamentalista da campanha republicana. Vai aos rednecks do interior, absolutamente desligada de qualquer perspectiva intenacional. Mas, a um quadrimestre dos votos, a diferença entre Romney e o atual presidente é de menos de 5%, e o candidato republicano não deixa dúvidas sobre a mudança estrutural que pretende, no abate das maiores conquistas de seu rival. Quer eliminar o serviço público de saúde, em boa hora confirmado pela suprema Corte.
O horizonte eleitoral parece depender, cada vez mais, da sensação de estabilidade econômica possível, expressa por variações de preços, com a retirada da zona de conforto da atual despesa familiar dos eleitores. E o processo que ora começa do comportamento agudamente especulativo dos grandes consórcios financeiros do país, a partir do grupo Morgan Stanley, evidencia como esse intervencionismo econômico pode se transformar em especulação, até eleitoral, nas apostas post-pleito dos republicanos. De toda forma, Obama se arrisca, desde agora, também, na sua visão de futuro, descomprindo os bolsões anti-Cuba, e abrindo caminho, após meio século, para as relações entre Havana e Washington. Guantánamo, entretanto, permanece, não obstante as promessas de 2008.
Da mesma forma, quer o presidente reduzir a tensão das políticas migratórias mexicanas, contendo a expulsão sumária de filhos desses trabalhadores que, clandestinamente, entraram no país para visitá-los. O ponto crucial do confronto converteu-se, agora, no da violência, após as execuções em cinemas e templos, na modificação do regime que admite, senão generaliza, o porte de armas nos Estados Unidos. Mas aí, democratas como republicanos confrontam um direito que vem dos founding fathers, e surge como um verdadeiro componente das liberdades americanas. Impensável qualquer cruzada, e suicida-se o candidato que a tentar, em nome da dita "civilização de paz", e que pedem as nações do século XXI.
Jornal do Commercio (RJ), 10/8/2012