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O pseudo-embate dos vices

 

Nas disputas dos vices, o face a face de Ryan e Binden, no seu único debate durante a campanha, permitiu a saída de cartas na manga entre os candidatos, ou, sobretudo, do confronto mútuo de surpresas.

Ryan manifestou o conhecimento da política externa americana, bem como o planejamento do seu futuro estado de austeridade, para além dos simplismos republicanos, e a adesão, sem rebuços, à presença militar do país no mundo.  Binden foi irredutível na declaração de que todos os soldados estão de saída do Afeganistão até 2014. Evidenciou, ainda, a meticulosidade do processo de redistribuição fiscal, centrada no aumento nítido da imposição dos muitos ricos. Insistiu na defesa na classe média, e o reforço dos serviços sociais aos destituídos do país.

No semblante de Binden, o sorriso permanente não escondia o ar de galhofa e o descarte sumário do que argumentava o adversário, sempre chamado de “my friend”. Nem seria outra a razão da simpatia ganha pelo republicano na reação do debate. Mas, sem dúvida, os maiores pontos ganhos por Binden vieram da mostra ao país de que a redução das tropas americanas no Afeganistão não ameaçava as guarnições que ainda remanescessem, pois o governo treinou, já, as forças locais, a quem caberá a defesa da própria nação.

A contradita de Ryan evidenciou como os republicanos pretendem reforçar, indefinidamente, a presença militar global dos Estados Unidos, manifestada pelo volume desses gastos no orçamento, em clara contradição com a pretendida severidade das despesas públicas. O corte das despesas de serviços sociais, especialmente quanto aos idosos, é só uma diminuta fração, diante da montagem do superexército anunciado por Romney e Ryan.

O empate só permitiu evidenciar o país rachado. A indecisão vai, hoje, ainda, a quem queria mais de Obama. Mas, ao fim, não irá ao outro lado, no futuro, sem disfarce que anuncia.

Jornal do Commercio, 19/10/2012