Em meio do julgamento do mensalão, pergunta-se até onde atingiu, de fato, a consciência popular. Diante das primeiras pesquisas, o impacto é de cinismo em relação ao Judiciário, acreditando mais de metade dos que seguem o pleito que não haverá condenação. O acompanhamento nacional, de toda forma, vem da verdadeira montagem de espetáculo, assegurado pela cobertura midiática, frente ao processo gigante. Confrontou por isso mesmo, a crença na clássica desmemória da coletividade, num quadro, hoje, já remoto do escândalo do mensalão. A sensação, inclusive, seria a de uma literal redescoberta do evento, muito mais do que a de seu impacto de há sete anos.
As previsões vão a incerteza das provas dos autos, à predominância do testemunho sobre a documentação concreta, a levar à insinuação do julgamento político, à falta de evidência nascida do processo. A dita convicção do juiz, diante da precariedade documental, permitiria a leitura de uma resposta condizente com o clima de repúdio à corrupção que ora experimenta o país. Bater-se-ia o martelo obrigatório da culpabilidade, mas, dentro de uma limitação, senão de uma evanescência das penas, numa palmatória quase que simbólica.
Não é outra a incerteza que marca a verticalização desda presumida cúpula do delito, e a sua concertação afunilada no Planalto, quando o denunciante Roberto Jeffersson, contra todas as suas declarações anteriores, quer, agora, incriminar o próprio ex-presidente Lula. Seria impossível, em palácio, a meia concertação, e, da nebulosidade da indigitada culpa de Dirceu, só se poderia partir para a presunção da responsabilidade toda do Planalto. É, nesta medida, que a dita sensibilização política do julgamento altera, por inteiro, os pesos da dita opinião pública, frente aos níveis inauditos de popularidade que mantém Lula e o governo sucessor.
O libelo do procurador-geral foi ao limite da busca da evidência nos acusados pelo mensalão. A proeza de Hércules à cata da conspirata não escalou os degraus da presunção. Mas, no "salve-se quem puder" dos acusados, alega, agora, o advogado de Jefferson a impossibilidade de um concluio limitado, e aponta ao topo da Presidência. O Supremo não pode fugir à exaustão acusatória do procurador. Gurgel, no imbróglio da opinião pública, não logrará escapar à leniência das condenações, em julgamento atingido pela desmoralização do contraditório, e pela má-fé das denúncias originais.
Jornal do Commercio (RJ), 17/8/2012