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Artigos

  • As crises e o sonho

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 28/08/2005

    Não é mole ser da esquerda -daí que sempre a evitei, como evitei ser da direita ou do centro. Atualmente, ninguém é mais da direita, ela parece uma ficção que só serve para desculpar os erros da esquerda e o oportunismo tático do centro.

  • Uma proposta modesta

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 27/08/2005

    Uma das poucas certezas sobre o jornalismo é a de que a ironia não funciona em texto para ser consumido por um público heterogêneo. Pede-se do autor uma definição imediata e concreta contra ou a favor de um assunto ou pessoa. Admira-se o panfletário que dá nome aos bois, nem sempre acertando com os bois e os nomes. Admira-se o humorista, que nem precisa acertar o boi e o nome, entre outras coisas, porque é um humorista.

  • Vargas: perfil de um gaúcho

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 26/08/2005

    Ao se retirar da vida pública, deposto em 29 de outubro de 1949, Getúlio Vargas tornou-se um senador relapso, permanentemente licenciado. Usou da tribuna poucas vezes e, a rigor, só gostaria de tê-la usado uma vez: aquela em que prestou contas de seu governo, transcorrido em sua maior parte sob regime ditatorial. Cometeu uma violência contra a história: um ex-ditador que vai ao Congresso, um Congresso eleito democraticamente, e assume perante a história a responsabilidade de todos os seus atos.

  • Fora todos!

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 25/08/2005

    Já lembrei aqui neste espaço, há tempos, a cena deliciosa de um dos melhores romances que li em toda a minha vida, "Fontamara", de Ignazio Silone, autor italiano patrulhado pelos comunistas, embora tenha sido, ele próprio, um comunista sincero, mas independente da linha ditada pelo "pápucha" Stalin e seus prepostos espalhados pelo mundo, inclusive no Brasil.

  • A lei de Murphy

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 24/08/2005

    No ano passado, comemorou-se o cinqüentenário do suicídio de Getúlio Vargas, o ainda maior drama da nossa vida pública.

  • A todo vapor

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 23/08/2005

    Citar o poeta Murilo Mendes pode até parecer provocação. Num tempo em que os 15 minutos de fama estão sendo vividos por Delúbios, Valérios, Jeffersons, Dirceus et caterva, lembrar o poeta de Juiz de Fora é estar tão por fora como o juiz que deu nome àquela cidade.

  • Lula e Kadhafi

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 22/08/2005

    Num dos numerosos giros que o presidente costuma dar pelo mundo, praticando um turismo político e protocolar que eu pessoalmente aprecio e louvo, acreditando que em linhas gerais ele se sai bem, contando pontos para o Brasil e para si próprio, fiquei admirado - e muita gente ficou pasma - quando soube de sua visita ao ditador Kadhafi, da Líbia.

  • Provas e contraprovas

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 22/08/2005

    Impossível a um cronista diário não comentar as acusações feitas, na sexta-feira passada, contra o ministro da Fazenda. Pensei em fazê-lo ontem, domingo, obedecendo ao jornalismo politicamente correto, que exige a informação e o comentário instantâneos para abastecer a sociedade de elementos que possam saciar sua sede de verdade e de justiça.

  • O mago no Tibete

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 20/08/2005

    Não parece, mas ser cronista diário está ficando difícil, sobretudo quando um assunto único empolga o país em que ele vive, sofre e, eventualmente, se diverte. Pode parecer um paradoxo, mas justamente quando fica fácil falar de uma coisa, a luzinha vermelha se acende, alertando para a chatice de saber quantas cabeças de gado tem o caixa do PT e o que a secretária do assessor de um deputado estava fazendo no dia 2 de maio de 1999.

  • Lavoro, salute o amore

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 19/08/2005

    Não vi os letreiros iniciais do filme nem foi preciso. Passava da meia-noite. Sem sono e sem vontade de ler, liguei a TV e dei com o canal da RAI, onde uma antiga chanchada italiana já havia começado. Apesar da intimidade com os atores daquela época, não identificava nenhum dos personagens, até que, no momento em que ia mudar de canal, apareceu o Nemmo Carotunuto, que sempre fazia papéis secundários, mas brilhantes, nos filmes de Monicelli, Lattuada e outros. Sua grande hora chegou naquela deliciosa paródia "I Soliti Ignoti" ("Os Eternos Desconhecidos"), de Monicelli, quando aponta uma arma para o caixa da loja de penhores e pergunta, com voz de criminoso: "Sabe o que é isso?".

  • Delações premiadas

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 18/08/2005

    Não costumo aderir às modas que se sucedem, sobretudo no campo do jornalismo. Não faz tempo, os redatores usavam o verbo "disparar" no sentido de retrucar, acusar. Outra mania, fartamente adotada pelos membros das atuais CPIs, é usar a expressão "ao fim e ao cabo", que nem sentido faz, além da redundância - que o bom gosto aconselha evitar.

  • Projetos de poder

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 17/08/2005

    Dois partidos (PT e PSDB) sempre foram parecidos, não pelos programas em si, tampouco pela origem de seus integrantes, mas pela ambição comum de permanecer no poder por 20 anos. Note-se: a ambição não era de dez nem de 30, mas de exatos 20 anos. Para isso, usaram e usam de todos os recursos, inclusive a inevitável mala preta para dobrar resistências e angariar apoios -circunstanciais ou não.

  • Lula é a crise

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 16/08/2005

    Pediram-me um depoimento sobre Lula e a crise. Eu entendi errado. Entendi que Lula é a crise. Aliás, era o que pensava e continuo pensando desde o início da lambança que o governo e o PT fizeram por aí.

  • Óbvio e a redundância

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 15/08/2005

    Os debates nas CPIs me fatigavam e acredito que haviam fatigado muita gente. Prevaleciam a repetição de novidades envelhecidas e a entusiasmada investigação do óbvio. Elas perdiam tempo crescendo para os lados, na horizontal do processo: mais um nome, mais uma conta, mais um empréstimo.

  • A grande lambança

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 14/08/2005

    Volto a comentar o discurso presidencial da última sexta-feira. Além do plural majestático, que ontem destaquei, Lula falou em "arregaçar as mangas" e em "desdobrar esforços". Tudo bem, o povo entende o que é isso - já é alguma coisa. Mas pouca gente entendeu quando ele falou dos escândalos "dos quais nunca tive conhecimento". Na melhor das hipóteses, teria passado recibo de cegueira política e funcional.