Impossível a um cronista diário não comentar as acusações feitas, na sexta-feira passada, contra o ministro da Fazenda. Pensei em fazê-lo ontem, domingo, obedecendo ao jornalismo politicamente correto, que exige a informação e o comentário instantâneos para abastecer a sociedade de elementos que possam saciar sua sede de verdade e de justiça.
Não sou politicamente correto e deixei para hoje o comentário que deveria ter feito ontem. Não perdi tempo pesando os prós e os contras do que deveria dizer a respeito das acusações ao ministro mais importante do governo. Não morro de amores pelos rumos que imprimiu à economia nacional.
Palocci integra a turma de petistas que, lá atrás, ao assumir prefeituras importantes (Campinas, Ribeirão Preto, Santo André etc.), recebeu instruções para criar condições eleitorais que garantissem a vitória do PT no plano nacional.
O conteúdo da campanha já estava pronto, revelado nas ruas e palanques durante 25 anos. A questão era material, de formato: descolar recursos que tornassem o PT vitorioso em confronto com partidões peso pesados, como PSDB, PMDB, PFL etc.
Tirante alguns executivos petistas que provadamente botaram dinheiro no próprio bolso, muitos deles toparam receber comissões e doações para o cofre do partido, dotando-o de recursos para a campanha de 2002. E para os prometidos 20 anos no poder.
Não acredito que Palocci tenha se beneficiado de comissões por baixo do pano. As acusações contra ele precisam de provas concretas. Suas negativas também precisam ser provadas, e não negadas simplesmente, como faz o presidente Lula. O que há de concreto é que houve um planejamento global e ilegal para alimentar a caixinha de um partido, que, pretensamente, prometia salvar a lavoura, promover a justiça social, moralizar os costumes políticos. Provadamente sabe-se que, entre outras coisas, a caixinha pagava meninas de programa, que ninguém é de ferro.
Folha de São Paulo (São Paulo) 22/08/2005