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O mago no Tibete

 

Não parece, mas ser cronista diário está ficando difícil, sobretudo quando um assunto único empolga o país em que ele vive, sofre e, eventualmente, se diverte. Pode parecer um paradoxo, mas justamente quando fica fácil falar de uma coisa, a luzinha vermelha se acende, alertando para a chatice de saber quantas cabeças de gado tem o caixa do PT e o que a secretária do assessor de um deputado estava fazendo no dia 2 de maio de 1999.


Vai daí, fiz coisa rara para os meus lados. Naveguei na internet para relaxar e me distrair com outras e interessantes manifestações da condição humana. Fui dar com uma notícia que aparentemente não me interessava e não deve interessar a ninguém. Exatamente no Tibete.


Nunca tive atração por aquelas paragens, tidas como propícias à meditação. Fiquei sabendo que numa vilazinha perto de uma montanha (acho que no Tibete existem muitas montanhas, não tenho certeza), uma espécie de monge ou de mago fazia coisas maravilhosas: transformava pedras em pão, água em leite de cabra -não sei, mas ouvi dizer que nas montanhas do Tibete as vacas são escassas e as cabras abundantes.


Dito mago ou monge cometia outras façanhas: fazia mulheres ficarem nuas com a força de palavras misteriosas que ninguém entendia, nem mesmo as mulheres.


Um jornalista australiano, Robert Macpherson, que por lá passou recentemente, entrevistou o monge, que, além de mago, era magro e, ao contrário do Marcos Valério, cabeludo. Bob Macpherson ficou sabendo que o monge era cearense, nascido em Sobral. Confessou que tinha conta bancária num paraíso fiscal. E tudo o que ganhava alimentava o seu caixa dois, que nem era dois, tinha tantos caixas que dois não bastavam.


Não estou fazendo nenhuma insinuação de que esse monge seja um clone de algum dos envolvidos nos atuais escândalos nacionais. Ele não nasceu em Garanhuns, mas em Sobral, como foi dito acima.


E também foi dito que não era gordo nem careca.




Folha de São Paulo (São Paulo) 20/08/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 20/08/2005