Os debates nas CPIs me fatigavam e acredito que haviam fatigado muita gente. Prevaleciam a repetição de novidades envelhecidas e a entusiasmada investigação do óbvio. Elas perdiam tempo crescendo para os lados, na horizontal do processo: mais um nome, mais uma conta, mais um empréstimo.
Seus membros procuravam trabalhar com seriedade, mas sem equipamento técnico e funcional. Daí que repetiam perguntas à exaustão, esmiuçando detalhes secundários. Aproveitando a exposição gratuita na mídia, alguns apelavam para a demagogia moralista e barata.
No estágio das revelações a que chegaram, até a bomba lançada por Duda Mendonça, profissional do marketing que se apresentou para depor, nada de novo era acrescentado, além de detalhes periféricos e redundantes. Nenhum dos membros das CPIs tem formação e prática de investigação. Não dispõem de estrutura e know-how para ir fundo no lamaçal que envolve o governo e os partidos que integram a base do poder atual.
Trabalhavam a reboque do que liam na mídia e nas informações que chegavam, esparsas e desordenadas, do Ministério Público e, sobretudo, da Polícia Federal, que continua sendo a peça principal das investigações que realmente interessam.
A PF tem o mau hábito de agir como braço dos governos que se sucedem. Pressionada pelas CPIs e pela opinião pública, até agora tem dado a impressão de independência. Dispõe de quadros técnicos e equipamentos para ir fundo.
O depoimento de Duda e a recente entrevista do ex-deputado Costa Neto, com seus naturais desdobramentos no exterior e aqui dentro, abrem excelente perspectiva para as CPIs tornarem-se mais objetivas. Evitando, por exemplo, que um deputado, cardiologista de profissão, disserte sobre as relações intercromossomiais de um depoente.
Folha de São Paulo (São Paulo) 15/08/2005