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Artigos

  • A guerra dos mundos, afinal?

    Por que só agora Bush alardeia a repetição de possíveis ataques abortados aos Estados Unidos, na esteira da queda do World Trade Center? Esteve nesta mira, e seis meses após a catástrofe de Nova York, o mais alto edifício da América, nos seus 334 metros, o Library Building, em Los Angeles, torre coruscante esperando um novo avião suicida. A persistência comprovada da Al-Qaeda explicaria hoje a síndrome de pânico, e o horror, de toda entrada de estrangeiro nos Estados Unidos, na trituração dos vistos e das revistas nas cancelas de acesso ao Império.

  • Maomé, a liberdade e a blasfêmia

    De repente, e não mais que de repente - e da Dinamarca - sai-se para a mais inesperada das pioras no conflito Ocidente-Islão. Não bastasse a derrubada das Torres, a invasão do Iraque, chega agora o Hamas, por irrepreensível maioria democrática, ao comando da Autoridade Palestina e à jura pela derrubada de Israel. Não mais que de repente, irrompe a dita blasfêmia contra o Profeta, após a nitidez com que Bush, no discurso sobre o Estado da União manteve os pressupostos da "civilização do medo", diante do ano novo prometido por Bin Laden. O saudita oferece, por uma vez, um Tratado de Tordesilhas à Casa Branca. Troca a saída da Cabul e do Iraque por uma tranqüilidade a perder de vista para um Ocidente reentrado nas suas fronteiras.

  • O Congresso e o cálculo da vergonha

    Afinal, afinal, qual é a hora de o Congresso mostrar a cara diante do país, depois da absolvição do deputado Queiroz, de todos os alcances, tamanho família, no valerioduto? Quem será o primeiro pescoço a baixar no alfanje, ciente o Legislativo de que o facilitário de dezembro não pode prosperar, nem vai o país esquecer o bolero do mensalão em todos os seus arranjos?

  • Democracia e civilização do medo

    Frente a Angela Merkel, Primeira Chanceler da Alemanha, Bush perguntado, sem rebuços, sobre o escândalo de Guantanamo, também sem papas na língua tornou muito claro que o assunto não é da humanidade, mas, sim, e acima de tudo, da segurança do povo americano. Será indefinida como nos prazos de Kafka, a espera por esse processo, nem há a cogitar-se de que uma Comissão Política Internacional possa visitar o presídio da península cubana. E, significativamente, no enorme alarido que cresce no Congresso contra o Presidente, a denúncia das torturas em Abu Ghraib ou dos vôos secretos da CIA na Europa, ou da escuta sem permissão judicial de todo telefone suspeito não chega ainda à detenção indeterminada dos prisioneiros vindos da primeira onda da guerra do Afeganistão, culminada no abate das torres e na invasão do Iraque.

  • Pavor antigo e terrorismo novo

    Apetrecharam-se os canais de televisão americanos, há poucos dias, para dar a notícia da eliminação de Abul Zahuri, segundo potentado na cadeia da ignomínia de Bin Laden, como ameaça em vão do terrorismo islâmico. Reprimiu-se a notícia na garganta mediática, tanto os disparos caíram sobre uma aldeiota, violando as fronteiras do Paquistão, em toda a desenvoltura com que a "civilização do medo" não tem limites frente ao anonimato da ameaça e a instantaneidade da resposta.

  • A sombra do voto nulo

    O dado em que dobramos o ano não é, tanto, o da alegria com a possível penetração do desalento com Lula no país de base - seu eleitor pétreo e contumaz. O grave, sim, e o novo, é o aumento sombrio do voto nulo crescendo em todos os setores do eleitorado.

  • Terrorismo velho e medo novo

    Frente a Angela Merkel, Primeira Chanceler da Alemanha, Bush perguntado, sem rebuços, sobre o escândalo de Guantanamo, também sem papas na língua tornou muito claro que o assunto não é da humanidade, mas, sim, e acima de tudo, da segurança do povo americano. Será indefinida como nos prazos de Kafka, a espera por esse processo, nem há a cogitar-se de que uma Comissão Política Internacional possa visitar o presídio da península cubana. E, no enorme alarido que cresce no Congresso contra o presidente, a denúncia das torturas em Abu Ghraib ou dos vôos secretos da CIA na Europa, ou da escuta sem permissão judicial de todo telefone suspeito não chega ainda à detenção indeterminada dos prisioneiros vindos da primeira onda da guerra do Afeganistão.

  • Depois, afinal, do Mercosul

    Desponta no começo de ano, a notícia de que o Uruguai de Tabaré Vásquez, o socialista do Prata, negocia com os Estados Unidos uma abertura de mercado fora dos protecionismos do Mercosul. O formato aponta à Alca, e se soma ao horizonte do Chile ou do México.

  • Política externa: o trunfo a caminho

    Diante das eleições de outubro próximo, a polêmica brasileira fixa-se, de mais em mais, sobre a permanência, ou não, da atual política econômico-financeira como premissa para o próprio futuro da chapa presidencial. O ministro Palocci terminou por vencer todas as escaramuças de derrubada, e sua sustentação assimila-se à de como o País é visto nos rumos da globalização. Com que outras cartas conta o Governo em 2006? Por entre a poeira das disputas do mensalão, do desapontamento com o pior Congresso da nossa história política, ou do acórdão do descrédito final, deixamos, às vezes, de lado, os trunfos da política exterior.

  • As novas esperanças do Brasil de sempre

    Os dados contundentes do Ibope neste fim de ano desfizeram toda garantia de uma reeleição de Lula. Os números castigaram, tanto do ponto de vista das preferências paulistas, quanto de um decréscimo generalizado, no país, da popularidade do presidente. Teria talvez atingido a própria base profunda, ou o sertão do seu sucesso. Mas não há como confundir este abalo, não só com a viabilidade de um êxito final, mas com a clara superação dessas desvantagens de percurso, desde que o próprio Planalto se dê conta de que a continuidade de Lula não é o fruto amadurecido do primeiro mandato. O novo, sim, é o impacto desses números sobre a reentrada na liça, para valer, da eleição, e as esperanças que desperta nos oposicionistas que dava como favas contadas a manter o presidente a faixa no peito, agora reforçada de seu peso em ouro.

  • Uma obsoleta cultura da paz

    O fim do ano registrou, como um bordão já da cultura do medo, quase a mesma quota de mortes em Gaza ou Jerusalém, de explosões de homens-bomba em Bagdá ou Tikrit, e os massacres de sudaneses no Cairo. Um novo realismo, nas atuais proclamações do Papa Bento XVI, entrevê o quanto o próprio anúncio da esperança reclama ouvidos diferentes. Sobretudo, a consciência do que já é visto com descrédito, no clássico apelo ao desarme dos espíritos, diante do clamor de suspeita universal, inaugurado com o 11 de setembro e a queda das torres.A recém-terminada conferência da Comissão de Alto Nível da Aliança das Civilizações, da ONU, em Majorca, atentou profundamente a este problema, e ao modo pelo qual os discursos oficiais de nosso tempo sobre a volta à paz chocam-se com a expectativa dos movimentos sociais efetivos, e mesmo com o cinismo arraigado das novas gerações em todo o mundo. Ou, pior ainda, como notam os sociólogos europeus, com o inquietante neodireitismo que, no centro da Europa, começa a acenar às velhas reminiscências fascistas, frente ao caminho sem volta das hegemonias em nosso tempo.

  • Informação e ditadura da suspeita

    Crise, aliás , pseudocrise, ou crise nascida da credibilidade da crise? Até onde, nessa pergunta, já estamos diante inclusive das sentenças mediáticas, em que se plasma uma opinião pública por sobre a espontaneidade das convicções-cidadãs? Não é outro talvez o problema mais grave da dita democracia profunda, hoje em debate na ONU. Farão os meios de comunicação o deslinde entre a absoluta isenção no informar e o dar à mesma a interpretação, ou o comentário, como se espera do veículo que a porta?

  • Bin Laden, urbi et orbi

    Ao cair do pano da eleição apocalíptica, Bin Laden interveio no intento de mudar a escala do jogo. Não foi mais um tira-teima, entre duas visões do império americano. O terrorista oferece um script para repartir o futuro. Não sem insinuar a diferença entre os contendores e oferecer ao liberal o beijo da morte de sua proposta, alçando-se ao perfil de estadista, no redefinir os rumos do mundo após o 11 de setembro. É a primeira vez, afinal, que se dirige ao Ocidente após a catástrofe. Assume-a, canonizando os seus autores diretos - Mohamed Atta e seus 18 companheiros - assentado na lógica do talião. Foi o castigo contra o castigo, que o levou a convencer-se da derrubada do World Trade Center como paga da destruição, cinco anos antes, de duas torres em Beirute, pelas forças de Israel com respaldo americano. Trata-se de lenta e definida forra, chegando-se à ruptura dos mundos, pela repetida agressão dos governos Bush. Do pai e do responsável pela maior máquina mortífera que pode temer o universo.Bin Laden arrogou-se a falar pelo "povo islâmico", tanto os países desta cultura estão sufocados por ditaduras militares ou monarquias, todas aliadas dos Estados Unidos na cruzada devastadora. Mas, atenção, o Ocidente não se confunde com esta empreitada, já que aí está a Suécia "que nunca será atacada" pelo Al-Qaeda, que também acredita na liberdade - proclama o terrorista - e se vê como um instrumento contra a injustiça no globo.

  • Antes da civilização do medo

    Diante da fatalidade de um novo quadriênio Bush toda uma inteligência mundial começa a desenhar cenários para o mundo da hegemonia, e cada vez menos, do multiculturalismo, como resguardo da diferença diante de uma "civilização do medo". Aceleraram-se desde o 11 de setembro as tentativas de alentar ainda o que seria quase, numa respiração boca a boca, o intento dos diálogos culturais. E, significativamente, foi o outro lado que pressentiu, de imediato, a ameaça de um universo unitário, a partir do apelo feito por Khatami, à conversa permanente e aprofundada entre os mundos partidos pela desconfiança radical, transformada em terrorismo.Mais se passa em câmera lenta o abalo das torres, mais a agressão do Al-Qaeda revela uma dramática purgação histórica de um inconsciente social gigantesco, que começa a perceber a expropriação da alma coletiva que veio de par com os benefícios do dito progresso. E quando o Presidente do Irã foi ao recado in extremis, dava-se conta de como o seu país chegara a convulsão exemplar, em que se confrontaram o regime dos Xás e do Ayatolá Khomeyni pelo corte da consciência oposta ao que as vantagens civilizatórias acarretavam como terraplanagem identitária nas demais culturas.

  • Bush bis e o racha da vez

    Não se esperava viesse a candidatura Kerry morrer na praia, como a de Dukakis - quem se lembra dele? - o outro bostoniano que competiu com o primeiro Bush. Não se vai aceitar, é claro, este fracasso antecipado, mantendo-se uma última esperança nas arquibancadas de todas as periferias mundiais. Mas o inconformismo, por uma vez, com a prevista fatalidade de um Bush bis, é de um racha a prazo indefinido na opinião pública americana, sem arnicas ou sinapismos para curar a cisão de um país, refeito e convenientemente desmomoriado para os próximos quatro anos. Nem poderemos alimentar uma mudança dramática nessas últimas semanas. O desconforto inevitável é o do descolorido da reação de Kerry à queda de sua superioridade nítida de ainda dois meses. Não respondeu, à hora, a brutal demolição de imagem feita pelos adversários. Permitiu se cristalizasse o estereótipo de um candidato indeciso nas tarefas públicas, consoante seus antecedentes no Senado. Mas a opinião pública não concebe que um presidente não pode refletir sem parar para decidir quando puder.