Mídia, violência e retórica
Jornal do Brasil (RJ), em 31/10/2007
Nos últimos 20 anos no país, a taxa de violência aumentou de 77%, atingindo hoje a média de 50 mil pessoas por ano. O incremento é dos mais perturbadores e se choca com os demais índices que hoje situam o Brasil em ganho crescente de prosperidade e bem-estar social. Banaliza-se o crime, mas amadurece a mídia em noticiá-lo. Perde o caráter de sensacionalismo e começamos a agendar um alerta, e uma política pública nesta área crítica da mudança. Ao mesmo tempo, a repetição do evento vem anestesiando a sua repercussão e leva a uma retórica do conformismo na civilização de massa dos nossos dias. É o que induz à pergunta, qual é o nível de tolerância com a desordem, e qual é a temperatura mediática, afinal, para enquadrá-lo nas manchetes, reduzi-la a um estereótipo e, para muitos, como acidentes do progresso, e não afronta continuada à nossa humana condição? De toda forma, no mundo mediático a violência já perde toda a condição de impacto direto sobre a opinião pública, tendo-se em vista o seu potencial mercadológico ainda de sensação, ou o migrar para outro registro de interesse coletivo.