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Artigos

  • O perdão para os lobos

    Virou moda pedir perdão por erros e crimes históricos. Sendo a instituição mais antiga da história ocidental, a Igreja Romana, justamente porque atravessou 20 séculos contraditórios, parece ter a consciência mais pesada neste departamento. Daí que os últimos papas pediram desculpas por crimes que não cometeram, dentro do discutível princípio da culpa coletiva e hereditária.

  • Emigrar é preciso

    A semana passada começou com o alarme de uma agência ambiental. Até o ano de 2100, a temperatura do nosso planeta será tal e tanta que todos seremos extintos. Os dinossauros também entraram em extinção, embora existam alguns por aí, em diversas funções públicas e privadas.

  • O barco verde

    Acabo de ler os originais do novo romance de Heloisa Seixas, que deverá ser lançado nos primeiros meses deste ano. Evidente que escreverei sobre ele, como escrevi quando ela estreou em livro com "Pente de Vênus". Acontece que o novo romance me causou um impacto que não sentia há muito. O fato de ser bem escrito e usar uma técnica surpreendente (não me lembro de ter lido um livro de ficção com a mesma construção revolucionária) seria bastante para colocá-lo na estante mais nobre da nossa literatura.

  • Mania de perseguição

    De uns tempos para cá ocorre comigo um fato curioso: encontrar amigos ou conhecidos nas mais disparatadas ocasiões e nos mais inusitados lugares. Como que um Frestão me acompanha os passos, transformando carregadores de aeroportos em ministros de Estado, motoristas em poetas, camelôs em colunistas sociais.

  • DNA da espionagem

    Bem antes de 1964, os serviços de informação e de inteligência do Departamento de Estado norte-americano já dispunham de tecnologia suficiente para rastrear o encontro num quarto de hospital de dois personagens secundários (ou nem isso) no episódio da deposição de João Goulart.

  • Romance sem palavras

    Zapeando pelo guia de filmes, dei com o resumo de um filme bem ordinário, "Havana", que tem passado com frequência na TV a cabo. Com Robert Redford, a produção tentava reproduzir o clima e o dilema final de "Casablanca", com os últimos dias da ditadura de Batista e a chegada dos revolucionários liderados por Fidel Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos numa contrafação de "Casablanca".

  • Antecedentes de 64

    Olhando da perspectiva do tempo, é pena que o brasileiro não seja mais cordial, como antes afirmavam os cientistas sociais. Cordialidade que, mais cedo ou mais tarde, brotará de suas raízes para constituir um perfil nacional do qual estamos nostálgicos, como o doutor Fausto naquele monólogo inicial, que "chorava continuamente os bens que não perdeu".

  • Fim da matéria

    Um momento de indecisão ao subir a escada. Irá esbarrar com o quadro. É sua melhor obra em quase 20 anos de pesquisa e trabalho. A única que realmente valeu alguma coisa, que fugiu aos padrões convencionais, às repetições. E agora está abandonada e imersa no bar onde só se pensa em trepadas, negócios, piadas. Talvez tivessem substituído o quadro, muitos pintores gostariam de ter obra pendurada ali. Embora de costas, ele sente que o quadro é o seu.

  • O hino que falta

    Fileto morava, naquele tempo, com um rapaz que tentava carreira no mesmo corpo de baile do Theatro Municipal, mas desanimara porque, apesar de muito se esforçar, tinha o corpo desajustado para o balé, um pouco gordo embaixo e muito fino em cima, a cara meio encaveirada, pálida, uma cabeleira negra e farta sempre descabelada.

  • O rapaz grande e engraçado

    Lembro uma história que contei há tempos. Na França, Dominique Trizt, de quatro anos de idade, divertiu-se a tarde inteira jogando, da janela, as joias de sua mãe e o dinheiro de seu pai. Do lado de fora, "um rapaz grande e engraçado" ia recolhendo as joias e o dinheiro. Até hoje a polícia procura esse rapaz grande e engraçado que incentivou a inocente brincadeira de Dominique Trizt.

  • O mistério da santidade

    Abordei, tempos atrás, de maneira bastante ligeira, em uma crônica, o problema da santidade. Isso me valeu algumas descomposturas de damas e mães de família, pressurosas em espinafrar um homem "que não entende nada de santidade" e que se mete, com imprudente constância, a falar no assunto.

  • Os cariocas foram à guerra

    Foi quando começaram a ser afundados os navios do Lóide Nacional. A crença pública admitiu que tais afundamentos só podiam ser atribuídos a navios nazistas. As carcaças foram promovidas a "vasos", os brios foram despertados e, na impossibilidade de despertar o gigante adormecido, despertaram o Presidente da República para a declaração de guerra.

  • Momento da verdade

    Mais um Carnaval, estamos aí, quer dizer, eu não estou com nada e em nada, muito menos nesse "aí" genérico e abstrato. Na verdade, se todos estão aí, eu prefiro estar ali e vice-versa. O Carnaval não me repugna, como a tantos outros, mas não me deslumbra.

  • Rosas amarelas

    Cada cidade tem, mais ou menos, o Carnaval que merece. No Paraná, o Carnaval é alegre. Em Recife e Olinda, predominam a tradição, a festa burilada pelas troças, os maracatus.

  • A eternidade do minuto

    O teto era creme, as paredes eram creme, o chão estava revestido de placas em cor amarelada que parecia creme. Uma caixa, nunca uma casa ou quarto, na qual tudo era creme, menos o leito, branco, que se destacava como peça maior do complicado labirinto de aparelhos que faziam um barulho suave mas irritante.