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Romance sem palavras

 

Zapeando pelo guia de filmes, dei com o resumo de um filme bem ordinário, "Havana", que tem passado com frequência na TV a cabo. Com Robert Redford, a produção tentava reproduzir o clima e o dilema final de "Casablanca", com os últimos dias da ditadura de Batista e a chegada dos revolucionários liderados por Fidel Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos numa contrafação de "Casablanca".

Já disse que revejo o filme por um motivo tolo: ouvir o bolero "Me Voy al Pueblo", que tanto custei a identificar, só o conseguindo em Paris, quando o ouvi numa calçada do Quartier, justo na esquina das ruas de L'Harpe e Saint Severin.

Em Paris, comprei diversos CDs com músicas antigas e lá estava o bolero que eu caçava havia mais de dois anos. Mas, ao ler o resumo da história, vi que havia ali o final que inconscientemente eu procurara para um romance meu.

A situação do meu romance, embora com clima, elementos e mensagens totalmente diferentes, repete até certo ponto o final desses dois filmes, "Casablanca" e "Havana", um triângulo amoroso, quando um dos envolvidos faz a opção da renúncia.

Eu havia terminado o romance com um final feliz. Ficou bonito, mas falso. Quando me lembrei do final dos filmes, achei que ali estivesse o que eu queria. Ao contrário dos filmes, no meu romance o importante é um quarto ângulo, inesperado porque sua história não é contada. Mas há a mesma renúncia do personagem principal, um ex-padre que, desconfiando de que a mulher amasse outro, decide se abrigar num mosteiro beneditino.

Mudei tudo, porém. Também o amante, convencido de que poderá ser feliz, tem uma surpresa. A mulher ama outro homem, antes mesmo do amante e do marido.

O final combina em tudo com os meus finais. O livro ficou realmente meu.

Folha de S. Paulo (RJ), 2/2/2014