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Artigos

  • Quem?

    Desconfio de que já contei esta história em crônica muito antiga, mas de forma incompleta. Agora, com a proximidade das eleições, acredito que ela deva ser relembrada. O escritor Álvaro Lins foi editoria-lista do 'Correio da Manhã', chefe da Casa Civil na Presidência de JK e embaixador em Portugal, onde, aliás, criou um caso internacional dando asilo a um adversário do regime salazarista. Muitos o consideram o crítico literário mais completo do Brasil. Sua entrada na Academia Brasileira de Letras foi uma noite memorável, pois chegou atrasado duas horas para a cerimônia. Em Lisboa, ele decidiu visitar a Suíça, sendo ali recebido com todas as honras. Na manhã do seu primeiro dia em Genebra, depois de ler os jornais locais, deu um giro pela cidade em companhia de um funcionário do governo. Andou pelas ruas, de carro e a pé.

  • A pizza e o strogonoff

    Em Brasília o clima tem sido denso de fofocas, expressão popular que os comentaristas políticos, sérios, conspícuos, traduzem por "tensão". E aqui entre nós, as tensões têm sido muitas e graves: quebra de sigilo na Receita Federal, escândalos na Casa Civil, longuíssima e inútil discussão no Supremo Tribunal Federal sobre a lei da Ficha Limpa, nepotismo diversificado e, menos recente, o mensalão envolvendo parlamentares, prisão de políticos, desentupido tráfico de influência, corrupção em várias modalidades e por aí vai.

  • Lula ficou tiririca

    Tudo bem. Apesar das trapalhadas dos últimos dias, as eleições foram calmas e os resultados mais ou menos previstos: a queda de Dilma e a subida de Marina. Mais uma semana e ela poderia entrar no segundo turno.

  • Temo que não dê certo

    Já lembrei algumas vezes o velhinho do Iseb. Para quem não sabe, tratava-se de um grupo de intelectuais progressistas que se reunia todas as noites num casarão da rua das Palmeiras, em Botafogo, e era o contraponto ideológico da Escola Superior de Guerra, na Praia Vermelha, onde estava sendo articulado o golpe de 1964.

  • Apagando incêndios

    Quando o Brasil declarou guerra à Alemanha e à Itália, em 1942, pelo menos aqui no Rio houve uma campanha para formar bombeiros voluntários: medo de ataques aéreos que não chegaram a acontecer. Um vizinho meu, um tal de Bezerra, recebia inscrições de pessoas acima de 50 anos.

  • Que pena!

    Morava em Copacabana, todas as manhãs ia à praia, de chapéu e óculos escuros. Para cortar caminho, pegava a galeria Menescal -onde, numa loja de discos, um hi-fi, que estava na moda, tocava "Que pena", sucesso de Jorge Benjor, que ainda era Jorge Ben, um bom dueto com a voz quase juvenil da Gal Costa e contraponto perfeito de Caetano Veloso.

  • Un pò de chiesa

    Alguns leitores reclamaram da crônica anterior ("Debate do segundo turno"), publicada na última quinta-feira. Uns não compreenderam, outros acharam falta de respeito para com os dois candidatos e para com Deus Todo-Poderoso. E todos a julgaram inoportuna.

  • Senha da Conspiração

    Depois de muitas confusões, consultas ao judiciário, editoriais da imprensa, reclamações, choro e ranger de dentes, as eleições foram realizadas e, aos poucos, ficamos conhecendo os derrotados e eleitos, embora provisoriamente. É quase certo que teremos algumas complicações na Justiça Eleitoral, provocadas pelas incertezas de última hora, a validade do Ficha Limpa, os incidentes de praxe. Haverá sempre o cabo de polícia que, visivelmente embriagado, deu tiros para o ar numa seção do Piauí. E o mesário que, involuntariamente ou não, travou o equipamento eletrônico numa seção de Tocantins.

  • Se eu tivesse um barco...

    Durante anos, Rubem Braga publicava ao fim de suas crônicas na revista “Manchete” uma seção sob o título “A poesia é necessária”. Evidente que os poetas escolhidos eram os de sua preferência. Imitando o mestre, gostaria de transcrever um pequeno poema de Ribeiro Couto intitulado “Cais matutino”.

  • A hora de pagar

    Certa vez,li as revelações de um ex-deputado que teria recebido o auxílio de alguns milhares de dólares para a sua campanha eleitoral. Através de telefonemas gravados, ficou revelada a mecânica dessas contribuições. O candidato ao Congresso queixava-se ao seu maior, no caso o candidato à Presidência, de que estava sem verba para azeitar a sua própria campanha, que garantiria 30 mil ou 40 mil votos para a eleição do novo presidente da Repúbüca. Recebeu a promessa de uma ajuda. Dias depois, o tesoureiro-chefe do partido comum, o indestrutível homem da mala, discutiria o "quantum", estabelecendo as prestações semanais, fazendo uma única exigência: o destinatário deveria procurar um empresário de multinacional para agradecer a colaboração, mas sem entrarem "detalhes". Tudo feito à risca, o candidato agradeceu os dólares e os recebeu a tempo de lubrificar a própria campanha. Da dívida ficou a dúvida: ele, candidato, recebeu a doação de alguns milhares de dólares, agradeceu "sem entrarem detalhes"e logo suspeitou de que estava agradecendo a doação de 1 milhão de dólares, embora só tenha recebido 100 mil.

  • O novo livro de Scliar

    Leitor compulsivo até os 40 anos, lendo tudo o que podia e não podia, comecei a esmorecer quando meti na cabeça que eu próprio podia escrever livros. Nos últimos tempos, prefiro reler - daí que não estou atualizado com a literatura que agora se fabrica. Mesmo assim, tive um momento de verdade ao ler o último romance de Moacyr Scliar, 'Eu vos abraço, milhões'.

  • A memória que falha

    Estou ficando cismado comigo mesmo. Todos os dias, leio nas folhas ou na internet que os suspeitos de corrupção têm um ponto em comum: todos, sem exceção, invocam o passado de lutas contra o arbítrio, a ditadura, a repressão. Numa carta em que explicou os motivos do pedido de licença do cargo, um senador invocou o seu passado de combate ao regime militar. Nos tempos de FHC, que, como Lula, foi acusado de tolerar a corrupção, seus defensores argumentavam que eles eram perseguidos enquanto seus detratores de então estavam no poder. Impressionante o número de resistentes ao golpe de 1964. Puxo pela memória e constato que ela me trai. Pelo que me lembro, naquele ano foram poucos, pouquíssimos, os que reagiram contra o movimento militar. Mais tarde, em 1968, com o AI-5, o número aumentou consideravelmente, mas coube todo nas celas das PMs e dos DOI-Codis e nos aviões que transportavam os banidos. Mortos e feridos foram bastantes. Humilhados e ofendidos foram muitos. Mas a maioria, pelo que recordo e vejo nos livros e jornais da época, cruzava os braços e tratava de aproveitar o Milagre Brasileiro.

  • Fígado de bacalhau

    Bacalhau tem fígado? Numa época de muitas perguntas e poucas respostas, não colaboro para a paz geral trazendo mais um enigma à consciência de cada um. Jamais me preocupei com o bacalhau, e muito menos com o seu fígado, se acaso ele -o bacalhau- possui um.