Ênio Silveira
São dez anos da morte de Ênio Silveira, o editor que deu ao livro o formato que hoje conhecemos, com os naturais acréscimos de um mercado ao mesmo tempo exigente e complicado.
São dez anos da morte de Ênio Silveira, o editor que deu ao livro o formato que hoje conhecemos, com os naturais acréscimos de um mercado ao mesmo tempo exigente e complicado.
Bons tempos os que vivemos, em que tudo tem prazo de validade e tudo pode ser descartável. Meu pai herdara uma máquina fotográfica do meu avô, foi com ela que registrou os primeiros passos de seus filhos, o batizado, a primeira comunhão, chegou mesmo a fotografar o casamento do irmão mais velho com o mesmo equipamento, que era chamado de "caixote". Ainda tenho fotos tiradas por aquela ancestral das atuais câmaras digitais, que duram o espaço daquelas rosas de Malherbe.
Um dos desejos de minha infância foi habitar um palácio como o de "A Bela e a Fera", evidente que sem a fera. Tinha tudo, do bom e do melhor naquele palácio. As luzes se acendiam à passagem da moça, a mesa estava sempre posta, havia solidão e silêncio, ninguém enchia o saco dela, a fera providenciava tudo e ainda fazia o favor de não aparecer, não queria assustá-la.
A poética universal acaba de ser enriquecida com os versos do hino oficial da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Embora repartição civil, está sendo militarizada aos poucos, como Jorge Zaverucha revelou em recente artigo. Tem até um hino marcial no qual se pode ler (e os interessados podem cantar) a seguinte estrofe:
Reconheço o mau gosto. Mas, quando escrevo para jornais e, às vezes, para mim mesmo, uso palavras ou frases em outra língua, sobretudo a latina, na qual me eduquei e, na maioria das vezes, é a que melhor expressa o que estou pensando ou sentindo.
Fomos informados de que o presidente da República, de calção vermelho, pança respeitável à mostra, descansa uns dias em praia reservada, no uso de um direito que a Constituição e o bom senso aprovam. Ninguém é de ferro.
Há quem considere dramática a falta de assunto na mídia em geral. Evidente que há fatos e situações que merecem noticiário, comentário e até mesmo polêmica, como a lambança do PT e do governo, o que ocupa a mídia há mais de seis meses e, embora arrefecendo a cada dia, ainda dará caldo por outros tantos, pelo menos até a campanha eleitoral engrossar.Desastres pessoais ou coletivos e crimes de repercussão também se desdobram, às vezes à exaustão. Dirão: a mídia não tem culpa, a realidade é assim mesmo, chata e, quando não é chata, é dramática. Que fazer?
Evito comentar livros que estou lendo ou que acabei de ler. Mas é inevitável: acabo sempre falando de alguns, por admiração ou repúdio. "As Entrevistas de Nuremberg", de Leon Goldensohn, não me causou uma coisa ou outra. Médico psiquiatra, o autor entrevistou os 19 réus que chegaram ao tribunal e algumas testemunhas.
Embora nada entenda de política e muito menos de eleições, acompanhando a vida nacional de longe e, ultimamente, com tédio e, não raras vezes, com indignação, atrevo-me a um palpite infeliz neste início de ano eleitoral. Para dizer que não estou, aliás, nunca estive otimista sobre os caminhos que desconfio estarem em gestação.
Mais uma vez contrario a maioria dos entendidos em crises políticas. Pelo que ouço e vejo, nunca houve crise maior do que a provocada pelos escândalos do PT e do governo. Dou de barato que se trata de uma crise assombrosa, que fez e talvez ainda faça estragos por aí, sendo que o maior deles já foi feito e dificilmente será reparado: a quebra da vestalidade do Partido dos Trabalhadores. Por extensão, a perda de substância moral de seu fundador e presidente de honra, que, por acaso, é o atual presidente da República.
Nunca tivemos um presidente que falasse tanto e tamanhamente como Lula. E que tanto e tamanhamente reclamasse da mídia pelas críticas e boicote que alega estar sofrendo. Diz, repete à exaustão, que tudo está no melhor dos mundos, garante que dará futuro paradisíaco ao Brasil e que nunca na história houve um governo tão eficaz, de tanta ação benéfica como o dele.Seguindo as linhas do seu fundador e mestre, o PT sadio, aquele que não participou da lambança, declara-se perplexo e até mesmo indignado com o mau tratamento que vem recebendo da mídia. Em tempos outros e recentes, o partido era o queridinho da mídia, podia-se tudo nas redações, menos criticar o PT.
Não sei quem inventou que ano novo implica em vida nova. Posso garantir que não fui eu. Sou culpado de outros crimes abomináveis, mas não deste, embora não considere o ditado "ano novo vida nova" um crime, mas uma tolice. E, em ambos os casos, não seriam abomináveis.Volta e meia me surpreendo pensando nos adjetivos que entram e saem de moda, como as saias das mulheres e as calças dos homens. "Abominável" saiu de circulação, só se aplica para nomear um homem das neves que, como o Papai Noel e o caixa 2 do PT, têm a existência negada - pelos adultos no caso do Papai Noel, pelo pessoal do governo no caso do caixa 2.
Tive a impressão de que a mídia, sobretudo no segundo semestre do ano que passou, promoveu informalmente um estranho campeonato para saber quem ficou mais indignado, revoltado, enojado com a lambança que marcou a vida pública em geral, e o PT e o governo em particular.
Saltei do carro e comecei a caminhar pela calçada. Um desconhecido vinha em sentido contrário, quando deu comigo fez cara de espanto, quase de estupor. Fosse outra a situação, eu lhe ofereceria um copo d'água, para lhe amenizar o susto. Dizem que um gole faz bem.Poderia também tomar satisfações, afinal, ainda que seja um fantasma, considero-me um fantasma inofensivo. Percebendo que eu também ficara espantado com a reação dele, explicou-se: "Você existe mesmo!"
Jesus Cristo, nosso suposto Salvador, libertando-nos de um suposto pecado original, foi supostamente traído por Judas Iscariotes, que supostamente teria recebido 30 dinheiros pela suposta traição.