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Sociedade bem informada

 

Fomos informados de que o presidente da República, de calção vermelho, pança respeitável à mostra, descansa uns dias em praia reservada, no uso de um direito que a Constituição e o bom senso aprovam. Ninguém é de ferro.


Sua vida não tem sido fácil, sobretudo nos últimos tempos. E se até o Todo-Poderoso descansou no sétimo dia, nada demais que nosso presidente, embora menos poderoso, tenha descanso de suas atribulações. É justo e natural que aproveite momentos de lazer e privacidade.


No dever de bem informar a sociedade, a mídia não faz por menos: instala-se nas proximidades para mostrar o óbvio, o homem comum no seu direito comum de tomar banho de mar. Muita gente toma banho de mar todos os dias, mas a sociedade não liga para isso.


Bem verdade que não se trata de um homem comum, é o presidente da República, a sociedade tem o direito de saber tudo sobre ele. Como teve, há anos, de ver Jacqueline Kennedy tomar banho nua numa praia grega. Em escala mundial, pagãos da Manchúria e cristãos da Indonésia foram informados daquela nudez.


Informar a sociedade é mais do que um direito: é um dever dos meios de comunicação. E em nome desse direito e dever tudo é permitido, por mais desnecessária ou óbvia que seja a informação.


Sempre desconfiei que as informações realmente importantes nunca chegam ou chegam tarde à sociedade. Só para dar um exemplo banal: não sabemos até hoje onde estão os ossos de Dana de Teffé. O jornalismo dito investigativo investiga muito, geralmente o que já está ou foi investigado. Mesmo assim, dificilmente entendemos o que nos acontece.


Dificilmente a sociedade se dá por satisfeita. Quer mais. Sabemos quem matou o Lineu daquela novela que já foi esquecida. Mas não sabemos nem saberemos se o presidente sabia ou não sabia do "mensalão".




Folha de São Paulo (São Paulo) 9/1/2006