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Artigos

  • O sobe-e-desce

    Fui trocar peça de um novo notebook num edifício enorme, no centro do Rio, famoso pela oferta de parafernálias eletrônicas. Os cinco primeiros andares não eram servidos por elevadores, mas por escadas rolantes em imensos halls cheios de gente.

  • Carnaval

    Quando esta crônica sair publicada, a cidade e o mundo estarão naquilo que os entendidos no assunto chamam de "reinado de Momo". Eu estarei longe desse pecado coletivo e chato. Gosto de pecar sozinho e não preciso de muita gente à minha volta para pecar bem e agradavelmente. Compreendo a aflição com que a turba espera pelo Carnaval para fazer aquilo que, normalmente, deveria ser feito o ano todo. Mas não tenho motivos importantes ou desimportantes para esbanjar o precioso suor do meu rosto nestas arenas enfeitadas pela Riotur. Reservo precisamente o meu honesto e santificado suor para cometer outros pecados mais interessantes.

  • O bródio e a cúpula

    A foto foi publicada em todos os jornais. Num restaurante paulista, mesa em fim de jantar, quatro sobas simpáticos, gente de bem em todos os sentidos, armavam a estratégia para escolher o próximo candidato do PSDB à presidência da República. Os nomes são sabidos e os rostos conhecidos: FHC, Serra, Aécio e Tasso.

  • Notícias frescas de Pau Vermelho

    A República de Pau Vermelho está em crise. Seria um pleonasmo, uma vez que as repúblicas irmãs de Pau Vermelho estão sempre em crise e em crise viveram os pauvermelhenses. Desta vez, porém, a crise será para valer. Estão todos cansados de crise e já nem os jornais vendem mais quando o país entra numa delas. Todos estão cheio da crise.

  • O jeito carioca de ser

    Calor de 40 graus, muito sol e muita praia, muita mulher bonita, bumbuns que não precisam de silicone - o Rio está na dele. Junte tudo aos Rollings Stones, à proximidade do Carnaval e ao contraponto da briga na Rocinha entre traficantes e policiais - que todos acabem uns com os outros, para o bem da cidade - e o carioca está vivendo sua "finest hour", meio avacalhada, mas gostosamente sua, intransferível.

  • Elegia à bala perdida

    Nada tenho contra os motoristas de táxi, embora pouco recorra a eles. Mas outro dia, justamente quando houve a última guerra na Rocinha entre dois bandos rivais, dos dois bandos rivais contra a polícia e da polícia contra os dois bandos rivais, precisei ir da praça Quinze ao Leme. Tomei um táxi novinho, ar-refrigerado em bom funcionamento, a licença do motorista com foto respectiva atestando que ele se chamava Gervásio Antônio de Oliveira.

  • Cascas de laranja

    Sempre ouvi dizer que não se deve brincar com a fome. Nem com a própria nem com a dos outros. Por isso mesmo, bem antes dos atuais escândalos que envolveram o governo e o PT logo no início do mandato de Lula, acredito que fui dos primeiros e mais constantes críticos do Fome Zero, que considerei demagógico, assistencialista e inútil.

  • As estátuas falam

    Não sei, parece que foi nada menos do que Freud o primeiro a tentar descobrir o que o "Moisés" de Michelangelo estaria falando ou sentindo quando foi imortalizado naquele formidável mármore que se encontra em Roma, na igreja de São Pedro in Vinculis.Freud dizia que Moisés acabara de descer o monte Sinai, onde recebera as tábuas da lei diretamente do Senhor. Encontra seu povo, que ele salvara do cativeiro e conduzia à Terra da Promissão, numa orgia pagã. Liderados por seu irmão, Aarão, aproveitando a ausência do líder, estão adorando não o Deus que os tirou do cativeiro, mas um Bezerro de Ouro.

  • De idéias e dentes

    Leio o título de matéria publicada em jornais: "FHC acusa Lula de ser mais conservador do que ele". Não é caso para entrar no mérito da questão, no chamado julgamento de valor, que se resume em estabelecer o grau de quanto um e outro são conservadores.

  • A moeda e a expressão

    Na edição de ontem, a Folha publicou a tradução de um artigo intitulado "Liberdade de expressão, moeda inegociável", de Theodore Dalrymple, psiquiatra e escritor inglês, que escreve no "City Journal", de Nova York. Fiando-me na tradução da sempre competente Clara Allain, considerei o artigo confuso, entre o óbvio e o equivocado. Sem falar no título, total e intrinsecamente infeliz.

  • Favas contadas e recontadas

    É raro o dia em que, ao abrir a caixa eletrônica, não encontre, ao lado de esculhambações diversas e merecidas, o pedido de gente aflita, recorrendo ao cronista em busca de uma solução para as coisas que estão acontecendo no Brasil e no mundo.

  • Os Rolling e o Senhor do Bonfim

    Não farei parte dos 2 milhões de fãs dos Rolling Stones que se espremerão nas areias de Copacabana para assistir o show daqueles artistas já combalidos pela idade e pelo repertório. Aliás, alguns jornais afirmam que não serão 2 milhões, apenas 1 milhão, cifra modesta para um megaevento, mas gente pra burro no meu entender.

  • Ainda a liberdade de expressão

    Semana passada, na onda provocada pela charge que envolvia Maomé e o terrorismo, escrevi uma crônica sobre a liberdade de expressão -liberdade fartamente defendida por aqueles que consideram a mídia como valor absoluto, tudo o mais sendo relativo, inclusive a verdade e as verdades. Disse, na ocasião, que liberdade de expressão não é liberdade de opinião, essa, sim, valor próximo de um dos raros absolutos inerentes ao ser humano.

  • O roto e o esfarrapado

    Poderíamos perdoar tudo a FHC, esquecer, mas não perdoar seu governo mais do que suspeito, recheado de escândalos, a criminosa impunidade que bancou e incentivou, chegando a nomear para o STF um advogado que abafou, não com argumentos jurídicos, mas com outro tipo de argumento, todas as CPIs que a nação então exigia.

  • O guarda-chuva e a botânica

    A educação, que geralmente é confundida com ensino, sobretudo aqui no Brasil, nunca foi lá essas coisas entre nós, sendo que o ensino consegue ser pior ainda. Reúne-se 30, 40 alunos numa sala combalida, quase sórdida; durante três, três horas e meia, um professor mal remunerado ensina a correta colocação dos pronomes oblíquos, o nome dos rios da margem esquerda do Amazonas e a data da proclamação da República. Manda os alunos fazerem o dever de casa. Grande parte deles nem tem casa para fazer o dever.