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Artigos

  • Feliz final dos tempos

    O Estado de S. Paulo , em 26/12/2021

    Todos escrevem textos para levantar o astral no fim de ano. Tentei, travei. Chavões, clichês, um Natal cheio de alegrias, amor, solidariedade, mundo novo, nova vida, tempo de esperança? Qual é? Com o que está aí? E com ELE lá! Escrevia, deletava tudo soava falso. Como provocar alento?

  • Desobediência civil

    O Globo, em 26/12/2021

    A decisão de vários governadores e prefeitos pelo país de não acatar a decisão do governo federal de exigir prescrição médica para vacinar contra a Covid-19 crianças de 5 a 11 anos pode ser considerada uma variante da desobediência civil, desenvolvida pelo ativista norte-americano do século XIX Henry David Thoreau, que se insurgiu contra os impostos cobrados para financiar a guerra dos Estados Unidos contra o México e comandou uma reação pública.

  • O jardim dos homens

    O Globo, em 26/12/2021

    Nos jardins de Deus nascem e cabem todas as flores. Menos as que Jair Bolsonaro e seus cupinchas não querem. E como eles ainda não sabem com certeza o que não querem, tentam nos fazer prisioneiros de seus delírios, como esse agora das vacinas pediátricas. Meninos e meninas de 5 a 11 anos não poderão se proteger do vírus, devem se tornar suas vítimas compulsórias. Porque, ninguém sabe.

  • Representação da heterogeneidade do mundo

    Correio do Povo, em 25/12/2021

    Cronista e ficcionista reconhecido, o autor Gilberto Schwartsmann adentrou no ano de 2021 o território da poesia, e em dose dupla. Primeiro, com Divina rima (ilustrações de Zoravia Bettiol), uma criativa apresentação da Comédia de Dante Alighieri, vazada, como o texto-matriz, em tercetos rimados.

  • Sem gosto

    O Globo, em 23/12/2021

    A estratégia do ex-presidente Lula de chamar o ex-tucano Geraldo Alckmin para seu vice aparentemente é boa para dar a sensação ao eleitorado de centro-direita de que seu eventual terceiro governo não será radical. Mas qual é a garantia de que Alckmin representará o grupo político que o apoiava? Qual será o papel dele num governo petista?

  • Expectativa de poder

    O Globo, em 21/12/2021

    O jantar comemorativo do grupo Prerrogativas em homenagem ao ex-presidente Lula se transformou em evento político de relevo, não apenas pela presença de vários líderes da esquerda brasileira, como pelo lançamento informal da chapa Lula-Alckmin à Presidência da República no ano que vem. Há uma diferença imensa, porém, entre defender que a Justiça seja feita ou acusar o ex-juiz Sergio Moro de ter distorcido os processos para condenar o ex-presidente e apoiá-lo publicamente como candidato à Presidência. Individualmente, cada um desses advogados tem o direito de apoiar quem quer que seja, mas o conjunto deles só deveria atuar em defesa de valores e princípios do Direito e da democracia, pois para isso foi formado.

  • Doidos, mas nem tanto

    Os Divergentes, em 19/12/2021

    Algumas figuras populares são adeptas à política. O nosso Sócrates era um dos que sonhava ser eleito para qualquer coisa. Outro, na década de 1950, aqui no Maranhão, era o Paletó.

    Ele dizia sempre: 'Sou o número um das Oposições Coligadas.' Eu ainda o conheci: ele não faltava a nenhuma das reuniões dos nossos partidos políticos.

  • Rio banhando praia

    O Globo, em 19/12/2021

    Entre tantas lições que nos deixou, Glauber Rocha nos ensinou que o cinema, em nenhum momento ou lugar do mundo, se fez ou se fará em paz. Ele também podia nos ter dito o mesmo a propósito da criação artística de um modo geral. A arte é um mundo em que se cria para além do concreto, como uma reação contra o que se passa no mundo real. Quando o futuro lhe dá razão, o artista se torna um deus criador de um mundo que nunca existiu antes dele. Embora não seja, entre nós o único, Glauber é um destes, no pensamento e na ação criadora.

  • Inventar a própria roda

    O Globo, em 19/12/2021

    A falta de opções na disputa presidencial pode ser definida pela atual situação refletida nas pesquisas de opinião, especialmente as das empresas mais bem equipadas, IPEC ( ex-Ibope), e Datafolha. O brasileiro votou em Bolsonaro para tirar o PT, e está votando no ex-presidente Lula para para tirar Bolsonaro do governo. Não apareceu alternativa, a famosa terceira via, que permita acabar com esse jogo de empurra de um lado para outro, que acaba dando errado.

  • Não a Bolsonaro

    O Globo, em 16/12/2021

    A palestra do general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), em que ele diz que tem de se medicar com Lexotan na veia para impedir que o presidente Bolsonaro tome uma atitude radical em relação ao Supremo Tribunal Federal (STF), é mais um desses absurdos que estão se tornando comuns no Brasil de hoje. Em qualquer país normal do mundo, com regras democráticas em vigor, seria um escândalo capaz de provocar a demissão do ministro ou o impedimento do presidente.

  • As agressões e os prêmios

    O Globo, em 14/12/2021

    Equipes da TV Aratu, afiliada do SBT, e da TV Bahia, afiliada da Globo, foram agredidas por segu-ranças e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro neste domingo em Itamaraju, no sul da Bahia, região fortemente atingida pelas chuvas da última semana. O repórter Chico Lopes, da TV Aratu, levou tapa de um funcionário da segurança do presidente. Enquanto ele ameaçava os jornalistas, um apoiador de Bolsonaro furtou o microfone da repórter Camila Marinho, da TV Bahia. Em defesa da colega, Chico reagiu e foi ofendido pelo homem, que, contido por pessoas próximas, seguiu, de longe, proferindo ameaças e ofensas. Bolsonaro chegou a pedir calma ao segurança.

  • Guerra de narrativas

    O Globo, em 14/12/2021

    A verdade, como definiu o austríaco Karl Popper, é inalcançável, o mais perto que se chegue dela é insuficiente. Mas é possível saber quando se apresenta o falso. Outro dia, Ruy Castro escreveu sobre a mudança no sentido das palavras nos dias de hoje, e a mais política delas é “narrativa”, que ganhou a conotação de uma versão falsa sobre determinado assunto. Pois estamos em meio a uma guerra de narrativas na disputa presidencial, que se tornará cada vez mais acirrada à medida que a campanha eleitoral acelere.

  • Mila, sei, fiquei devendo

    O Estado de S. Paulo, em 12/12/2021

    Noite de março de 2010. Na posse de Maria Adelaide Amaral na Academia Paulista de Letras, vi aquela mulher deslumbrante em pé, lá atrás. Corri e abracei Mila Moreira, que me cobrou: 'Quando vai escrever minha história, me conhece tanto. Quantas vezes falamos sobre isso?'. Foi a última vez que nos vimos. Continuava a mesma mulher magra, alta, bonita, sensual: 'Acho que tenho bastante coisa do mundo da moda e da televisão. Ainda me lembro quando à tarde eu ia ao jornal, você estava escrevendo, eu ficava olhando, perguntando, achava incrível ser jornalista. Eu te dizia: ainda vou ser muita coisa. Veja só, eu tinha 15 anos'. Lembrei, anos 1960, ela era pura malícia, riso.

     

  • Moro com estrutura e dinheiro

    O Globo, em 12/12/2021

    Os últimos dias deste ano podem reservar uma definição importante na corrida presidencial a partir do anúncio do União Brasil de apoio à candidatura do ex-juiz Sérgio Moro. Fruto da junção do Democratas (DEM) com o PSL, o novo partido, assim que tiver a autorização para funcionamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), estará apto a oferecer a Moro, do Podemos, uma estrutura financeira e capilaridade nacional, 

  • Glauber Rocha, bárbaro e barroco - parte 2

    O Globo, em 12/12/2021

    Nos dois livros sobre os quais escrevi aqui na semana passada, “Crítica Esparsa” e “O Nascimento dos Deuses”, publicados pela Fundação Clóvis Salgado, do governo de Minas Gerais, com edição organizada por Mateus Araújo, Glauber Rocha, nosso grande cineasta, nos fala sobre o mistério da dor na criação artística. Podemos ouvi-lo como numa montagem de cinema, com as citações do que diz.

    Glauber diz que “Machado de Assis é decadente”, porque “Dom Casmurro, Bentinho e Rubião sofrem e se acabam desesperados”. Fala de uma paixão desbundada desde que viu, em Paris, “Une femme est une femme” e escreveu um artigo com o título de “A mulher de Godard é uma mulher”. No Pasquim, protesta contra filmes “que debocham do povo”. Depois, escreve uma carta para Celso Amorim em que rompe com todos os cineastas brasileiros. Mas diz que o Cinema Novo não vai acabar nunca, porque é a favor do povo. E anuncia um filme que pretende fazer, sobre a viagem que não aconteceu de Kennedy à América do Sul.