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Moro com estrutura e dinheiro

 

Os últimos dias deste ano podem reservar uma definição importante na corrida presidencial a partir do anúncio do União Brasil de apoio à candidatura do ex-juiz Sérgio Moro. Fruto da junção do Democratas (DEM) com o PSL, o novo partido, assim que tiver a autorização para funcionamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), estará apto a oferecer a Moro, do Podemos, uma estrutura financeira e capilaridade nacional, além do tempo de propaganda de rádio e televisão, que poucos candidatos terão. As eleições têm demonstrado, no entanto, que essa estrutura é necessária,  mas não suficiente, para vencer uma campanha presidencial.

O União Brasil nascerá tendo a maior bancada da Câmara, com 81 deputados federais, 53 do PSL e 28 do DEM. A expectativa é que consiga manter a maioria de seus filiados, embora uma ala bolsonarista do PSL possa se bandear para o PL. A boa colocação de Moro nas pesquisas eleitorais servirá de lastro para impedir saídas e agregar possíveis novos deputados à bancada.

De qualquer maneira, como a segunda bancada é a do PT, com 53 deputados, o União Brasil deve permanecer como a maior da Câmara. Outro fator de agregação serão os fundos eleitoral e partidário. Transformado no maior partido através da vitória de Bolsonaro em 2018, o PSL tem direito a R$ 200 milhões do fundo eleitoral, e mais R$ 100 milhões do fundo partidário. Com a fusão com o DEM, o novo partido União Brasil passará a ter R$ 320 milhões no fundo eleitoral e mais R$ 138 milhões de fundo partidário. O partido que chegará mais perto será o PT, que terá  R$ 200 milhões do fundo eleitoral e R$ 82 milhões do fundo partidário.

Confirmada essa decisão, que vem sendo discutida entre os dirigentes dos dois partidos há meses, a candidatura de Sérgio Moro ganharia sustentação nacional, pois o União Brasil será o quarto partido com mais prefeitos no país, nesse caso graças à estrutura regional do DEM, que tem 464 prefeitos, que se juntarão aos 90 do PSL. O União tem base para lançar candidatos competitivos aos governos dos estados de Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rondônia, Santa Catarina e Tocantins.

Nos maiores colégios eleitorais do país, o União Brasil só não tem ainda palanque forte no Rio de Janeiro. Em São Paulo, deve apoiar Rodrigo Garcia, em Minas tenta tirar Romeu Zema do Novo, na Bahia terá ACM Neto, seu secretário-geral, como candidato a governador.  O novo partido indicaria o vice na chapa de Moro, e tem nomes fortes como o próprio ACM Neto, e o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta.

Assim como o PT pensa em Geraldo Alckmin para vice de Lula para aplainar o caminho da centro-esquerda, também a coligação do União Brasil com o Podemos representaria uma chapa de centro-direita mais palatável aos eleitores que, tendo votado em Bolsonaro em 2018, estão decepcionados com a atuação do presidente, que deve ter uma chapa cada vez mais extremista. Mostraria, inclusive, que não é impossível a Moro negociar apoios partidários em termos republicanos, desmontando a advertência do ministro Paulo Guedes que disse recentemente que, Moro presidente, fechará o Congresso ou será impedido por ele.

 Os dias recentes apontam para um recrudescimento da agressividade de Bolsonaro contra o Supremo Tribunal Federal, como única maneira de manter viva a radicalização da campanha eleitoral. A decisão do ministro do STF Luis Roberto Barroso de determinar a adoção do passaporte de vacina para a entrada de estrangeiros no Brasil, como quer a Anvisa, deve marcar uma nova fase conturbada na relação do Executivo com o Judiciário. Assim como a indicação de Paulo Guedes deu à candidatura de Bolsonaro uma roupagem  liberal que encorajou empresários e economistas a apoiá-lo  em 2018, hoje esses mesmos encontram em Moro a alternativa para implementar, com o aval do economista Affonso Celso Pastore, uma política econômica realmente liberal.  

Estariam lançadas as bases para uma candidatura que nasceu já se colocando como a alternativa preferida dos eleitores à polarização Lula x Bolsonaro, como mostram as pesquisas de opinião.

O Globo, 12/12/2021