Data e dados
É irrelevante discutir se o movimento militar de 1964 teve início em 31 de março daquele ano ou no dia seguinte, 1º de abril.
É irrelevante discutir se o movimento militar de 1964 teve início em 31 de março daquele ano ou no dia seguinte, 1º de abril.
Podem não acreditar: nunca fui dado a alucinações, nunca vi fantasmas, nunca ouvi vozes, nunca vi disco-voador. Ultimamente, estou começando a duvidar de uma das minhas certezas pessoais: acho que estou entrando no perigoso terreno das visões.
O caso da moça que deseja morrer por estar há anos numa vida vegetativa transformou-se em assunto que empolgou a opinião pública mundial, o governo e o Judiciário dos Estados Unidos, autoridades religiosas de todos os credos, cientistas e curiosos em geral.
Caíram em cima do Severino porque deu aquilo que os colunistas políticos e assemelhados classificaram de "ultimato" ao presidente da República, a propósito da reforma ministerial que todos queriam, menos o próprio Lula.
Tirante idéias gerais, que incluem o combate à miséria, a luta pela justiça social, pela melhor saúde e educação, idéias que formam o núcleo de qualquer programa de qualquer político, o que se vê na prática, num governo sem metas precisas, é a perda de tempo e de energia a que o presidente da República se obriga para reformar um ministério que nem ele sabe qual deve ser.
Desde que a sociedade passou a defender valores politicamente corretos, não mais se malha o Judas como antigamente. Acredito também, mas sem certeza, que os manuais da Redação de todo o mundo igualmente condenem a velha e gostosa prática da malhação daquele que passou à história (ou à lenda) como o símbolo maior da traição. (Ia dizer "emblemático da traição", mas preferi a fórmula de outros tempos).
A Sexta-Feira Santa me traz algumas recordações, não as de fundo religioso, esmaecidas pela dissipação a que o mundo me levou -eu próprio colaborando para a dissipação, que nada me trouxe de bom. Gostava das cerimônias na antiga catedral do Rio, que fora a capela oficial dos tempos imperiais. Elas quebravam a rotina da vida escolar, tinham muito de teatro, no qual eu participava como figurante mais do que secundário, balançando com a dignidade possível o turíbulo para manter, vermelhas, as brasas que queimariam o incenso que o cardeal nelas derramaria.
Não tenho culpa de considerar Tartarin de Tarascon, de Alphonse Daudet, que transformou um dos livros mais satíricos e até mesmo debochados da novelística universal, numa obra fundamental para conhecer os labirintos do homem, as motivações de dentro que se expressam aqui fora, na comédia ou na tragédia do dia-a-dia. Pensando bem, não é outra a finalidade da literatura.
Jarbas Vasconcelos, governador de Pernambuco, reclamou do esquecimento do nome de Ulysses Guimarães na recente onda de comemorações dos 20 anos de redemocratização nacional.
Na semana passada, comentei que o governo federal, de forma ainda confusa, procura limpar o terreno para a reeleição de Lula em 2006. Essa limpeza de terreno, inclui, além da limpeza, a construção do próprio terreno, se é que existe construção de terreno. Na engenharia, o terreno é pré-existente, necessitando apenas de adequação à obra pretendida, estrada ou edifício. Em política, o terreno precisa ser construído, grão de terra por grão de terra, até formar uma superfície aproveitável.
Não deu outra. Na semana passada, comentando o aumento prometido pelo Severino aos deputados, manifestei-me a favor da medida, achando que os congressistas ganham realmente pouco - opinião que contraria a massa infanto-juvenil e moralista da população brasileira, a mídia em primeiríssimo lugar.
Cena de um filme de Jacques Tati com a qual me identifico: num balneário de classe média, um executivo gordo e careca está boiando no mar, de óculos escuros para se proteger da luminosidade meridional.
Tem vinte e três anos. Às vezes, parece ter menos. É magrinha, mas muito bem-feita de corpo. Mora longe, sei que dá duro para chegar ao trabalho, imagino que, quando volta para casa, às vezes tarde, indo em silêncio, no meio da noite, volta para um mundo que não é dela, nunca foi dela, nada parece mais dela, afinal, qual é a dela? Não me sinto confortável quando penso nisso: qual é a dela? A primeira constatação é simples: a dela é viver, ter direito à vida, à alegria e, a longo prazo, a um futuro.
Semana passada, comentei a troca de críticas entre Lula e FHC, que não chega a ser ainda briga nem um rompimento formal. Sugeri que se desse um pau a cada um e que eles decidissem as divergências numa arena pública e com narração isenta do Galvão Bueno.
Não tenho certeza, mas acho que entre as leituras de Lula ao longo da vida, está o "Tartarin de Tarascon", de Alphonse Daudet, uma das obras-primas que até hoje me encanta quando estou triste, triste de não ter jeito.