Na semana passada, comentei que o governo federal, de forma ainda confusa, procura limpar o terreno para a reeleição de Lula em 2006. Essa limpeza de terreno, inclui, além da limpeza, a construção do próprio terreno, se é que existe construção de terreno. Na engenharia, o terreno é pré-existente, necessitando apenas de adequação à obra pretendida, estrada ou edifício. Em política, o terreno precisa ser construído, grão de terra por grão de terra, até formar uma superfície aproveitável.
Essa superfície está sendo aplainada com a reforma ministerial mais catimbada de nossos fastos republicanos. Mas não é dela que pretendo falar, já a comparei a Tartarin de Tarascon, que anunciou sua ida a África para caçar leões, anunciou tanto que nem precisou partir, toda a Tarascon, inclusive o próprio Tartarin, acreditou que ele já fora e voltara coberto de glória.
Já comentei também a onda federal contra o prefeito do Rio, pelo qual não morro nem vivo de simpatias, mas que todos acreditam, inclusive ele próprio, que pode sair candidato na próxima eleição presidencial.
Em todo o território nacional, incluindo União, Estados e municípios, não há nenhum governo que tenha dado conta dos três problemas fundamentais da nossa realidade: a saúde, a educação e a segurança. Independe até de nomes e de partidos. É o contexto dramático que recheia programas e discursos eleitorais, mas que some pelo ralo dos interesses pessoais de cada governante.
De olhos fechados, basta escolher ao acaso qualquer governador ou prefeito e despejar em cima dele as falhas e até mesmo os crimes com que a saúde, a educação e a segurança são tratadas.
A bola da vez, agora, é o prefeito do Rio, por uma única e bastante razão: quer porque quer ser candidato à Presidência. Contra ele está valendo tudo. Depois chegará a vez de Garotinho e de Alckmin.
Folha de São Paulo (São Paulo) 22/03/2005