Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos

Artigos

  • Palavras como pedras

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 05/04/2005

    Terra é base, dizemos todos. A terra, com suas águas, seus montes, suas árvores, suas flores, suas pedras, seus vulcões. A força da poesia de um Saint-John Perse teve precisamente essa base, dela hauriu seu entendimento geral das coisas. Perse fez questão de visitar as grandes e solitárias extensões de terra do planeta, certo de que ali se achava o significado final da vida.

  • Autran relê Machado

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 29/03/2005

    Há, no conto, uma verdade poética, um tom de música de câmara que o torna uma arte de compreensão, com as palavras que o compõem sugerindo mais do que dizendo. Às vezes, até a prosa ganha o ritmo do verso, com trechos de sete sílabas, ou decassílabos, imiscuindo-se no caminho da narrativa, levando-a ao limite mesmo do poema puro e simples. Assim vejo a obra de narrador realizada por Autran Dourado, que vai mais longe agora com seu livro recente, "As imaginações pecaminosas", em que dá uma nova dimensão ao conto brasileiro.

  • A força de Eliot em português

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 22/03/2005

    Há 40 anos morria o poeta considerado por muitos o ponto culminante da poesia no século XX. Foi T. S. Eliot (1888-1965). Eu o chamaria de poeta mais importante de seu tempo.

  • Permanência de Jorge

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 15/03/2005

    Tenho para mim que três narrativas mais ou menos curtas serão, daqui a alguns séculos, consideradas típicas do clímax que a ficção em prosa alcançou, como sucessora do poema-que-conta-história, no período que veio de Tolstoi aos dias de agora. São "A morte de Ivan Ilyitch", do próprio Tolstoi, o "Velho e o mar", de Ernest Hemingway, e "A morte e a morte de Quincas Berro D'água", de Jorge Amado.

  • O paraíso perdido de Euclides

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 09/03/2005

    Diga-se logo: o paraíso perdido é a Amazônia. Apesar de Alberto Rangel haver chamado a região de Inferno Verde, bastou que lá fosse Euclides da Cunha para descobrirmos que se tratava de um paraíso, embora perdido. Já há dúvidas hoje sobre qual haja sido maior: o Euclides da Cunha do Nordeste ou o Euclides da Amazônia. Não que seja necessária uma opção no caso. Mas é que a evidente importância do lado nordestino da obra euclidiana ofuscou por algum tempo as novidades de seus estudos amazônicos.

  • A volta de Cavalcanti

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 08/03/2005

    Até que enfim aparece entre nós um livro que faz justiça ao brasileiro Alberto Cavalcanti. Tendo sido, como foi, um dos responsáveis pela criação da linguagem cinematográfica no mundo, raras vezes citamos, no Brasil, seu nome como tendo influído poderosamente naquela que antigamente chamávamos de "sétima arte".

  • Presença de Ascendino

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 01/03/2005

    Pertencente ao grupo dos romancistas brasileiros que, no século XX, mais longe foram no exame dos costumes de uma sociedade que se erguia depois da guerra 1939-45, fixou Ascendino Leite para sempre toda uma época de transformação por que passamos a partir do momento em que soldados brasileiros voltaram da Europa e influíram no fim de uma ditadura que nos vinha desde o começo dos anos 30. Em seus romances de então - "A viúva branca", "O salto mortal", "A prisão" - estava um classe média que tomava consciência de que as respostas aos desafios de cada instante deviam ser diferentes.

  • O espaço do autor

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 22/02/2005

    Dos romances publicados no Brasil no século passado, poucos atingiram a pungência de "Lições de abismo", de Gustavo Corção, livro filiado à linha de Cornélio Pena, Lúcio Cardoso e Adonias Filho, cultores de uma ficção que se apega aos acontecimentos internos de uma vida, à essência mesma do que acontece a seres humanos, atendo-se ao significado maior da realidade de um momento, ao redor da qual possam estar gravitando pequenos pedaços de uma realidade maior.

  • Uma tragédia brasileira

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 15/02/2005

    Reportagem, romance, poema, com páginas que misturam homens, objetos, animais, impulsos, máquinas, crueldades, loucuras, sexo desabrido, num completo rompimento de qualquer normalidade que possa dar segurança ao simples existir no dia-a-dia. - esta é talvez a única maneira de se resumir este livro de Márcio Souza sobre a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré.

  • Uma nova poesia

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 01/02/2005

    Até que enfim deparo com um poeta brasileiro que descobre, aproveita e usa as palavras por inteiro, por dentro e por fora, nas suas vogais, nas suas consoantes - isto é naquilo em que a poesia - por ser cântico - se reveste de sons. Isto mesmo: sons, com seu ritmo e sua música. Sons - com suas vogais e suas consoantes da língua portuguesa, com seus "a", "e", "i", "o", "u" e seus fortes batimentos consonantais. É o que faz, em seu livro mais recente, "A rosa anfractuosa", o poeta Fernando Mendes Vianna".

  • A condição humana

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 25/01/2005

    Estudar um livro ou qualquer manifestação literária exclusivamente do ponto de vista estético ou político do momento foi a constante de uma corrente da crítica literária que se avolumou a partir do século XIX. Na linha dessa posição, muita gente se enganou - como se engana ainda hoje - pensando que a vanguarda está aqui quando está lá, lá quando aqui.

  • "DOM QUIXOTE": 400 ANOS

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 18/01/2005

    No mês de janeiro do ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1605, saiu em Madri um livro chamado "El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de la Mancha", composto por Miguel de Cervantes Saavedra (1547-1616). Ao longo dos 400 anos seguintes descobriu-se que Cervantes havia, com ele, inventado um gênero literário: o do romance, tal qual o entendemos hoje.

  • Cervantes, O criador do romance

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 12/01/2005

    Há 400 anos Portugal e Brasil pertenciam à Espanha. Com a morte de D. Sebastião em Alcacer-Kibir e a subida do cardeal D. Henrique ao trono de Portugal, um dos herdeiros passou a ser Felipe II de Espanha, que, afastando outro herdeiro - D. Antonio, do Crato -, passa a ser o soberano de Espanha, Portugal, Brasil e toda a América Latina. Nessa época, em janeiro de 1605, sai em Madri o livro de Dom Miguel de Cervantes Saavedra, Don Quijote de la Mancha.

  • Sexo e morte em romance

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 11/01/2005

    Um dos maiores romancistas vivos do Brasil permanece desconhecido em Mato Grosso, com pelo menos seis romances inéditos guardados na gaveta. É o caso de Ricardo Guilherme Dicke. No fim do século passado (em 1999, exatamente), teve Dicke publicado, em Cuiabá, seu romance "O salário dos poetas", ríspida cavalgada em que tudo acontece, inclusive a bala de prata que mata os déspotas, com um dos personagens sendo coveiro e proclamando que nada existe além da "morte, morte, morte, simplesmente morte, será que existe algo mais?".

  • As elites e o poder

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 04/01/2005

    Hoje é a primeira terça-feira do terceiro ano de Lula no poder. O que foi feito, o que não foi feito, o que poderá ainda ser feito, o que com toda a certeza não se fará mais - tudo aparece nos muitos estudos sobre o assunto publicados recentemente em livros, jornais e revistas. Entre as análises de maior profundidade, atente-se para o livro de Cândido Mendes, "Lula entre a impaciência e a esperança".