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Artigos

  • O novo porta-voz

    0 pontificado de Bento XVI marca-se, nestes meses, por um momento exemplar no contraste entre o ganho de seu desempenho internacional e as tensões internas, despertadas pela pressão de grupos austríacos, dispostos a uma confrontação como não tínhamos notícia desde o bispo Leclerc, trazido, exatamente, ao rebanho, de novo, pelo atual pontífice. E é dentro de um inesperado convite à obediência radical que Bento XVI contempla a realidade desta possível ruptura, diante de uma reflexão amadurecida, frente aos desafios do celibato e da aproximação dos divorciados aos sacramentos. Mas há poucos dias um Papa pôde sentir o peso do catolicismo indo às áreas da América Latina, que entraram, formalmente, no século passado, em choque com a sua tradição católica. Não há que voltar à violência do anticlericalismo e da instalação, há um século, no México, da república de Carranza e Obregón para deparar, hoje, a força do retorno à fé, que faz do país azteca nosso concorrente à dominância do catolicismo no continente.

  • Os Brics dizem a que vêm

    Avança, penosa, no entendimento do novo quadro internacional, uma visão dos Brics transplantada da antiga globalização, permanecendo fiel às polaridades fáceis herdadas da Guerra Fria, e depois, do mundo hegemônico da Era Bush.

  • A democracia e a aposta chinesa

    Continuamos a manter a visão da mudança e da melhoria social universais, a partir da exigência, urbi et orbi, da democracia. A Primavera Árabe mostrou-nos o paradoxo desta crença. Deparamos os casos típicos da Tunísia e do Egito, de como as eleições livres permitiram a torna do fundamentalismo, na clara regressão histórica dos valores da cidadania. Sobretudo, do que se pensava fosse a conquista irrevogável da modernidade, com o avanço do laicismo.

  • O socialista, enfim, sem disfarce

    Não haverá, por certo, comparação à força do pleito democrático francês, que levou à vitória de François Hollande, dos percentuais mínimos de maioria, frente ao esforço de Sarkozy, até a última hora, de levar a melhor na confrontação, e que mereceu, de imediato, a homenagem e o reconhecimento do novo chefe de Estado.

  • O fim da corrupção consentida

    O aprofundamento da democracia, tal como a brasileira, nestes tempos de Dilma, nos leva a conviver com as normalizações, ou seja, com a garantia e a certeza de um avanço institucional sem retrocessos, que nos acena para o advento, afinal, de um Estado de Direito e um exercício efetivo da cidadania política. Ou seja, da consciência do vis-à-vis no criticar e no mobilizar, frente a frente, os atores-sociais, até há pouco entrincheirados do sistema de poder, e no anonimato das grandes corporações, guarnecidas pelo comando da opinião pública.

  • A democracia à busca da Federação

    Repercute, hoje, internacionalmente, o avanço democrático brasileiro, expresso na consolidação do Conselho Nacional de Justiça e no reforço dos direitos humanos, ou, agora, na Comissão da Verdade. Sobretudo, desponta uma nova articulação entre o nosso regime político e o sistema federativo, instalado com a República, mas deixado até nossos dias à margem das mecânicas de centralização do poder. Devemos a Rui Barbosa a implantação na República " do sistema, no estrito transplante do regime americano. Mas chegamos, praticamente, até o novo século sem qualquer regionalização funcional do poder, como evidenciou o regime do "café-com-leite", na Velha República, na troca entre Minas e São Paulo, da nascida instrumentação dos poderes da União.

  • A mudança, mesmo, revide à austeridade

    A nítida aceleração histórica que vivemos nestes dias passa do confronto das crises experimentadas pelo Ocidente desde 2008 à confrontação, inclusive, do modelo capitalista, saída da trintena de ouro do último pós-guerra. E é sintomático, portanto, que a recusa ao enfrentamento vá ao exaspero das soluções fundamentalistas e malthusianas, como a despertada pelos 20% dos eleitores franceses de Marine Le Pen, armando-se para um terceiro round eleitoral nas legislativas e querendo uma mini-França, fora da Europa, com restrições à imigração e, no plano do auxílio internacional, rompendo com a economia europeia.

  • O umbigo chinês

    É a China que nada sabe do Brasil, ou o Brasil que não se dá conta da China? Um dos paradoxos da nova globalização é o quanto os BRICS - os países-chaves da nova conjuntura - estão autocentrados, senão voltados para o seu próprio interior, para a nova prosperidade. É o que se dá, inclusive, com as nações-fulcro da nova realidade emergente. Tanto a China e a índia não vivem de qualquer reciprocidade de perspectiva, mas da diversidade de seu contexto e das soluções que buscam para o seu futuro. Inclusive a prosperidade de ambos não foge a conformismos multisseculares, já que a riqueza hindu se acomoda à coexistência com os párias e com a marginalidade social irrevogável de um quinto de sua população.

  • O bem-vindo anticlímax das eleições municipais

    Não temos, na nossa história republicana, período de continuidade governamental como o dos dois mandatos de Lula e, agora, o de Dilma. Nem estes 77% de apoio à presidenta, de uma nitidez de políticas públicas, a juntar o desenvolvimento e o aprofundamento democrático. A ação de Guido Mantega evidencia a frenagem da crise externa e demonstra, também, a força do mercado brasileiro e a dinâmica acelerada da sua redistribuição de renda. Mas não existe, significativamente, o reforço partidário que recubra o sucesso do situacionismo. Perseveram, a um quadrimestre das eleições, a ambiguidade dos aliancismos, manifestados nos entressaltos de cada dia, do PSD como novo coringa eleitoral de todas as contabilidades da hora. Atenta-se, de outro lado, à firme determinação do PSD, de Eduardo Campos, no único e novo vínculo ideológico partidário, e acenando a uma coesão de forças regionais, a partir do Nordeste, com novo cacife nacional. A perplexidade decisiva, entretanto, reside no fulcro do sistema, representado pela eleição da Prefeitura de São Paulo. Perdura, senão se agudiza, o confronto de Marta com Haddad, levando até a significativa suspensão das atuais alianças, quiçá, aguardando um "volte-face" às vésperas da convenção.

  • Catástrofes ao cronômetro na América Latina

    É absolutamente inédita a declaração do presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, acreditando no próximo desaparecimento do presidente venezuelano. A reação imediata, de acusação de necrofilia, pelo governo de Chávez, mostra, de qualquer forma, a amplitude do risco, às vésperas das novas eleições, de impacto fundamental no norte da América Latina. O surpreendente da declaração de Zoellick é, já, o da sua antevisão do efeito sobre a economia cubana e, sobretudo, nicaraguense; esta, maciçamente dependente do subsídio venezuelano. E aí está a decomposição dos países bolivarianos nas novas contradições enfrentadas pelas dissidências em La Paz, levando ao exílio em massa dos seus opositores, e à acolhida do senador Pinto, no Brasil. O que pode passar, às vezes, despercebida é a inesperada reaparição das Farc, com assassinatos na própria Bogotá. E, tal, no momento em que a Colômbia chega a níveis inesperados de crescimento sob a presidência Santos, num cotejo a longo prazo com Caracas, não fosse, já, o mau presságio sobre a sobrevivência de Chávez.

  • Já a anos-luz da Rio+20

    Os encontros do Rio destes dias evidenciaram uma aceleração intrínseca de uma consciência internacional sobre o futuro do planeta, superando os horizontes das governanças e dos que se viam, apressadamente, como a sociedade civil. Somavam-se, aí, as retóricas da clássica procrastinação dos governos, e das cóleras da hora, do "outro lado" dos Estados, como as ditas ONGs. Não são esses os exclusivos protagonistas do que seja esse inconformismo social difuso e não atendido, que leva às revoluções ou ao encastelamento dos reacionarismos sem volta. O reclame difuso dessas horas foi, exatamente, o da falta de prospectiva, a permitir qualquer expectativa de progressão da Rio+20 a uma Rio+40, contradizendo o marco de 92. Foi quase diáfano o arremedo de protesto, avançado pelos ditos movimentos comunitários da União Europeia, na falta de proposições afirmativas do documento. E nem se espere o consolo dos simulacros de protesto nas ruas do Rio, feito por uma legião estrangeira, de diversos inconformismos, deixados ao minigrito e à sua miniamostragem.

  • O Paraguai fora do Estado de Direito

    A crise do Paraguai põe em causa, do ângulo da maturidade democrática do continente, muito mais do que a mera deposição de Lugo. O paradoxo é que a queda do presidente é perfeitamente constitucional, nos termos da sua Carta Magna. Mas mostra, ao mesmo tempo, o atraso do país, a se lograr, de fato, um Estado de Direito generalizado na América Latina. Falta à Carta paraguaia a garantia elementar da independência entre os Poderes. É inútil que se refira à separação, ou coordenação, e recíproco controle, se aquela primeira condição não é assegurada.

  • Demóstenes e a página virada, de vez

    O mais importante do caso Demóstenes é de ser essa a segunda cassação em 188 anos do Senado na República. É o que mostra a solidez de dois componentes da cultura política brasileira, quais o uso das clientelas políticas na representação e, ao mesmo tempo, o sentido profundamente corporativo de seu exercício. A intangibilidade dos mandatários tomou-se regra interna, contornada pelos escassíssimos casos, também, de renúncia, muitas vezes com o cálculo de pronto regresso ao mandato.

  • Vácuo político

    A surpresa radical das opções de voto em São Paulo é a desse empate entre Serra e Russomano para a disputa da prefeitura. E vêm logo as interrogações: o sucesso do evangélico é de um prestígio em queda de suas aparições constantes na TV e, agora, a só viver da nostalgia da sua presença? Ou vamos a um novo vácuo político ideológico preenchido pelos evangélicos, passados, agora, determinadamente, a um protagonismo eleitoral?

  • A democracia mexicana, para ficar

    A eleição presidencial mexicana da-nos o recado do que seja a maturidade democrática na América Latina, dentro, pode-se já dizer, de um processo irreversível, como pede o mundo da cidadania em que avança o século XXI. Marca, aí, um contraste com os vaivens das repúblicas bolivarianas e a regressão paraguaia a um pré-Estado de Direito. Marque-se, de saída, esta volta do PRI — partido já quase secular —, que assegurou a consciência política do país, o seu laicismo, inclusive a partir da contradição dialética do seu propósito de mudança: o avanço da revolução e, ao mesmo tempo, das instituições.