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O bem-vindo anticlímax das eleições municipais

 

Não temos, na nossa história republicana, período de continuidade governamental como o dos dois mandatos de Lula e, agora, o de Dilma. Nem estes 77% de apoio à presidenta, de uma nitidez de políticas públicas, a juntar o desenvolvimento e o aprofundamento democrático. A ação de Guido Mantega evidencia a frenagem da crise externa e demonstra, também, a força do mercado brasileiro e a dinâmica acelerada da sua redistribuição de renda. Mas não existe, significativamente, o reforço partidário que recubra o sucesso do situacionismo. Perseveram, a um quadrimestre das eleições, a ambiguidade dos aliancismos, manifestados nos entressaltos de cada dia, do PSD como novo coringa eleitoral de todas as contabilidades da hora. Atenta-se, de outro lado, à firme determinação do PSD, de Eduardo Campos, no único e novo vínculo ideológico partidário, e acenando a uma coesão de forças regionais, a partir do Nordeste, com novo cacife nacional. A perplexidade decisiva, entretanto, reside no fulcro do sistema, representado pela eleição da Prefeitura de São Paulo. Perdura, senão se agudiza, o confronto de Marta com Haddad, levando até a significativa suspensão das atuais alianças, quiçá, aguardando um "volte-face" às vésperas da convenção.

Mas, nos presságios desse jogo de forças diante da massacrada, senão, cínica, opinião pública, não haverá como superestimar, tal como faz a oposição, a importância do julgamento do mensalão. O moralismo é sempre a crise da hora, sem memória, no desconforto cidadão, e hoje voltado para o caso Demóstenes. E, aí, a estarmos prestes ao regresso ao "tudo bem", com a prevista ressurgência corporativa do Senado, e a manutenção do seu mandato. Poucas vezes foi tão grande o fosso entre os presságios do pleito municipal e a dinâmica federal do situacionismo e o sucesso. E, quem sabe, se, como muitos pensam, a bem do planejamento nacional bem-sucedido, seria este o momento de se garantirem as emendas constitucionais que asseguram à Federação o comando das políticas sociais deixadas pela Carta de 88, ao plano dos Estados e Municípios, nas áreas críticas da educação, da saúde e da moradia. Quem sabe, também, se o inextricável mosaico do aliancismo municipal de agora não vai, frente a esse desafio, avançar a nossa democracia, definindo, de vez, as novas vigências do federalismo diante do desenvolvimento nacional?

Jornal do Commercio (RJ), 15/6/2012