Não haverá, por certo, comparação à força do pleito democrático francês, que levou à vitória de François Hollande, dos percentuais mínimos de maioria, frente ao esforço de Sarkozy, até a última hora, de levar a melhor na confrontação, e que mereceu, de imediato, a homenagem e o reconhecimento do novo chefe de Estado.
Mas a vitória mostrou, ao mesmo tempo, o risco da real alternativa, que é a de Marine Le Pen, a considerar-se que ainda está, pela frente, o terceiro turno deste pleito, concentrado na eleição do novo Legislativo. E a direitista não poupa as palavras, no dizer que o avanço de seu partido representará a completa ruptura do país com a Europa, a política radical contra as migrações, e o novo fundamentalismo nacional e irredutível do povo francês.
Salientou, ao mesmo tempo, a vinculação entre o conservadorismo e a austeridade, do quanto a saída da inércia reclamaria, já, um esforço de redistribuição da renda no quadro da crise, e na aposta de vencê-la, no que é próprio da sua ideologia, e das desestabilizações criadoras.
Buscando todo o simbolismo das suas origens municipais, em Corrèze, François Hollande insistiu sobre o enraizamento profundo da sua campanha pela torna da esquerda, e do quanto vinha finalmente ao êxito, depois das últimas duas derrotas eleitorais.
No anúncio do seu recado, insistiu em fugir às frases óbvias dos vencedores, ou a repetir, de maneira abstrata, os dísticos da Revolução - liberdade, igauldade e fraternidade - para dedicar os próximos cinco anos aos "dois jotas": justiça e juventude. Seria inevitável falar dos valores, na fatalidade de todo discurso político, e nele, do quanto o escape à fratura entre direita e esquerda vem à insossa invocação da crença na República. E, prescindíveis, como incorporadas ao próprio inconsciente coletivo francês, se tornavam quaisquer invocações à democracia ou o Estado de Direito.
Primeira fase do presidente eleito, voltou-se, sim, para o compromisso com a mudança. E não a deixou num vago de todas as retóricas. Mas, de pronto, disse que é, sem escape ou concessão, a de um socialista que chega, de fato e de vez, ao Palácio do Eliseu.
Jornal do Commercio (RJ), 11/5/2012