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Catástrofes ao cronômetro na América Latina

 

É absolutamente inédita a declaração do presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, acreditando no próximo desaparecimento do presidente venezuelano. A reação imediata, de acusação de necrofilia, pelo governo de Chávez, mostra, de qualquer forma, a amplitude do risco, às vésperas das novas eleições, de impacto fundamental no norte da América Latina. O surpreendente da declaração de Zoellick é, já, o da sua antevisão do efeito sobre a economia cubana e, sobretudo, nicaraguense; esta, maciçamente dependente do subsídio venezuelano. E aí está a decomposição dos países bolivarianos nas novas contradições enfrentadas pelas dissidências em La Paz, levando ao exílio em massa dos seus opositores, e à acolhida do senador Pinto, no Brasil. O que pode passar, às vezes, despercebida é a inesperada reaparição das Farc, com assassinatos na própria Bogotá. E, tal, no momento em que a Colômbia chega a níveis inesperados de crescimento sob a presidência Santos, num cotejo a longo prazo com Caracas, não fosse, já, o mau presságio sobre a sobrevivência de Chávez.

Que é este novo arranco do núcleo de subversão mais antigo e permanente da América Latina senão a sua alegada vinculação às novas rotas do tráfico de entorpecentes, nas pontas de plantio da coca da Bolívia e do Paraguai? Parecem confluir, agora, os caminhos andinos e os mexicanos. Ao mesmo tempo, avançam, sobretudo nos EUA, as campanhas de descriminalização das drogas, de par com o novo e alto investimento do governo Obama no tratamento da addiction, na vigorosa política de reintegração social dos atingidos. E qual a consciência desta problemática na Rio+20? O ex-presidente Gorbachev tem toda a razão no assinalar a ausência dessa prioridade, frente à retórica exausta, no tratamento do ambientalismo e da economia destrutiva de recursos naturais. E a preocupação que mal emergiu da Rio + 20 é a de nos darmos conta de que a alternativa ao mundo do fluir desenfreado é o da fuga sem volta à consciência, no nirvana e na oblivion da droga generalizada.

Por outro lado, ainda, e a exibir a debilidade crescente das relações do Mercosul, a Argentina esquiva-se de toda a discussão econômica continental, escapando para a condenação do domínio britânico sobre as Malvinas. E é um Brasil, cada vez mais protagonista dos Brics, que se alça, de vez, a uma desenvoltura internacional, na sua projeção africana, aí, já, na competição em Angola, com a própria China, nesta nova visão da globalização, saída, de vez, das hegemonias de ainda uma década.

Jornal do Commercio (RJ), 22/6/2012