Imperdível
Zero Hora (RS), em 19/10/2008
Jorge Amado costumava me dizer que, quando cedia os direitos de um texto seu para adaptação (cinema, tevê, teatro), esquecia que era o autor. Isso porque, argumentava, o diretor acabaria fazendo aquilo que achava melhor, um direito que Jorge aliás reconhecia. Com os anos, aprendi que o grande escritor baiano tinha razão. Muitos de meus textos foram adaptados com resultados muito variáveis. Os direitos de O Centauro no Jardim foram vendidos, por um agente literário, a uma produtora de Hollywood. Eu não tinha a menor idéia do que fariam para adaptar à tela um livro cujo principal personagem é metade homem e metade cavalo. E eles, constatei depois, também não: o filme nunca foi realizado. Mas, na Alemanha, a história gerou uma peça de teatro, e a atriz que fazia o papel de centauro conseguiu a façanha de caminhar pelo palco – sem fantasia, sem nada – como se fosse um centauro. Um resultado inesperado.