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Os jovens e seus pais

 

Tempos atrás, escrevi aqui em ZH um texto (depois publicado no livro Um País Chamado Infância, Ed. Ática) intitulado Oração de um Pai.


Nele, um pai pedia a Deus ajuda para cumprir sua missão. Pois a professora Angelita Cruz (Colégio Liberato Salzano Vieira da Cunha), uma dessas criativas mestras que estão renovando o ensino da literatura, sugeriu a seus alunos que fizessem a Oração do Filho.


Mandou-me trechos desses trabalhos, que comovem pela sinceridade e mostram que, ao contrário do que se pensa, os jovens preocupam-se profundamente com seus pais e com a família, sobretudo no que se refere às difíceis relações pessoais.


“Me ajuda, Senhor, a fazer com que minha mãe e meu pai se entendam”; “Senhor, dá-me paciência para agüentar as brigas dos meus pais”; “Dá-me, Senhor, forças para agüentar o meu irmão”; “Dá-me forças, Senhor, para entender meu pai; “Dá-me, Senhor, ajuda para que minha mãe pare de fumar”; “Dá-me, Senhor, ajuda para que minha avó e minha tia parem de brigar”. Às vezes, o pedido surpreende: “Dá-me, Senhor, paciência para agüentar o meu cachorro”.


Pergunta: além de falar com Deus, não seria o caso de as pessoas da família falarem entre si, de abrirem seus corações, de expressar seus sentimentos? Será que isso não melhoraria a situação familiar, nela incluído o insuportável cachorro? Talvez seja esta a mensagem mais importante oculta na oração dos filhos.


Cartas


Um dia ainda vou publicar uma coletânea das cartas e e-mails que recebo aqui em ZH, assinadas por pessoas inteligentes, cultas e sensíveis. Registro as mensagens de Roseli Gertum Becker, do Dr. Luiz E. Pellanda, da psicóloga Anna Claudia Moreira, do professor da UFRGS José Fernando Piva Lobato, de Luciana Sob, do fotógrafo Rafael Antunes do Canto, do desembargador Sérgio Gischkow Pereira, do Bento Porto, do farmacêutico Ricardo Bueno, da Anna Pereira, do Dr. Mario Wagner, de Cleomar Oliveira Rodrigues, de Heloísa Schüler (que contesta as campanhas de vacinação), do Sérgio Alves Teixeira, do Wilson Santos, de Luzia Carvalho de Souza, de Benhur Oliveira Branco, de Leandro Pereira, de Raquel Kahan Martini, de Renato Freitag, de Arthur GolgoLucas.


A propósito de um texto que escrevi na Folha de S. Paulo, tendo como tema os políticos que recebem um único voto (o que, dependendo do caso, pode até ser demasiado), escreve-me o Dr. José Diogo Cyrillo: “Quando da eleição do presidente Artur Bernardes, conterrâneo nosso, residente em Santiago (à época do Boqueirão), teria votado em Bernardes e lascou telegrama, noticiando o seu voto. Quando as urnas se abriram, havia um solitário voto para o eleito, na mencionada localidade. Reza a lenda que Bernardes, em sinal de reconhecimento, nomeou o solitário/solidário eleitor Coletor Federal.” Isto é o que se chama de voto útil, José Diogo.


Sobre matéria em que falei do radicalismo da esquerda no passado, conta o Valdo Barcelos, que foi militante de esquerda desde os 13 anos: “Chegamos ao ponto, certa vez, de discutir numa página central dupla de nosso jornal comunista se sexo era coisa da burguesia. Pode?”. Poder, pode, Valdo, mas a pergunta é se isso ajudou a esquerda. Pelo jeito, não.


A respeito da crônica que escrevi acerca do Dia do Professor, contando sobre uma senhora que escapou de ser roubada porque um dos assaltantes identificou-a como professora, Eli Alves da Silva, Augusto de Souza Alves, Marileia Battistello e a professora Carmen Salvi têm uma outra interpretação: acham que o assalto não ocorreu porque os delinqüentes sabem que os professores ganham pouco. Certo, gente, mas como filho de professora, como professor, e como fã de professores, prefiro acreditar que isso foi também um ato de repeito ao magistério.


O Dr. Douglas de Morais Garcez, médico nefrologista, tem uma inusitada tese: quanto mais consoantes no sobrenome, maior a chance de câncer de pele. Explicação: sobrenomes com muitas consoantes são característicos do norte da Europa, onde as pessoas têm pele mais clara – e, ao emigrar para o trópico, são mais sensíveis às radiações solares cancerígenas. Hipócrates gostaria dessa, Douglas.


Nomes que condicionam destinos. O Dr. Telmo Kiguel encontrou referência a um médico argentino especialista em circuncisão. Nome do doutor: Roberto Picovsky. *** Já o Elio Estery leu, na revista Exame, sobre um executivo argentino que, comandando a reestruturação da Telefônica no Brasil, já demitiu 40 diretores. Nome: Luiz Malvido. Malvado, mal-visto ou ambos, Elio? *** E o Nilson Souza, grande editor aqui de ZH, grande cronista e grande pessoa, anotou o nome do Sub-diretor do Presídio Central de Porto Alegre: Gelson Luiz Guarda. Bota vocação nesse sobrenome. *** Finalmente, temos esse economista americano, importante figura do Banco Mundial. Nome dele? David Dollar. Ao menos aqui no Brasil ele certamente está em alta.


Zero Hora (RS) 26/10/2008

Zero Hora (RS), 26/10/2008