Homens têm medo. Melhor dizendo, homens têm medos, vários tipos de temores. Não apenas os habituais: medo da morte, medo da doença, medo de assalto, medo do toque retal para exame da próstata. Homens têm medos mais sutis, muitos deles relacionados às mulheres. Poderia parecer um paradoxo, visto que as mulheres são habitualmente rotuladas como frágeis. Mas mulheres estão longe de ser frágeis, sobretudo as mulheres de hoje, valentes, determinadas, mulheres que lutam por seu lugar no mercado de trabalho e que inclusive vivem mais que os homens. Os homens têm medo de se envolver com mulheres, têm medo da intimidade, têm medo de perder o mítico poder masculino. Este medo, às vezes, é patológico, é uma fobia e tem nome(s): ginefobia, fobia de mulheres, e caliginefobia, medo de mulheres bonitas. E, porque têm medo, os homens têm fantasias.
Uma das mais antigas fantasias masculinas é a fantasia da vagina com dentes (em latim: vagina dentata). Faz parte do folclore de muitas antigas culturas, como a dos Maori e de tribos indígenas do Chaco e da Guiana. Segundo esta fantasia, existem mulheres que têm dentes na vagina, o que gera nos homens o temor à castração. Recentemente, este mito inspirou um filme estadunidense, Teeth (Dentes), dirigido por Mitchell Lichtenstein, e que conta a história de Dawn, uma garota que, por razões religiosas, não faz sexo; quando finalmente cede ao desejo, descobre que sua vagina possui dentes afiados, que ela usará nos garotos que a agredirem. O filme, apavorante, foi premiado no Sundance Festival de filmes Cult.
Curiosamente, existem casos, raríssimos, de dentes na vagina. Estes dentes fazem parte daquilo que em medicina denomina-se cistos dermóides, tumores (benignos) que são compostos de uma mistura de tecidos embrionários, entre os quais podem se encontrar dentes. A imagem da mulher “devoradora” também aparece em várias lendas: Lilith, a primeira mulher de Adão, que se rebelou contra ele, as sereias, a lâmia, que é metade mulher e metade serpente.
Por estranhos e penosos que possam parecer esses mitos e esses temores, eles têm pelo menos uma vantagem: mostram que somos todos, homens e mulheres, frágeis, e que a única maneira de vencer nossa fragilidade diante dos agravos da vida, diante da doença e da morte, é pela união entre as pessoas. E a união, por sua vez, só funciona quando existe maturidade. As fantasias e os temores resultam de nosso lado infantil. Podem gerar belas histórias, como o sabem os escritores, mas há um momento em que temos de renunciar à ficção e mergulhar na realidade. Se esta nos diz, como a esfinge disse a Édipo, decifra-me ou te devoro, temos de aprender a decifrá-la. Ser devorado, por uma boca faminta ou por uma vagina idem, não é a melhor opção.
Zero Hora (RS) 05/10/2008